Na hora de escolher um cachorro poucos sabem fazê-lo e acabam por
escolher um que poderá vir a comprometer a desejável coabitação harmoniosa e
transformar a vida de todos lá em casa num inferno, mercê da escolha momentânea
alicerçada numa verdade subjectiva, muitas vezes descrita como “amor à primeira
vista”. Apesar de todos os cachorros parecerem iguais dentro duma ninhada,
ilusão reforçada pela idade e pela identidade racial, eles virão ser profundamente
diferentes entre si e alcançarão comportamentos diversos. Assim, convém
escolher um que melhor se adapte ao seu tipo de agregado familiar e às
condições que tem para lhe oferecer, porque doutro modo, porque a corda rebenta
sempre pelo ponto mais fraco, o animal poderá vir a ser descartado, entregue a
outros e enfrentar um futuro pouco risonho. Se você não se encontrar habilitado
para o fazer, a opção inteligente é munir-se do conselho duma pessoa
experimentada, que o deverá acompanhar na hora da escolha e a quem deverá dar
ouvidos.
Mais do que nos ímpetos dos futuros
proprietários caninos, a escolha deverá considerar os principais impulsos
herdados nos cachorros, para satisfação das expectativas de todos e resguardo
do bem-estar do animal. Os principais impulsos herdados a considerar são os
relativos ao alimento, ao movimento, à defesa, à luta, ao poder e ao
conhecimento, que como é sabido diferem gradativamente de cachorro para cachorro.
Certamente um cachorro sôfrego, explosivo, briguento e que domina sobre os seus
irmãos, não será o companheiro indicado como animal de companhia para crianças,
idosos, gente debilitada ou pacífica.
Um cachorro com as características
atrás mencionadas costuma ser procurado por militares, polícias e outros
profissionais que se dedicam aos cães de guarda, fazendo as suas delícias,
porque irão necessitar de companheiros que comam bem, por serem mais fáceis de
treinar e por alcançarem maior autonomia, que sejam lutadores para garantirem a
defesa de pessoas e bens, também para escorraçarem os intrusos, que se mexam
bem para rondarem as propriedades e nisso serem infatigáveis, que sejam
incorruptíveis e capazes de ripostar perante ameaças e ataques (de
contra-atacar).
Tem sido a procura da excelência nos
impulsos ao alimento, ao movimento, à luta e ao poder, a nortear a criação de
muitas raças caninas descritas como de utilidade, muito embora agora, devido à
lei relativa aos cães perigosos, alguns criadores tenham alterado os seus
critérios de selecção, coagidos pela menor procura e pela consequente baixa de
preços. Para o cidadão comum, que não tem pretensões a “vigilante” e que não se
deleita com “guerras de alecrim e manjerona”, basta um cachorro que seja
mediano nesses impulsos e que tenha um excelente impulso ao conhecimento,
mais-valia que o tornará mais fácil de ensinar e apto para as mais variadas
utilizações, por ser mais observador e fácil de se adaptar.
A nosso ver, uma das grandes lacunas na canicultura mundial, que é em
nós é visceral, tem sido o desprezo pelo desenvolvimento do impulso ao
conhecimento canino, o que tem vindo a tornar obsoletas e menos procuradas
determinadas raças, autênticos dinossauros deste tempo, vendidos por quase nada
e lendas vivas sem aplicação prática. E porque o mundo pula e avança, graças à
necessidade de cães auxiliares, de terapia, de salvamento e resgate, cada vez
mais se valoriza a capacidade de aprendizagem dos cães, oriunda em primeira
instância do seu impulso ao conhecimento. Na Acendura sempre o valorizámos e os
nossos cães sempre deram prova disso. Fomos pioneiros ao usar aqui o método da
precocidade e fizemo-lo para acompanhar os ciclos infantis caninos por via de
experiência variada e rica, aproveitando esse impulso para potenciarmos a
capacidade dos aprendizagem dos cachorros, os que criámos e aqueles que nos
foram confiados. Melhor do que ter um cão para a traulitada, é ter um que nos
compreenda e auxilie. Queira Deus que nos oiçam!
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