sexta-feira, 22 de agosto de 2014

SABE QUEM FOI JACOB RODRIGUES PEREIRA?

Sabe quem foi Jacob Rodrigues Pereira? Provavelmente não! O nome e os apelidos indiciam um judeu português, mas a sua relevância é pouco conhecida entre nós e dele pouco ou nada se sabe. Nascido em Peniche, no dia 11 de Abril de 1715, no seio de uma família judia com raízes em Chacim Macedo de Cavaleiros, foi levado em criança pelos seus pais para França, no intuito de escaparem às garras da Inquisição, o que os forçou ao exílio. Veio a ser um dos maiores pedagogos e investigadores do Séc. XVIII, foi pioneiro no ensino de surdos-mudos (até ali considerados doentes mentais) e na criação da linguagem gestual, muito antes de Helen Keller (1880-1968) haver nascido e ter inventado o seu alfabeto. Publicou em Paris, no ano de 1762, a sua obra: “Observations sur Les Sourds-Muets”, primeiro trabalho científico alguma vez publicado sobre surdos-mudos e que lhe valeu uma pensão vitalícia por parte do Rei Luís XV. O alfabeto que criou, visível na foto acima, ainda hoje é usado entre os surdos-mudos portugueses e existe um Instituo com o seu nome em Lisboa, fundado em 1834, pioneiro no ensino de surdos em Portugal e hoje integrado na Casa pia de Lisboa, onde pouco ou nada nos adiantem sobre a sua obra e pessoa, não obstante ter em Peniche um monumento.
Os seus descendentes vieram a afrancesar o seu apelido e passaram-no para “Pereire” no início do Sec. XIX. O seu bisneto, Jacob Émile Pereire, parlamentar e banqueiro em Bordéus, foi o responsável pela construção do caminho-de-ferro entre Paris e Saint Germain, vindo mais tarde a fundar, com o seu irmão Isaac, a Societé Générale de Crédit, que viria tornar-se na maior instituição de crédito francesa. Os dois irmãos viriam ainda a criar, em 1855, a Compagnie Général Transatlantique, a primeira empresa marítima francesa a assegurar carreiras de vapor regulares entre New York e Le Havre. O seu navio “Pereire” era ao tempo o mais rápido sobre o Atlântico, assegurando em 1867 a travessia entre a França e os Estados Unidos em apenas 8 dias e 16 horas. Uma Avenida em Paris (próxima dos Campos-Elísios) e uma estação de metro ostentam hoje o nome da Família. Os “Pereire” viriam a converter-se ao catolicismo nos finais do Séc. XIX, forçados pelo anti-semitismo reinante na sociedade gaulesa de então. Um anti-semita confesso, pessoa idolatrada por muitos e odiada por outros tantos, disse há 51 anos atrás: “havemos de chorar os mortos, se os vivos não os merecerem”, o que no caso de Jacob Rodrigues Pereira, apesar de parecer paradoxal, assenta como uma luva, mercê do velho hábito que temos de valorizar o alheio e desprezar o que é nosso, tanto as nossas raízes quanto a nossa história e cultura.

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