domingo, 17 de agosto de 2014

O GATO TEM A PALAVRA!

Se os gatos pudessem expressar-se como nós e lhes fosse dada a palavra, quando questionados acerca dos cães, certamente falariam de genocídio, da terrível mortandade que os lobos familiares têm infligido à sua espécie. E como gatos, acusá-los-iam por desconhecerem a relação causa-efeito, não imputando aos donos a responsabilidade de tais actos. É muito antigo o ódio dos caçadores pelos gatos, porque estes felinos nas zonas rurais e do interior, à imitação do lince, caçam aves e coelhos, tornando-se seus concorrentes, o que os coloca imediatamente na sua lista de inimigos a abater. E como se isto não bastasse, por alturas do “defeso”, nada melhor para aumentar o instinto de presa e a tenacidade na caça do que atiçar os cães a um ou mais gatos afastados de casa! Normalmente os cães saem vencedores daquela luta de predadores e só não sairão se o número de gatos lhes for superior, mas não regressarão incólumes, já que alguns carregarão lesões ou insuficiências para toda a vida, o que poderá impedi-los de voltar a caçar, o que irá aumentar ainda mais a raiva dos caçadores, primeiros responsáveis pelo disparate.
Apartando-nos disso, importa falar sobre a coabitação entre cães e gatos, sabendo-se de antemão que é mais fácil controlar um cão do que um gato. O gato tem tudo o que um cão precisa para lhe dar caça, porque provoca, mostra-se bem e põe-se em fuga. No entanto a sua coabitação é possível e pode ser plena, desde que se observem determinadas regras. A maneira mais fácil de os familiarizar e sociabilizar passa por adquiri-los em simultâneo e com idades aproximadas, o que facilitará a identificação comum e a amizade entre ambos, sem os entraves territoriais que despontam num e noutro com o crescimento.
As cadelas aceitam com mais facilidade um gatinho recém-chegado, ao ponto de criarem leite para o amamentarem. Contudo, essa aceitação irá depender da liderança dos donos e das regras que adoptarem. Uma delas é dar-lhes de comer em separado e a outra é a de fomentar o seu convívio, mostrando para a cadela que o gato nos pertence e que  faz parte nosso grupo, apresentando-o várias vezes na nossa presença, conservando-o ao colo e depois junto dela. No princípio do relacionamento importa proteger o gatinho, que só deverá brincar com a cadela debaixo da nossa supervisão. Passados alguns dias a aceitação será plena e a cadela adoptará o bichano (já vimos cães e gatos a caçar em conjunto).
Os cães correctamente ensinados, porque a sociabilização abrange o salutar convívio com homens, cães e outros animais, aceitarão sem maiores reservas um gatinho, podendo mostrar-se reticentes perante a chegada de um gato adulto, invasor do seu território, esquivo e de atitudes inesperadas que aparece e desaparece quando menos se espera. Para quem já tem um cão e pretende adquirir um gato, é melhor adoptar um gatinho do que um gato já feito, até porque um felino nestas condições não morrerá de amores pelo cão, fugirá da sua presença e esconder-se-á amiúde, podendo atacá-lo de surpresa e causar-lhe algum dano (o contrário também pode suceder).
Quando já se tem um gato adulto e se pretende adquirir um cão, importa proteger o cachorro dos ataques do felino, que pode inclusive cegá-lo. Os gatos castrados nesta situação poderão vir a reagir do mesmo modo, pelo que importa estar atento e repreendê-los quantas vezes forem necessárias, não dispensando a coerção se tal se justificar. Com o dono atento e o gato em “sentido”, por força da habituação, a coabitação virá a suceder. É possível acontecerem algumas escaramuças, pelo que importa estar alerta para se evitarem males maiores e não alimentar a antipatia entre ambos. Se agirmos correctamente, o cão virá a afeiçoar-se ao gato, a tornar-se seu companheiro e a defendê-lo.
Se tivermos um gato adulto e adoptarmos um cão também adulto, a coabitação entre eles será mais difícil e demorada, porque o gato defenderá o seu território com “unhas e dentes” e o cão tudo fará para o desalojar. Se houver essa possibilidade, devem ser atribuídos para ambos regras de protecção e territórios diferentes, para facilitar a familiarização que induz à tolerância e à futura coabitação sem maiores atropelos de parte a parte.
De qualquer forma a coabitação entre cães e gatos é possível e muitos dos nosso leitores podem prová-lo. A estratégia que melhor serve os nosso intentos passa por adquirir ambos antes dos 4 meses de idade, para que a integração seja quase automática e plena. Na Acendura Brava sempre tivemos gatos a circular dentro da pista táctica, a descansar sobre os obstáculos e indiferentes aos cães, que chegavam a passar por cima deles sem os incomodar. Havia inclusive um obstáculo vertical designado por “gaiola do gato”, constante do perímetro exterior, onde os gatos dormiam e os cães saltavam-lhes por cima sem se deterem. Dos muitos gatos que ficaram famosos nas nossas hostes, o “PM” foi o que mais se evidenciou, um siamês que procurava a companhia dos cães e que descia com eles para a pista, chegando a segui-los na transposição dos obstáculos. Sobre este assunto adiantaremos mais subsídios a quem nos solicitar.

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