sexta-feira, 29 de agosto de 2014

FUGA PARA A LIBERDADE

Escavar é um acto natural e instintivo nos cães, uma tendência que tem dado cabo da cabeça a muitos donos, mercê das crateras perpetradas pelos seus companheiros de quatro patas. Quanto mais fofo ou solto for um piso, mais depressa ficará esburacado, especialmente se estiver húmido ou molhado, o que transforma canteiros, espaços relvados e vasos em alvos preferenciais para os cães. Para acabar com essa tendência nos tapetes de relva e nos canteiros, há que aproveitar os buracos abertos e colocar dentro deles os dejectos do próprio cão, tapando-os de seguida, evitando assim que ali voltem. O acto de escavar canino deve ser aproveitado no adestramento como parte das manobras de evasão, como subsídio de fuga para os cães indevidamente encarcerados por alheios, quando o socorro dos donos isso exigir e como complemento de tarefas ligadas à procura e detecção.
Ao escavar deverá ser adicionada a ordem de “fura”, comando utilizado a grosso modo pelos condutores de agility, quando pretendem encaminhar os seus cães para túneis e mangas. Como nunca desprezámos o escavar canino, para não estabelecer confusão nos cães, sempre usámos o comando de “abaixo” para os obstáculos atrás mencionados. O simples facto de se ordenar o escavar, irá impedir os cães de o fazerem automática e arbitrariamente, muito embora se sintam mais tentados a fazê-lo depois de períodos de chuva intensa, auxílio que aproveitarão para romper os pisos mais duros.
Se há cães que adoram escavar, outros há que jamais se valerão desse requisito atávico, muito embora todos necessitem dele para a sua salvaguarda. Para se ensinar um cão a escavar, a maneira mais fácil para o conseguir é enterrar o seu brinquedo de eleição na areia (com o cão a ver), tapando-o depois levemente. Usaremos primeiro o comando de “busca” e depois da detecção o de “fura”, no mesmo instante em que o animal começa a escavar. Alguns cães irão necessitar de uma pequena ajuda. Não nos restando outra opção, iremos ser obrigados a dar-lhe o exemplo, escavando nós primeiro, para que compreendam o que queremos e o modo de o fazer.
As cadelas prenhes que normalmente se encontram soltas nos jardins, apesar de terem já uma maternidade para o parto, irão preferir parir ao ar livre, fazendo um buraco onde lhes aprouver, para se valerem da força da gravidade para a expulsão dos cachorrinhos e escondê-los dos demais. Os cães de tonalidade escura uniforme e os de pelagem mais densa, tendem a escavar buracos e a enfiar-se dentro deles nos dias mais quentes, por demais ventosos, secos ou húmidos, até porque o cão veio da toca e ela é para ele o melhor dos abrigos. Como é óbvio, as casotas são uma invenção humana e muitos cães desprezam-nas pura e simplesmente, porque se sentem vulneráveis pela exposição (a seu tempo, indicaremos qual o lugar ideal para colocar a casota do seu cão).
Muito mais haveria a dizer sobre a importância do escavar canino, assunto que retomaremos quando se tornar urgente e possível. O que importa reter é que esse acto atávico e automático, pode ser aproveitado e transformado pelo adestramento, visando a libertação dos cães e o auxílio dos homens. 

ESTUDAR O RODOPIAR PARA MELHOR CONHECER OS CÃES

Ignorámos até hoje a causa de muitas mais-valias e hábitos caninos, fenómenos que explicámos como se recebessem rádio emanações (por via da necessidade de sobrevivência) ou não encontrando outra explicação científica, simplesmente os remetemos para a percepção extra-sensorial. Recentemente, investigadores alemães e checos chegaram à conclusão que o rodopiar dos cães, antes de defecarem, deve-se à necessidade de se alinharem com o eixo magnético da Terra, o que os torna magnetosensíveis e sujeitos a perturbação, quando este sofre a mais leve alteração. O campo magnético terrestre assemelha-se a um dipolo magnético com os seus polos próximos dos geográficos terrestres.
Distantes desta conclusão, por nos faltar erudição e não nos havermos lembrado da bússola, decidimos, ao longo de duas décadas, estabelecer um paralelo entre o sentido desse rodopiar e o comportamento laboral dos cães que observámos, cerca de trezentos, de ambos os sexos e de distintos escalões etários, pertencentes a quatro grupos morfológicos diferentes e todos eles treinados, já que uns viravam as suas cabeças para norte e os outros para sul (explicação científica ainda não desvendada), uns rodopiavam segundo o movimento dos ponteiros do relógio e outros contra ele. Entre outras coisas, verificámos não haver alteração do sentido tomado pelos indivíduos e quando o houve, tal se ficou a dever a estados de ansiedade ou a distúrbios gastrointestinais passageiros. Com o avolumar da observação, conseguimos identificar díspares características físicas, psicológicas cognitivas e laborais, associadas a cada um dos sentidos, para além de aspectos ligados à longevidade dos cães observados, conclusões que dividiremos agora com os nossos leitores.
Os cães que ordinariamente rodopiavam no sentido dos ponteiros do relógio, cerca de 1/4 do total dos indivíduos observados, fenómeno mais comum entre os machos, foram os menos rústicos, mais ansiosos, menos seguros e carentes de afecção, de médio impulso ao alimento, menos concentrados, mais disponíveis do ponto de vista físico do que do cognitivo (descuidados e destravados), tendentes a seguir os círculos odoríferos e sujeitos à distracção. Grande número deles, cerca de 1/4, veio a manifestar sintomas de senilidade logo aos 8 anos de idade e um conjunto de achaques atribuídos ao desgaste (envelhecimento precoce e degeneração do sistema nervoso). Entre eles manifestaram-se algumas excepções, talvez as mesmas visíveis nos atiradores canhotos humanos, que quando bons não há igual, mas que maioritariamente são de má pontaria. Contudo, porque todos os cães observados obedeceram a uma pré-selecção para o trabalho, é possível que as conclusões a que chegámos pequem por alguma artificialidade.
Já os cães que rodopiavam contra o sentido dos ponteiros do relógio, cerca de 75% dos indivíduos observados, mostraram ser os mais resistentes, seguros e concentrados, portadores de maior autonomia, com maior disponibilidade cognitiva e maior impulso ao alimento do que os outros, melhores pisteiros e com maior longevidade, tanto laboral quanto específica. Neste grupo de indivíduos foi detectada uma tendência cancerígena maior do que no outro grupo, já que 15% deles (20), ou foi sujeito a intervenção cirúrgica ou morreu dessa causa. Tivemos o cuidado de seleccionar cães de raças diferentes e de verificar que em nenhuma delas a consanguinidade e a endogamia se fizeram presentes, directa ou indirectamente.
Este estudo caseiro acabou também por influenciar na escolha dos cachorros que adquirimos para as mais variadas disciplinas cinotécnicas e o seu contributo foi-nos grato, uma vez que logo após o desmame, os cachorros já optam pelo sentido do seu rodopiar e irão mantê-lo ao longo da vida. A nossa preferência recaiu, sempre que possível, sobre os que rodopiavam contra os ponteiros do relógio e nunca nos demos mal, muito embora não fosse esse o primeiro dos critérios para a sua adopção ou selecção. Por causa de melhor conhecer os cães que treinámos, nunca optámos por um espaço exterior à pista para que ali defecassem, antes aproveitámos os minutos de relax anteriores às aulas para melhor os observarmos, momentos em que os seus donos se questionavam acerca daquilo que nos ia pela cabeça. Amanhã, outros mais doutos do que nós, estabelecerão uma relação mais científica e por conseguinte mais tangente e objectiva.

PERFIL DUM FIGURANTE E PAINEL DE FIGURANTES

Como na disciplina de guarda ser figurante não é sinónimo de cobaia, ainda que nalguns casos isso seja imperativo, particularmente quando a indução se justifica e a idade dos cães isso exige, importa estabelecer o perfil físico e psicológico do figurante ideal, considerando o melhor preparo dos cães e a sua futura prestação. Tendo em conta a estatura média do homem europeu, convém que o figurante tenha 1.8m de altura, 85kg de peso, uma idade compreendida entre os 18 e os 35 anos, seja atleta, desinibido, resistente à dor, destemido e combativo, sem temor ao cães mas sem se expor gratuitamente, já que os indivíduos mais baixos e leves, apesar de oferecerem maior mobilidade e equilíbrio, intimidam menos, são mais frágeis e podem induzir os cães a ataques menos eficazes, o que perante um homem maior lhes pode ser fatal, por força do hábito perante surpresa. Para cães destinados à guarda real, esse figurante poderá ser habilitado ou não numa modalidade desportiva dessa categoria. Se optarmos por figurante com essas credenciais, é de todo conveniente que seja oriundo do “ring francês”, devido ao seu preparo para ataques multi-direccionais e a qualquer zona do corpo, o que de poderá vir a capacitar os animais para ataques cirúrgicos.
Mal andará uma escola canina se providenciar somente um ou dois figurantes, “os fregueses do costume”, porque os cães bem depressa os identificarão e poderão desinteressar-se de indivíduos com outras características. Para que isso não aconteça, convém ter à disposição um painel de figurantes com características bem diversas entre si e de ambos os sexos, para abranger o maior número de subtipos presentes na nossa sociedade. Com o desemprego que grassa entre os jovens, por vezes levados pela revolta ou pela procura de uma carreira, muitos são aqueles que se dedicam às artes marciais e aos desportos de combate, pelo que importa convidá-los, quando possível, para o papel de figurantes, para que os cães conheçam os seus golpes, aprendam a defender-se deles e contra-ataquem. Quem melhor que um praticante do jogo do pau poderá usar um bastão ou um stick?
Exceptuando os casos de raiva manifesta, geralmente de origem traumática, os cães tendem a desinteressar-se pelas senhoras, porque são naturalmente afáveis, não incorrem em abusos e não constituem para eles qualquer tipo de ameaça, o que não quer dizer que todas as mulheres sejam pacíficas, não se encontrem bem preparadas fisicamente e não agridam indivíduos do sexo oposto. Cada vez mais se vêem mulheres nos exércitos e na polícia, mesmo nas especialidades mais árduas e exigentes e a disputar rounds com outras. Por estranho que pareça, o número de maridos agredidos cresce a cada dia que passa e se não temos conhecimento de mais, é porque muitos dos lesados não apresentam queixa, para não se exporem ao ridículo. Como o crime e a violência não têm sexo, os figurantes femininos são parte imprescindível na preparação dos cães de guarda, facto que há muito conhecemos e que sempre nos levou ao recrutamento de senhoras para esse efeito. Citamos aqui o nome de algumas delas por ordem alfabética: Guadalupe Gomes, Isabel Silva, Margarida Jales, Joana Melo, M.ª João Costa Lobo, Maria Duarte, Sofia Firmino e Sofia Leite. Destas, algumas vieram a fazer de duplos numa série televisiva infanto-juvenil que teve como protagonista um cão, libertando as actrizes, consideradas as “más da fita”, de todo e qualquer aperto.
Com o advento de alguns cidadãos de Leste pouco recomendáveis e com a abertura das fronteiras que possibilitou o livre trânsito de pessoas e bens, muitos cães de guarda são agora neutralizados por sprays dos mais variados gases, pelo que importa somar ao ataque armado com bastão ou arma de fogo o ataque com o spray, para que os cães não evoluam para a lata, cessem precocemente os seus ataques e acabem ludibriados, temporariamente ou para sempre. Nos cães entregues à defesa de perímetros, convém condicioná-los a afastarem-se do raio de acção dos sprays, sem contudo deixarem de avisar e de intimidar. O que é válido para os cães de guarda é-o também para os de defesa pessoal, uma vez que estas armas cabem em qualquer bolso ou mala e já vêm acopladas ou disfarçadas em chapéus-de-chuva, telemóveis, bolsas, canetas e outros utensílios de uso pessoal, o que irá obrigar ao reforço dos ataques a alvos imóveis.
Obrigar à variação de figurantes é uma exigência mais do que justa para quem paga a capacitação do seu guardião, prepará-lo para a novidade de confrontos é um dever para quem recebe por esse serviço, porque se algo falhar… será o cão a sofrer as consequências! Por norma, quando se brinca no treino, o cão fica com a vida por um fio.

IR A ROMA, VER O PAPA E LEVAR O CÃO À PRAIA!

Para o ano que vem, porque neste pode já ser tarde para si, se decidir ir a Roma e ver o Papa, pode levar o seu cão consigo e levá-lo a uma praia ali perto, a de Baubeach, situada no Mar de Maccaresa, ao lado da reservada para a Polícia Italiana, com 15 anos de existência e onde os cães são bem-vindos, desde que acompanhados pelos seus donos. A sua lotação aponta para uma centena de cães, tem de área 7.000m2 e a iniciativa tem sido um sucesso, já que entre os meses de Maio e Setembro do ano passado, por ali passaram cerca de 7.000 cães e seu número tende a aumentar.
Para lá entrar com o seu fiel amigo, ele precisará de ser avaliado por um “expert” em comportamento animal. Se o seu cão for aprovado, você receberá de imediato um guarda-sol e uma cadeira. A distribuição das áreas obedece ao tamanho dos cães, todos podem brincar com os seus brinquedos individuais e uma equipa de funcionários garante regularmente a desinfecção da areia (com produtos naturais). A praia encontra-se apetrechada com bebedouros próprios para os cães, sacos para recolher as suas fezes e até fornece protector solar para os animais com a pele mais sensível. E como se isto não bastasse, os organizadores ainda oferecem várias actividades, cursos e acompanhamento veterinário. O uso da praia obriga a uma inscrição anual de 17 dólares americanos e ao pagamento de uma entrada diária de 5 dólares (só para os cães maiores). Diga-se em abono da verdade: de turismo entendem os italianos, porque nós só o desaproveitamos.
Por onde andarão um ou mais empresários portugueses capazes de uma iniciativa idêntica, já que aqui se remetem os proprietários caninos para lugares inóspitos ou para o meio de calhaus, quer eles sejam nacionais ou estrangeiros? Será que não temos praias que cheguem? Serão elas de qualidade inferior às italianas? Sobra trabalho aos veterinários? A iniciativa não será rentável? Quando nos libertaremos do bicho-de-sete-cabeças? Dizem alguns, em altos lugares, gente a quem é reconhecida erudição, que a nossa classe empresarial baixou à mediocridade no dia em que expulsámos os seus melhores membros, por não terem querido ser baptizados à força. Bem que precisamos de uma escola de empresários para substituir os que cá temos!
E enquanto eles não aparecerem (pode ser que surja um emigrante, alguém nascido nas berças ou um estrangeiro com os olhos abertos), as arribas continuarão a cair, as placas de proibição de acesso não pararão de aumentar e continuaremos a malbaratar o legado dos nossos antepassados, de costas viradas para o mar, tal qual “marinheiros de água doce”, que tendo tudo para ir além, acabam por tropeçar uns nos outros. Quando terão os nossos cães direito a uma praia, quer seja ela fluvial ou marítima, já que não existe nenhuma entre Nouakchott e o Cairo?

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

OS NOVOS “FILHOS” E O FIM DA CRISE

Pelo nº 1121 da Revista Visão, através de um excelente artigo sobre os animais domésticos presentes nas famílias portuguesas, onde se destacam vários aspectos da terapia canina, ficámos a saber que já existem mais cães do que crianças nos nossos lares, cerca de 1.8 milhões caninos contra 1.6 milhões de crianças com menos de 15 anos de idade, fonte atribuída ao INE (Instituto Nacional de Estatística), notícia já esperada mas que nos deixa perplexos. No mesmo artigo se adianta que os gastos com os animais de companhia atingem os 300 milhões de euros anuais e que mesmo em tempo de crise, as empresas de distribuição registaram um aumento de 2.3% no consumo de produtos alimentares e de 6% no de acessórios num período de um ano. Também ali se diz que os gastos com os animais de estimação atingem em média 15% dos orçamentos familiares, despesa comportável e aparentemente barata que nos pode sair muito cara, se a nossa taxa de natalidade continuar a descer.
Em Portugal existiam 114 idosos para 100 jovens e essa relação já foi alterada pela saída de meio milhão de jovens para o estrangeiro. Em 40 anos vimos diminuída a nossa taxa de natalidade em 50%, em 2013 tivemos a taxa de natalidade mais baixa dentro da Comunidade Europeia, o número de mortos superou o dos nascimentos em 2007 e somos o 6º país mais envelhecido do mundo. Perante o alarme destes dados, urge perguntar: como será o Portugal do amanhã? Quem pagará as aposentações e quem suportará a Segurança Social? O aumento na adopção de animais e a baixa natalidade são sintomas da crise que entre nós se abate e que tendem a perpetuá-la, exigindo de todos maiores sacrifícios. É evidente que os cães não são responsáveis por esta época de contenção, mas sacrifício por sacrifício, mais vale alcançar descendência do que nos deliciarmos com pseudo filiações. A nossa baixa taxa de natalidade, ainda que agravada pela crise, é um fenómeno a ela antecedente e ligada a problemas sociais que ainda não soubemos resolver e que têm vindo a ser agravados.
Ainda que muitos não conheçam a sua obra, não são poucos os que se dizem fãs de Fernando Pessoa. Lembrámo-nos dele por causa desta temática, nomeadamente do poema “Liberdade” inserido no “Cancioneiro”, que passamos a transcrever: “Ai que prazer / Não cumprir / Ter um livro para ler / E não fazer / Ler é maçada,/ Estudar é nada  /. Sol doira  / Sem literatura  / O rio corre, bem ou mal,  / Sem edição original.  / E a brisa, essa  / De tão naturalmente matinal, como o tempo não tem pressa…  / Livros são papéis pintados com tinta. /  Estudar é uma coisa em que está indistinta/  A distinção entre o nada e coisa nenhuma. / Quanto é melhor, quanto há bruma,  / Esperar por D. Sebastião,  / Quer venha ou não!  / Grande é a poesia, a bondade e as danças…  / Mas o melhor do mundo são as crianças,  / Flores, música, luar e o sol, que peca  / Só quando, em vez de criar, seca.  / Mais do que isto É Jesus Cristo,  / Que não sabia nada de finanças  / Nem consta que tivesse biblioteca…”.
Fazemos nossas as palavras do poeta, corroborando-as em género, grau e número, porque abraçámos o mundo do adestramento para valer aos homens e se eles desaparecerem, os cães não terão melhor sorte, dificilmente voltarão a ser lobos e desaparecerão connosco. Gostar de cães não implica em desprezar os homens, ao invés, é adequar os cães para que não se sintam sós, levá-los até às crianças para que cresçam felizes e transportá-los para as gerações vindouras. E se não houver crianças, quem continuará o nosso trabalho? A pior das crises resulta da ausência de acreditar, quando esperamos a morte e interrompemos a vida, quase sem darmos por isso!

QUEM QUER MEXER NO CORDEIRINHO?

Quem quer mexer no cordeirinho? Provavelmente quem quiser sair magoado, porque se adivinham as intenções do cão pelas suas expressões mímicas: tenso, com cara de poucos amigos e disposto a guardar o infante. Como dizia um amigo nosso: Vai lá, vai!

RANKING SEMANAL DOS TEXTOS MAIS LIDOS

O Ranking semanal dos textos mais lidos ficou assim escalonado:
1 _ PASTOR ALEMÃO X MALINOIS: VANTAGENS E DESVANTAGENS, editado em 15/ 06/2011
2 _ CÃES NA DETECÇÃO DO CANCRO, editado em 23/08/2014
3_ O PESO DOS 4 MESES NO CÃO DO AMANHÃ, editado em 28/10/2010
4 _ A CASOTA DO CÃO, editado em 29/12/2009
5 _ A CURVA DE CRESCIMENTO DAS DIFERENTES LINHAS DO PASTOR ALEMÃO, editado em 29/08/2013

TOP 10 SEMANAL DE LEITORES POR PAÍS

O TOP 10 semanal de leitores por país ficou assim ordenado:
1º Portugal, 2º Brasil, 3º Estados Unidos, 4º Alemanha, 5º Polónia, 6º Ucrânia, 7º Espanha, 8º Angola, 9º México e 10º Moçambique.

sábado, 23 de agosto de 2014

CÃES NA DETECÇÃO DO CANCRO

Pelo “The Telegraph”, por alguns tratado jocosamente como “Torygraph”, mercê da sua conotação e origem conservadora, diário inglês de grande tiragem, ficámos a saber que certos cães estão a ser utilizados para a detecção do cancro da mama, maioritariamente Labradores e Spaniels, pertencentes ao “Medical Detection Dogs”, em Buckinghamshire. Segundo aquilo que ali nos é dito, o acerto no rastreamento de alguns cães ultrapassa os 90%, mostrando também o seu préstimo na detecção dos cancros na bexiga, no intestino, na próstata, no pulmão e nos rins, uma vez que os nosso bons amigos de quatro patas conseguem farejar moléculas desprendidas por tumores. Provada a mais-valia dos cães nesta área da saúde, alvitra-se agora a hipótese deles poderem farejar precocemente a existência de cancros, estudo ainda por concluir e cuja conclusão não será imediata. A ser verdade aquilo que agora se alvitra, eles poderão ser usados na prevenção contra esta terrível doença. À parte disto, cerca de 50 cães da mesma entidade (Medical Detection Dogs), estão também a ser utilizados para a detecção de diabetes no sangue. A foto que ilustra este artigo mostra a Dr.ª Claire Guest com a Labradora “Daisy”, cadela que lhe detectou cancro da mama e que após ter analisado 6000 amostras de urina, conseguiu confirmar mais de 93% de cancros na próstata. Depois de andarmos a matar cães ao longo de milénios e de continuarmos a matá-los, eis que eles se apresentam para nos valer, trabalhando para a nossa cura e longevidade. Para mais pormenores, consulte por favor: 
http://www.telegraph.co.uk/health/healthnews/11036491/Dogs-to-be-used-to-detect-breast-cancer-in-new-research-trial.html?fb

A UM PALMO DO SUCESSO!

Brada aos céus o número de pessoas que são rebocadas pelos seus cães diariamente, apesar de nunca ter havido tanta informação sobre eles como agora. Se uns levam os donos a reboque, outros há que os obrigam a andar aos trambolhões, não sendo por isso de estranhar, que esta seja a primeira razão para a procura das escolas caninas. Pegar numa trela tem regras e exige sensibilidade, é algo para além dos instintos e que não dispensa a concentração necessária.
Primeiro há que aprender qual o local exacto para pegar na trela, indicação que nos é dada pelo nosso braço completamente solto e com o cão ao nosso lado, onde chegar a mão, aí estará o sítio certo. A trela carece de ser agarrada com o polegar para cima e não nunca deverá funcionar tensa ou em constante tensão. Quando se inicia a condução à trela de um cão, é de todo conveniente ceder um palmo de trela em relação ao sítio atrás indicado, para que o animal não circule em constante asfixia e justificadamente lute para se soltar.
A mão do condutor deve ir solta, para constatar dos adiantamentos e recuos do cão em relação à sua pessoa e as correcções a haver deverão ser feitas, não para trás ou para fora, mas sempre para o lado direito, porque doutro modo estaremos a instigar o cão para que nos puxe. Num primeiro momento cedemos a trela e depois operamos o ajustamento para o lado que atrás indicámos. Convém associar às correcções um comando inibitório, para que o animal compreenda o que pretendemos dele e mais rapidamente entenda qual o seu lugar na progressão alinhada.
A cada passada do condutor, a mão de condução deve segurar a trela unicamente com os dedos indicador, médio e anelar, mantendo abertos sobre a trela os restantes dedos, para se executar o ajustamento desejável pela rotação do pulso, que deverá acontecer de baixo para cima, do mindinho para o polegar, trabalho que futuramente levará o cão a deixar de se pendurar na trela.
As dificuldades na condução à trela ou resultam do atrelamento tardio e atabalhoado dos cães ou do despreparo dos condutores, que ao invés de circularem descontraídos, transmitem indesejável tensão aos animais. Podem também resultar, e muitas vezes resultam, da ausência de passeios diários ou da sua irregularidade, falhas que atentam ainda contra a sociabilização dos cães. A altura ideal para se colocar uma trela num cachorro é aos 2 meses de idade, quando o filhote insiste em não nos largar e nos obriga a nele tropeçar. Conduzir cães é uma arte que carece de aprimoramento, o que implica em dizer que os donos também necessitam de instrução. Quando se pega na trela de um cão alheio, logo se sabe muito sobre o seu dono ou condutor, se é dado à minúcia ou ao improviso, se é calmo ou por demais nervoso, concentrado ou distraído, porque a actuação do animal espelha as menos ou mais-valias de quem o conduz habitualmente. Ceda trela e opere as correcções, evite estrangular o seu cão e recompense os seus acertos, pois breve andará ao seu lado sem você dar por isso, leve que nem uma pena! 

MAIS LÁ DO QUE CÁ

Ao contrário do que sucede lá por fora (no estrangeiro), o número de pistas tácticas e de endurance é muito reduzido em Portugal, havendo ainda algumas desprezadas por ausência de adestradores capazes, o que torna os seus obstáculos obsoletos e poleiros preferenciais para toda a casta de passarada, não raramente rodeados de mato, o que acaba por denunciar o seu desuso e a paupérrima capacitação dos cães ao nosso encargo. Descobrimos casualmente uma escola de cães policiais em Fontana, no Estado norte-americano da Califórnia, onde nos foi dado a observar o concurso aos “bidons”, obstáculo constante do perímetro exterior (também entendido como de aquecimento), de qualquer pista táctica digna desse nome. A diferença entre os “nossos” e os bidons “deles”, assenta em exclusivo no revestimento escolhido, porque optaram por revesti-los por tapetes de relva sintética e nós sempre preferimos a borracha anti-derrapante, de cor negra para contrastar com os pisos de saibro ou relvados das nossas pistas.
Como já nos debruçámos pormenorizadamente sobre os benefícios dos bidons, não vamos agora fazê-lo. Ao olharmos para as duas fotos acima, é visível a disparidade na execução técnica dos condutores, porque o americano parte atrasado (quiçá porque o cão é rápido e necessita de travamento) e a portuguesa vai na frente, carregando ânimo como mandam as regras, o que de certa forma torna infeliz a foto proveniente dos “States”. Ao entrarmos na página daquela escola, diga-se que para espanto nosso, deparámo-nos com uma foto, onde é visível um malinois a executar o “fuster” regulável ou de preparação, denunciado pelo despropósito na saída do cão e pelo ângulo da rede relativo ao enquadramento da foto.
O Fuster é um obstáculo táctico próprio para os cães de perseguição e assalto, preenchendo também o currículo das “manobras de evasão”, quando importa que os cães se libertem das cercas de rede de arame, quer se encontre cru ou plastificado, soldado ou esticado, numa altura até aos 2.5m, podendo os animais excepcionais transpô-las até ao dobro desse valor. O ensino deste obstáculo começa num regulável, com 2m de altura e com 80cm de largo, que evoluiu dos 45 graus de inclinação para a posição vertical, valendo-nos na fase inicial treino duma mesa quadrada ou redonda, elevada a 1m e com uma área de impacto de 1.44m2, também ela revestida a borracha, para facilitar a saída dos instruendos, até que aprendam a sair dali em segurança.
Em Portugal só conhecemos uma pista que tem um obstáculo desta categoria e com estes propósitos, ignorando se está ser bem utilizado ou não (oxalá que sim!). À parte disto, importa dar os parabéns à Joana Melo e ao “Radar”, pastor alemão que ela capacitou pelas pistas tácticas por onde andaram, lado a lado connosco e contribuindo assim para a exaltação do nosso ensino. Se nos é permitido um desabafo, dizemos: é tão pobrezinho o parque de obstáculos nas escolas caninas portuguesas! O que será preciso para que enriqueça, de um milagre ou muita reza?
Os milagres em Portugal sempre esconderam a nossa impotência e sempre ouvimos dizer que “preces de burro não chegam ao céu”. Espera-se que as novas gerações recém-chegadas à cinotecnia tragam algo de novo e promissor, que enriqueçam a prestação canina e retomem o trabalho esquecido, afinal tão necessário para a salvaguarda dos cães e para o socorro dos homens. 

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

A DÚVIDA DO ELDER E O COMPORTAMENTO DO CONAN

Recebemos de um leitor brasileiro o seguinte email: “Boa tarde, meu nome é Elder e adquiri um cão Pastor Alemão negro, que atende pelo nome de Conan, onde hoje se encontra com 9 meses de idade, é meu primeiro companheiro desta raça, estou muito satisfeito, pois ele guarda muito bem e é muito atento, características já apresentadas com 5/6 meses de idade. No quesito obediência, o Conan é bem disciplinado comigo, o que não ocorre com minha esposa, ele pula muito nela e é muito hiperactivo, além de que tem muito "ciúmes" dela, pois temos um cão da raça poodle, e este não consegue chegar perto dela, devido aos "ciúmes" do Conan. Bom, actualmente o único comportamento que está nos incomodando é este, pois ele fica muito agitado e não a obedece, onde não sabemos como resolver este problema. Desta forma, gostaria de saber se o exposto é devido à idade do cão ou características da raça, o que podemos e devemos fazer? Achei muito interessante um artigo de vocês sobre Pastor Alemão Negro, por isso resolvi escrever. Agradeço a atenção. Abraço”.
Passamos à resposta:
Elder, o problema que apresenta não é da responsabilidade directa do Conan e nada tem a ver com as características raciais do animal. Ao invés, o comportamento do seu cachorro deve-se ao seu particular social, advindo duma liderança passiva e permissiva – a sua, que não lhe contraria as diabruras e os arrufos, há muito necessitados de travamento e enraizados pela ausência de autoridade e regra, despropósitos que o têm colocado no topo da hierarquia familiar e que o vêm induzindo ao desrespeito e ao domínio sobre os demais membros do seu grupo, enquanto companheiro mimado e entregue aos seus caprichos. É sua obrigação fazê-lo respeitar o outro cachorro e não permitir que invada o seu espaço, colocando ambos debaixo da sua alçada e estabelecer o seu convívio regrado. Para que isso aconteça, é necessário impor a sua autoridade sobre os abusos do Conan e mostrar-lhe quais os seus limites, recompensando-o quando os respeita e repreendendo-o quando os ultrapassa, para que entenda a diferença entre o certo e o errado, coisa que até aqui parece não ter entendido, já que “onde há galo, não canta galinha”.
Dependendo do grau e intensidade das prevaricações, assim a natureza dos reparos e castigos a aplicar. Contudo, cuidado com a severidade excessiva, não vá o seu jovem guardião transformar-se num cordeirinho sem préstimo, o que por certo não lhe interessará. Não estará na hora de o adestrar correctamente, uma vez que a relação entre ambos não dispensa a cumplicidade que possibilita o melhor entendimento, já que muitos destes desacatos resultam do confinamento abusivo ou do convívio forçado dos cães na ausência sistemática dos donos? Nenhum cão, considerando a desejável coabitação harmoniosa entre homens e cães, poderá dispensar a sua adequação, sociabilização, instrução e capacitação individual.
O facto do Conan pular amiúde e indevidamente para cima da sua esposa, impedindo que o poodle se aproxime dela, numa manifestação inequívoca de ciúme, assim como mostra o carinho e gratidão que tem por ela (provavelmente é ela quem o alimenta), evidencia em simultâneo o tratamento de “reizinho” que o cachorro recebe, numa relação lamechas que ele muito bem aproveita, para incómodo da sua esposa. Também aqui é ausência de regra que se destaca, porque doutra maneira jamais o cachorro se empoleiraria sem ordem expressa. Quando o fenómeno acontecer na sua presença, deve de imediato proceder à sua cessação, associando a essa acção o comando inibitório “Não”, para que mal ouvindo esse comando, o cachorro desista imediatamente dos seus intentos. Se o animal persistir no erro, coloque-lhe uma trela e puxe-o vigorosamente para baixo, tendo o cuidado de lhe associar o comando atrás referido. Uma vez assimilado o “Não”, que vai acontecer pelo condicionamento, a sua esposa valer-se-á dele para evitar que o cachorro se empoleire nela e o problema ficará definitivamente resolvido.
O Pastor Alemão é um cão com um forte sentimento territorial e todos os cães são ciumentos e zelosos dos seus donos, mas ninguém melhor que você o fará compreender quais os seus direitos e deveres, aquilo que lhe é permitido e aquilo que lhe é proibido, mediante as regras que instituem a sua liderança. Esperamos tê-lo esclarecido e acompanharemos a par e passo a evolução do Conan, isto se for dando notícias e lhe interessar o nosso conselho. Obrigado pelo contacto e parabéns por ter optado por um Pastor Alemão Negro.

COM O OUTONO À PORTA…

A sensivelmente um mês do Equinócio de Outono, que acontecerá no dia 23 de Setembro, pelas 02.29 horas, queremos relembrar os nossos leitores da vacinação contra a tosse do canil a ministrar aos seus fiéis companheiros, lembrando-lhes ainda do tratamento preventivo contra as otites e da necessidade de melhorarem as dietas dos cães sujeitos ao trabalho, já que a estação que se avizinha produz em todos grande desgaste.

SABE QUEM FOI JACOB RODRIGUES PEREIRA?

Sabe quem foi Jacob Rodrigues Pereira? Provavelmente não! O nome e os apelidos indiciam um judeu português, mas a sua relevância é pouco conhecida entre nós e dele pouco ou nada se sabe. Nascido em Peniche, no dia 11 de Abril de 1715, no seio de uma família judia com raízes em Chacim Macedo de Cavaleiros, foi levado em criança pelos seus pais para França, no intuito de escaparem às garras da Inquisição, o que os forçou ao exílio. Veio a ser um dos maiores pedagogos e investigadores do Séc. XVIII, foi pioneiro no ensino de surdos-mudos (até ali considerados doentes mentais) e na criação da linguagem gestual, muito antes de Helen Keller (1880-1968) haver nascido e ter inventado o seu alfabeto. Publicou em Paris, no ano de 1762, a sua obra: “Observations sur Les Sourds-Muets”, primeiro trabalho científico alguma vez publicado sobre surdos-mudos e que lhe valeu uma pensão vitalícia por parte do Rei Luís XV. O alfabeto que criou, visível na foto acima, ainda hoje é usado entre os surdos-mudos portugueses e existe um Instituo com o seu nome em Lisboa, fundado em 1834, pioneiro no ensino de surdos em Portugal e hoje integrado na Casa pia de Lisboa, onde pouco ou nada nos adiantem sobre a sua obra e pessoa, não obstante ter em Peniche um monumento.
Os seus descendentes vieram a afrancesar o seu apelido e passaram-no para “Pereire” no início do Sec. XIX. O seu bisneto, Jacob Émile Pereire, parlamentar e banqueiro em Bordéus, foi o responsável pela construção do caminho-de-ferro entre Paris e Saint Germain, vindo mais tarde a fundar, com o seu irmão Isaac, a Societé Générale de Crédit, que viria tornar-se na maior instituição de crédito francesa. Os dois irmãos viriam ainda a criar, em 1855, a Compagnie Général Transatlantique, a primeira empresa marítima francesa a assegurar carreiras de vapor regulares entre New York e Le Havre. O seu navio “Pereire” era ao tempo o mais rápido sobre o Atlântico, assegurando em 1867 a travessia entre a França e os Estados Unidos em apenas 8 dias e 16 horas. Uma Avenida em Paris (próxima dos Campos-Elísios) e uma estação de metro ostentam hoje o nome da Família. Os “Pereire” viriam a converter-se ao catolicismo nos finais do Séc. XIX, forçados pelo anti-semitismo reinante na sociedade gaulesa de então. Um anti-semita confesso, pessoa idolatrada por muitos e odiada por outros tantos, disse há 51 anos atrás: “havemos de chorar os mortos, se os vivos não os merecerem”, o que no caso de Jacob Rodrigues Pereira, apesar de parecer paradoxal, assenta como uma luva, mercê do velho hábito que temos de valorizar o alheio e desprezar o que é nosso, tanto as nossas raízes quanto a nossa história e cultura.

RANKING SEMANAL DOS TEXTOS MAIS LIDOS

O Ranking semanal dos textos mais lidos ficou assim ordenado:
1º _ UM VÍDEO QUE É UMA HOMENAGEM, editado em 17/08/2014
2º _ A CASOTA DO CÃO, editado em 29/12/2009
3º _ ROTTWEILER E SERRA DA ESTRELA (O QUE OS UNE E SEPARA), editado em 07/01/2010
4º _ SIM, EU ACREDITO NO CÃO MACACO, editado em 17/12/2012
5º _ PASTOR ALEMÃO X MALINOIS: VANTAGENS E DESVANTAGENS, editado em 15/06/2011

TOP 10 SEMANAL DE LEITORES POR PAÍS

O TOP 10 semanal de leitores por país deu o seguinte resultado:
1º Portugal, 2º Brasil, 3º Estados Unidos, 4º Alemanha, 5º Espanha, 6º Polónia, 7º França, 8º Quénia, 9º Reino Unido e 10º Ucrânia.

domingo, 17 de agosto de 2014

O INTERRUPTOR: CUMPLICIDADE E LIDERANÇA

O treino canino obriga os condutores ao exercício da cumplicidade e da liderança, porque é acção e travamento e nisto não difere de um comum interruptor, ainda que accionado pelo uso acertado da emoção e da razão. O equilíbrio entre a prontidão das acções e a sua suspensão imediata é que irá qualificar a obediência canina, demonstrar o grau de condicionamento alcançado e classificar o trabalho binomial (pôr um cão a atacar não é difícil, difícil é operar a cessação automática dos seus ataques). Só uma liderança eficaz conseguirá travar os ímpetos caninos, estabelecer regras e induzir os animais à novidade de rotinas, as relativas à sua segurança, coabitação e uso.
Analisando a evolução do treino canino nos últimos 100 anos é possível constatar profundas diferenças e a maior delas aconteceu no relacionamento binomial pelo extremo das filosofias de ensino aplicadas. Até há cinco décadas atrás, a ênfase pedagógica recaía sobre o travamento e daí para a frente sobre o despoletar das acções. Se antes as ordens eram imperativas e ninguém se podia “rir” para os cães, agora a cumplicidade é palavra de ordem, o que levou à adopção da memória afectiva canina em detrimento da mecânica até ali muito utilizada. Se outrora os cães transpiravam exagerado belicismo, agora desfilam como autênticos patetas, sujeitando os seus donos ou condutores ao ridículo.
Ninguém duvida ou põe em causa que esta mudança de atitude foi benéfica e mais do que justa para os cães, ainda que tenha chegado com algum atraso, considerando o seu bem-estar e o melhor aproveitamento individual, o que se contesta é generalizar pedagogias para animais diametralmente opostos, privilegiando por vezes os fracos em prejuízo dos fortes, o que tem levado ao préstimo subjectivo dos primeiros e ao desprezo pelos últimos, por exigirem regra e travamento, acções mais do que necessárias a quem lidera. E neste tempo de “holocausto canino”, para surpresa de quem se encontra afastado da problemática dos cães, a ausência de uma liderança capaz tem sido a maior responsável pelo seu abate.
Idêntica transformação aconteceu no nosso ensino público (no privado também), na maioria dos países europeus e ocidentais, onde a qualidade do ensino e o aproveitamento escolar transitaram do exame para a passagem automática, pela supremacia das estatísticas em relação à aquisição do conhecimento, esporadicamente acompanhada pela quebra de disciplina, que evidenciou nalguns alunos uma epidemia de patologias até aqui nunca vistas. Deixámos de formar líderes para satisfazermos as aspirações gerais e de premiar os aplicados para valer aos desinteressados, o que tem colocado à cabeça das nações indivíduos impróprios e lesivos dos interesses nacionais, uma matilha que engorda às custas do sacrifício dos seus povos. Quem fará frente a Putin (provavelmente o maior líder mundial actual) e ao seu império euro-asiático?
Na cinotecnia, também como resultado do histórico social e do peso cultural em voga, a maioria dos condutores tem uma má compreensão da autoridade, é parca de objectivos, despreza os procedimentos e fica à espera dum beneplácito aleatório ou da boa vontade dos cães, para alcançar o sucesso que só o trabalho lhe daria, como se ali tudo fosse gratuito e o adestramento não exigisse liderança. Se tudo o que aprendemos acerca dos cães enriqueceu-nos, a actual política de “paridade” só nos empobrece pelo desaproveitamento destes excelentes companheiros, que apesar de irracionais são competitivos, evidenciando alguns um forte impulso ao poder, que não raramente precisa de ser regrado ou contrariado.
O adestramento será sempre um curso de liderança para os donos dos cães, que não a alcançando doutra maneira, nela serão investidos pela imposição das regras que lhes garantem a autoridade, visando o controlo dos animais e o seu uso expectável ou benéfico, o que não deverá implicar no desprezo pelo seu bem-estar. Sim, o treino canino quando bem conseguido é como um interruptor, que tanto serve para pôr os cães em “on” ou em “off”, na estrita dependência dos seus condutores, que promovem assim o controlo dos seus instintos, a potenciação dos seus impulsos e o desenvolvimento do seu carácter.