sexta-feira, 29 de agosto de 2014

FUGA PARA A LIBERDADE

Escavar é um acto natural e instintivo nos cães, uma tendência que tem dado cabo da cabeça a muitos donos, mercê das crateras perpetradas pelos seus companheiros de quatro patas. Quanto mais fofo ou solto for um piso, mais depressa ficará esburacado, especialmente se estiver húmido ou molhado, o que transforma canteiros, espaços relvados e vasos em alvos preferenciais para os cães. Para acabar com essa tendência nos tapetes de relva e nos canteiros, há que aproveitar os buracos abertos e colocar dentro deles os dejectos do próprio cão, tapando-os de seguida, evitando assim que ali voltem. O acto de escavar canino deve ser aproveitado no adestramento como parte das manobras de evasão, como subsídio de fuga para os cães indevidamente encarcerados por alheios, quando o socorro dos donos isso exigir e como complemento de tarefas ligadas à procura e detecção.
Ao escavar deverá ser adicionada a ordem de “fura”, comando utilizado a grosso modo pelos condutores de agility, quando pretendem encaminhar os seus cães para túneis e mangas. Como nunca desprezámos o escavar canino, para não estabelecer confusão nos cães, sempre usámos o comando de “abaixo” para os obstáculos atrás mencionados. O simples facto de se ordenar o escavar, irá impedir os cães de o fazerem automática e arbitrariamente, muito embora se sintam mais tentados a fazê-lo depois de períodos de chuva intensa, auxílio que aproveitarão para romper os pisos mais duros.
Se há cães que adoram escavar, outros há que jamais se valerão desse requisito atávico, muito embora todos necessitem dele para a sua salvaguarda. Para se ensinar um cão a escavar, a maneira mais fácil para o conseguir é enterrar o seu brinquedo de eleição na areia (com o cão a ver), tapando-o depois levemente. Usaremos primeiro o comando de “busca” e depois da detecção o de “fura”, no mesmo instante em que o animal começa a escavar. Alguns cães irão necessitar de uma pequena ajuda. Não nos restando outra opção, iremos ser obrigados a dar-lhe o exemplo, escavando nós primeiro, para que compreendam o que queremos e o modo de o fazer.
As cadelas prenhes que normalmente se encontram soltas nos jardins, apesar de terem já uma maternidade para o parto, irão preferir parir ao ar livre, fazendo um buraco onde lhes aprouver, para se valerem da força da gravidade para a expulsão dos cachorrinhos e escondê-los dos demais. Os cães de tonalidade escura uniforme e os de pelagem mais densa, tendem a escavar buracos e a enfiar-se dentro deles nos dias mais quentes, por demais ventosos, secos ou húmidos, até porque o cão veio da toca e ela é para ele o melhor dos abrigos. Como é óbvio, as casotas são uma invenção humana e muitos cães desprezam-nas pura e simplesmente, porque se sentem vulneráveis pela exposição (a seu tempo, indicaremos qual o lugar ideal para colocar a casota do seu cão).
Muito mais haveria a dizer sobre a importância do escavar canino, assunto que retomaremos quando se tornar urgente e possível. O que importa reter é que esse acto atávico e automático, pode ser aproveitado e transformado pelo adestramento, visando a libertação dos cães e o auxílio dos homens. 

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