Sabe quem foi Jacob Rodrigues Pereira?
Provavelmente não! O nome e os apelidos indiciam um judeu português, mas a sua
relevância é pouco conhecida entre nós e dele pouco ou nada se sabe. Nascido em
Peniche, no dia 11 de Abril de 1715, no seio de uma família judia com
raízes em Chacim / Macedo de Cavaleiros, foi levado em criança pelos seus pais para
França, no intuito de escaparem às garras da Inquisição, o que os forçou ao exílio.
Veio a ser um dos maiores pedagogos e investigadores do Séc. XVIII, foi
pioneiro no ensino de surdos-mudos (até ali considerados doentes mentais) e na
criação da linguagem gestual, muito antes de Helen Keller (1880-1968) haver
nascido e ter inventado o seu alfabeto. Publicou em Paris, no ano de 1762, a sua obra: “Observations
sur Les Sourds-Muets”, primeiro trabalho científico alguma vez publicado sobre
surdos-mudos e que lhe valeu uma pensão vitalícia por parte do Rei Luís XV. O
alfabeto que criou, visível na foto acima, ainda hoje é usado entre os
surdos-mudos portugueses e existe um Instituo com o seu nome em Lisboa, fundado
em 1834, pioneiro no ensino de surdos em Portugal e hoje integrado na Casa pia
de Lisboa, onde pouco ou nada nos adiantem sobre a sua obra e pessoa, não
obstante ter em Peniche um monumento.
Os seus descendentes vieram a afrancesar o seu
apelido e passaram-no para “Pereire” no início do Sec. XIX. O seu bisneto,
Jacob Émile Pereire, parlamentar e banqueiro em Bordéus, foi o responsável pela
construção do caminho-de-ferro entre Paris e Saint Germain, vindo mais tarde a
fundar, com o seu irmão Isaac, a Societé Générale de Crédit, que viria
tornar-se na maior instituição de crédito francesa. Os dois irmãos viriam ainda
a criar, em 1855, a
Compagnie Général Transatlantique, a primeira empresa marítima francesa a
assegurar carreiras de vapor regulares entre New York e Le Havre. O seu navio
“Pereire” era ao tempo o mais rápido sobre o Atlântico, assegurando em 1867
a travessia entre a França e os Estados Unidos em apenas 8
dias e 16 horas. Uma Avenida em Paris (próxima dos Campos-Elísios) e uma
estação de metro ostentam hoje o nome da Família. Os “Pereire” viriam a
converter-se ao catolicismo nos finais do Séc. XIX, forçados pelo
anti-semitismo reinante na sociedade gaulesa de então. Um anti-semita confesso,
pessoa idolatrada por muitos e odiada por outros tantos, disse há 51 anos atrás:
“havemos de chorar os mortos, se os vivos não os merecerem”, o que no caso de Jacob
Rodrigues Pereira, apesar de parecer paradoxal, assenta como uma luva, mercê do
velho hábito que temos de valorizar o alheio e desprezar o que é nosso, tanto
as nossas raízes quanto a nossa história e cultura.
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