quinta-feira, 17 de junho de 2010

Caderno de Ensino: XV. O "busca"

O QUE É O “BUSCA”. O “busca” é um código que despoleta a autonomia direccional canina para a procura de pessoas ou objectos através do faro.

O QUE ACONTECE PRIMEIRO: O CÓDIGO OU A ACÇÃO? A acção acontece primeiro e é típica dos cães (uma resposta natural), porque nascem cegos e valem-se do faro prà procura do leite materno. A somar a isto, eles só transpiram pela língua e pelas plantas palmares, o que os obriga, quando se encontram por demais aquecidos, a colocar as suas patas dentro dos bebedouros.

PORQUE CERTOS CÃES SÃO TÃO MAUS FAREJADORES? Existem razões genéticas e ambientais para o facto, mas tanto umas como outras são da responsabilidade humana, por inibição, desaproveitamento, ignorância, má selecção ou estultícia.

QUANDO DEVE COMEÇAR O SEU APROVEITAMENTO E COMO PROCEDER Á INSTALAÇÃO DO CÓDIGO. Aqui não há lugar a dúvidas: logo após o desmame e poucos dias depois da adopção ou chegada ao novo lar. Começaremos pela procura do prato da comida, evoluiremos pela detecção do esconderijo do dono e procederemos a ocultação dos brinquedos. A instalação do código deve antecipar as acções, acontecendo assim sem maiores entraves. Este é o trabalho que recomendamos entre as 6 semanas e os 4 meses de idade para os cachorros.

A IMPORTÂNCIA DA RECOMPENSA. Só a recompensa estimula a avidez da prestação canina, porque a sua inexistência induz ao desinteresse animal. Sem prémio não há corrida!

PESSOAS OU OBJECTOS? O comando tanto serve para uma coisa como para a outra. Essa universalidade pode comprometer as distintas especialidades e causar entraves nas tarefas específicas, preocupações alheias ao cão familiar, que geralmente se queda pela procura e transporte dos pertences dos donos, o que é de extrema utilidade. A capacidade para distinguir e identificar maior número de objectos é genética.

“RONDA” E “BUSCA”. Esta é uma confusão a evitar e que foi visível durante anos entre os cães militares, no período que antecedeu o aparecimento das distintas especialidades, quando os cães acumulavam funções diversas e se tentava tirar partido da sua versatilidade, o que condenava os “resgatados” a umas tantas dentadas, o que na gíria militar se designa como “abate por fogo amigo”. Entendemos nós que, após a instalação do comando de “ronda”, o “busca” só deverá ser reclamado para a procura de objectos, para se evitar a possível confusão na cabeça dos guardiães.

DE CABEÇA LEVANTADA OU DE FOCINHO AO CHÃO? Existem especialidades que reclamam ambas as acções e outras que apenas valorizam uma delas, consoante se procure o rasto ou a rápida detecção pelos círculos odoríferos. Assim como cada serviço tem um simulacro próprio e um anfiteatro operacional diferente, do mesmo modo se procuram cães com diversos processos de detecção (um prisioneiro em fuga, desde que tenha ocasião para isso, facilmente iludirá um cão de rasto e um “soterrado” poderá perecer perante a delonga de um cão de cabeça levantada).

CRESCENDO OPERATIVO. O desenvolvimento e a adequação dos cães para a tarefa deve ser gradual e acontecer de acordo com a satisfação dos resultados obtidos. Evoluiremos do lar para o exterior, da planície para a montanha, dos ecossistemas húmidos para os secos, dos horários nocturnos para os diurnos, do espaço rural para o urbano, aumentaremos a distância da área a bater e retardaremos o início da busca.

PROPÓSITOS E OBJECTIVOS. A prática da pistagem não deve compreender somente o uso dos cães, mas deve ser primeiro desenvolvida em prol do seu bem-estar, porque é uma actividade que lhes é grata e contribui para o reforço dos vínculos binomiais necessários ao bom desempenho noutras disciplinas cinotécnicas, podendo inclusive ser usada apenas com esse fim, já que um cão acostumado a procurar o dono dificilmente o perderá de vista. Deseja-se que os cães consigam pistar com sucesso em altitudes até 1.500 m, em ecossistemas onde a humidade seja nula ou quase nula, debaixo de qualquer amplitude térmica e em condições extraordinárias (na procura de pessoas ou objectos para além das 72 horas do seu desaparecimento). O exercício do “busca” em altitudes superiores à atrás indicada é próprio para cães excepcionais e para binómios excelentes (profissionais ou semi-profissionais).

O “BUSCA” E A PROCURA DE CÃES DESAPARECIDOS. Os clássicos treinadores de cães, quiçá pelo peso dos seus pergaminhos e mais apostados nas exibições, abominam este serviço e escondem-se quando são solicitados para tal, quer empurrando o encargo para outros quer desculpando-se com a especificidade dos seus cães, que segundo eles se destinam a serviços “mais nobres”. Essa presunção não lhes encherá a barriga e quando acordarem talvez venha a ser tarde demais. O público reclama por um serviço destes e muita gente ficaria agradecida.

AS OPERAÇÕES DE “BUSCA” E O PERDIGUEIRO NACIONAL. Temos em Portugal um cão inato para a pistagem: o Perdigueiro Português. Os indivíduos desta raça são maioritariamente dóceis, fáceis de constituir equipa, são vigorosos, arrojados e resistentes, cuidadosos e silenciosos a actuar, capazes de rastrear dos dois modos e são extremamente glutões, o que os coloca sempre disponíveis para a tarefa atendendo ao peso da recompensa. Infelizmente não são universais e apresentam algumas dificuldades diante de baixas temperaturas. Porém, podem tornar-se excelentes cães de resgate e salvamento nos perímetros urbanos e rurais.

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