quinta-feira, 24 de junho de 2010

Dois para tudo e dois para nada

Ainda hoje temos alguma dificuldade em compreender qual a razão que obstou à transformação dos antigos ferreiros em serralheiros, quando uma arte é a continuação da outra e o José Saramago (agora falecido) passou da serralharia para a literatura e alcançou um Prémio Nobel, porque resistem os homens à mudança e tão poucos se adaptam, porque se agarram os portugueses ao passado e suspeitam do futuro, será porque dá trabalho ou porque toda Europa estará doente? Um anglo-saxónico que encontrei ocasionalmente a ver o Mundial de Futebol, daqueles very british e crentes na “lenda negra”, espantava-se com o querer, a arte e o fulgor das equipas latino-americanas, diante das formações africanas mais atléticas e das europeias fisicamente mais robustas. A razão do espanto do “beef” baseava-se na ignorância, teria aquela gente caído ali de pára-quedas ou seria descendente dos “conquerors”? Também nos espantam as dificuldades dos treinadores cinegéticos em se transformarem em adestradores cinotécnicos, muito embora saibamos que a resistência à novidade seja o principal dos seus entraves, porque a plasticidade humana (física e cognitiva), apesar de ser maior do que nos restantes animais, reclama por tempo próprio e não é constante. Somente os mais dotados conseguirão abraçar por mais tempo a adaptação. É evidente que o facto de sermos finitos também em nada ajuda e as doenças lembram-nos constantemente disso.

Dois cães de caça fazem equipa mais facilmente do que dois de guarda, podendo complementar-se e dividir tarefas entre si, contribuindo o mais apto para a capacitação do iniciado. Já o mesmo não acontece entre os cães de guarda, pelo menos naturalmente, atendendo ao particular do seu sentimento territorial e sucedâneo viver social. Os cães caçadores congregam-se para a caçar e os territoriais abominam a intrusão no seu território, não vendo com bons olhos qualquer tipo de parceria. Uma dupla de cães de caça pode ser de valor inestimável e dois de guarda podem não manifestar qualquer préstimo, porque mais cedo ou mais tarde, se forem ambos valentes, não evitarão a confrontação, guerrearão entre si e quererão ambos capitanear as acções. Ainda que arte de caçar possa ser aprimorada num cão (melhorada pelo treino), ele é naturalmente um caçador e isso sobre vem-lhe por instinto próprio. Adquirir um segundo cão para guarda obriga a cuidados específicos, para que o amatilhamento não interfira no rendimento esperado. Os homens dedicados ao ofício cinegético, por força da sua experiência anterior, tendem a desaproveitar os benefícios dos cães guardiães, por desconhecerem ou desrespeitarem as condições a que obrigam, porque grande é a diferença que vai do excursionista ao territorial. Dois cães de guarda exigem uma liderança forte e omnipresente, um líder inato e sempre atento. A matilha pode ajudar na caça, mas só trará entraves para os cães de guarda, dependentes do seu líder e sujeitos ao seu parecer. Sabemos com capacitar simultaneamente dois cães para guarda e estamos prontos para qualquer tipo de esclarecimento, basta contactar-nos!

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