Será Deus
português? O das Escrituras consta que nasceu no médio-oriente, mas pode ser
que haja outro, nascido aqui e que por cá ande, mais perto de Apolo, dado a
vaticínios e oráculos, uma divindade alimentada pelos celtas, adoptada pelos visigodos,
rebuscada pelos mouros fatimidas, tornada loa pela religiosidade popular,
ladainha recorrente entre os adoradores do “Rap” (por consequência enraizada na
cultura “hip hop”), identificada com a sorte e nalguns casos como “deus-dará”,
potestade que sujeita os seus ao destino e que condena os cães a andar sem
dono, que se diz ser criadora, distante do deus das entranhas hebraico e que
habita dentro da cada um nós, não se sabe onde (julga-se que na alma), afastada
de Emanuel e da sua Redenção, pródiga em nos legar um rosário de penas, de dor
e de pranto, que põe alguns a cantar para espantar os seus males, cuja
descrição mais erudita pode ser encontrada nos versos de Alberto Janes, quando
compôs o fado “Foi Deus”.
Este tipo de fezada, de
remeter para a sorte o que é obrigação de cada um e depois aceitar isso como
fruto do destino, expresso na exclamação “logo se vê”, torna muitos portugueses
confiados e acaba por vitimá-los, a eles e aos que se encontram aos seus
cuidados, nomeadamente os cães, animais que concorrem desnecessariamente a um
“masbaha” de perigos, que poderão ir do contágio ao envenenamento e da
mutilação até à morte, prática que uma vez transformada em compêndio,
facilmente alcançaria o título de: “99 maneiras para matar o seu cão”!
Não é difícil
estabelecer a relação entre donos precavidos e cães protegidos, como também não
é difícil compreender a existente entre donos confiados e cães desgraçados.
Infelizmente o segundo caso é mais frequente entre nós! Vamos ver com procedem
os donos de uma categoria e de outra na hora de soltar os cães. O confiado
solta o seu cão por toda a parte, espera que o animal se desenrasque e está-se
marimbando para os danos que ele possa causar ou de que venha a ser vítima,
deleita-se com as correrias dele, confia na sorte e goza o momento, como se o
mundo parasse com a entrada do seu cão em cena.
Já o precavido procede doutra
maneira, só solta o seu cão nos jardins públicos quando tem absoluta certeza
que o animal não se afasta de si e que responde incondicionalmente à sua
chamada. Ainda antes de o soltar, certifica-se que não existem crianças
pequenas a jogar à bola, turistas deitados na relva, outros cães à solta,
idosos a circular, grupos a lanchar, caixotes do lixo a transbordar, obstáculos
naturais ou artificiais perigosos e excesso de skates e bicicletas,
deslocando-se para áreas menos concorridas e distantes dos trilhos e das
estradas.
Quando o
confiado vai de viagem e encontra um bosque, encosta o carro numa sombra, solta
o cão e relaxa. Na mesma situação, o precavido sai com o cão, bate aquele
território com o animal atrelado e só depois de assegurada a segurança do
animal é que o solta. Feliz é o cão que tem um dono precavido, desgraçado é o
cão que tem um dono confiado, porque o primeiro é protegido e o segundo é
abandonado à sua sorte. Em tempos idos havia um slogan publicitário que nos vem
agora à memória, relativo à segurança nas praias, da autoria do poeta Alexandre
O’Neill e que dizia: “Há mar e mar, para ir e voltar”. Pegando na frase deste
surrealista luso já falecido e pensando na salvaguarda dos cães, apraz-nos
complementar: “ Quando soltar o seu cão, certifique-se que ele vai voltar”,
certeza reforçada pelo seu cuidado, enquanto dono do animal e primeiro
responsável pela sua vida.
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