Ignorámos até hoje a causa de muitas mais-valias e hábitos caninos,
fenómenos que explicámos como se recebessem rádio emanações (por via da
necessidade de sobrevivência) ou não encontrando outra explicação científica,
simplesmente os remetemos para a percepção extra-sensorial. Recentemente,
investigadores alemães e checos chegaram à conclusão que o rodopiar dos cães,
antes de defecarem, deve-se à necessidade de se alinharem com o eixo magnético
da Terra, o que os torna magnetosensíveis e sujeitos a perturbação, quando este
sofre a mais leve alteração. O campo magnético terrestre assemelha-se a um
dipolo magnético com os seus polos próximos dos geográficos terrestres.
Distantes
desta conclusão, por nos faltar erudição e não nos havermos lembrado da
bússola, decidimos, ao longo de duas décadas, estabelecer um paralelo entre o
sentido desse rodopiar e o comportamento laboral dos cães que observámos, cerca
de trezentos, de ambos os sexos e de distintos escalões etários, pertencentes a
quatro grupos morfológicos diferentes e todos eles treinados, já que uns viravam
as suas cabeças para norte e os outros para sul (explicação científica ainda
não desvendada), uns rodopiavam segundo o movimento dos ponteiros do relógio e
outros contra ele. Entre outras coisas, verificámos não haver alteração do
sentido tomado pelos indivíduos e quando o houve, tal se ficou a dever a
estados de ansiedade ou a distúrbios gastrointestinais passageiros. Com o
avolumar da observação, conseguimos identificar díspares características físicas,
psicológicas cognitivas e laborais, associadas a cada um dos sentidos, para
além de aspectos ligados à longevidade dos cães observados, conclusões que dividiremos
agora com os nossos leitores.
Os cães que
ordinariamente rodopiavam no sentido dos ponteiros do relógio, cerca de 1/4 do total dos indivíduos observados, fenómeno mais comum
entre os machos, foram os menos rústicos, mais ansiosos, menos seguros e
carentes de afecção, de médio impulso ao alimento, menos concentrados, mais
disponíveis do ponto de vista físico do que do cognitivo (descuidados e
destravados), tendentes a seguir os círculos odoríferos e sujeitos à distracção.
Grande número deles, cerca de 1/4, veio a
manifestar sintomas de senilidade logo aos 8 anos de idade e um conjunto de achaques
atribuídos ao desgaste (envelhecimento precoce e degeneração do sistema nervoso).
Entre eles manifestaram-se algumas excepções, talvez as mesmas visíveis nos
atiradores canhotos humanos, que quando bons não há igual, mas que
maioritariamente são de má pontaria. Contudo, porque todos os cães observados
obedeceram a uma pré-selecção para o trabalho, é possível que as conclusões a
que chegámos pequem por alguma artificialidade.
Já os cães
que rodopiavam contra o sentido dos ponteiros do relógio, cerca de 75%
dos indivíduos observados, mostraram ser os mais resistentes, seguros e
concentrados, portadores de maior autonomia, com maior disponibilidade
cognitiva e maior impulso ao alimento do que os outros, melhores pisteiros e
com maior longevidade, tanto laboral quanto específica. Neste grupo de
indivíduos foi detectada uma tendência cancerígena maior do que no outro grupo,
já que 15% deles (20), ou foi sujeito a intervenção cirúrgica ou morreu dessa
causa. Tivemos o cuidado de seleccionar cães de raças diferentes e de verificar
que em nenhuma delas a consanguinidade e a endogamia se fizeram presentes, directa
ou indirectamente.
Este
estudo caseiro acabou também por influenciar na escolha dos cachorros que
adquirimos para as mais variadas disciplinas cinotécnicas e o seu contributo
foi-nos grato, uma vez que logo após o desmame, os cachorros já optam pelo
sentido do seu rodopiar e irão mantê-lo ao longo da vida. A nossa preferência
recaiu, sempre que possível, sobre os que rodopiavam contra os ponteiros do
relógio e nunca nos demos mal, muito embora não fosse esse o primeiro dos
critérios para a sua adopção ou selecção. Por causa de melhor conhecer os cães
que treinámos, nunca optámos por um espaço exterior à pista para que ali
defecassem, antes aproveitámos os minutos de relax anteriores às aulas para
melhor os observarmos, momentos em que os seus donos se questionavam acerca
daquilo que nos ia pela cabeça. Amanhã, outros mais doutos do que nós,
estabelecerão uma relação mais científica e por conseguinte mais tangente e
objectiva.
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