Escavar é um acto natural e instintivo nos cães, uma tendência que tem
dado cabo da cabeça a muitos donos, mercê das crateras perpetradas pelos seus
companheiros de quatro patas. Quanto mais fofo ou solto for um piso, mais
depressa ficará esburacado, especialmente se estiver húmido ou molhado, o que
transforma canteiros, espaços relvados e vasos em alvos preferenciais para os
cães. Para acabar com essa tendência nos tapetes de relva e nos canteiros, há
que aproveitar os buracos abertos e colocar dentro deles os dejectos do próprio
cão, tapando-os de seguida, evitando assim que ali voltem. O acto de escavar
canino deve ser aproveitado no adestramento como parte das manobras de evasão,
como subsídio de fuga para os cães indevidamente encarcerados por alheios,
quando o socorro dos donos isso exigir e como complemento de tarefas ligadas à
procura e detecção.
Ao escavar deverá ser adicionada a ordem de “fura”, comando utilizado a
grosso modo pelos condutores de agility, quando pretendem encaminhar os seus
cães para túneis e mangas. Como nunca desprezámos o escavar canino, para não
estabelecer confusão nos cães, sempre usámos o comando de “abaixo” para os
obstáculos atrás mencionados. O simples facto de se ordenar o escavar, irá
impedir os cães de o fazerem automática e arbitrariamente, muito embora se
sintam mais tentados a fazê-lo depois de períodos de chuva intensa, auxílio que
aproveitarão para romper os pisos mais duros.
Se há cães que adoram escavar, outros há que jamais se valerão desse
requisito atávico, muito embora todos necessitem dele para a sua salvaguarda.
Para se ensinar um cão a escavar, a maneira mais fácil para o conseguir é
enterrar o seu brinquedo de eleição na areia (com o cão a ver), tapando-o
depois levemente. Usaremos primeiro o comando de “busca” e depois da detecção o
de “fura”, no mesmo instante em que o animal começa a escavar. Alguns cães irão
necessitar de uma pequena ajuda. Não nos restando outra opção, iremos ser
obrigados a dar-lhe o exemplo, escavando nós primeiro, para que compreendam o
que queremos e o modo de o fazer.
As cadelas
prenhes que normalmente se encontram soltas nos jardins, apesar de terem já uma
maternidade para o parto, irão preferir parir ao ar livre, fazendo um buraco
onde lhes aprouver, para se valerem da força da gravidade para a expulsão dos
cachorrinhos e escondê-los dos demais. Os cães de tonalidade escura uniforme e
os de pelagem mais densa, tendem a escavar buracos e a enfiar-se dentro deles
nos dias mais quentes, por demais ventosos, secos ou húmidos, até porque o cão
veio da toca e ela é para ele o melhor dos abrigos. Como é óbvio, as casotas
são uma invenção humana e muitos cães desprezam-nas pura e simplesmente, porque
se sentem vulneráveis pela exposição (a seu tempo, indicaremos qual o lugar
ideal para colocar a casota do seu cão).
Muito mais haveria a dizer sobre a importância do escavar canino,
assunto que retomaremos quando se tornar urgente e possível. O que importa
reter é que esse acto atávico e automático, pode ser aproveitado e transformado
pelo adestramento, visando a libertação dos cães e o auxílio dos homens.
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