sábado, 21 de maio de 2022

KIRA: VENCER A ACROFOBIA

 

Não se treinam cães como se preparam apressadamente soldados para um conflito, que vão para o combate correndo sérios riscos de vida, porque temos todo o tempo do mundo e quando o não temos, para quê desperdiçá-lo na aquisição e educação de um cão? A CPA Kira sofre de acrofobia (medo das alturas), um medo muito comum em cães, no caso dela advindo de um quadro de experiências pobre durante a infância associado ao seu exacerbado instinto de sobrevivência. Quando esta lupina é confrontada com planos elevados mostra-se nervosa, agitada e treme, evidenciando em simultâneo mal-estar, tensão muscular e respiração acelerada.

Torna-se evidente que a solução deste problema não passa por deixá-la cair de um baloiço duas ou três vezes ou forçá-la na entrada dos obstáculos elevadores, desequilibrando-a depois no seu topo, práticas reprováveis que só tendem a agravar ainda mais o problema. Como a acrofobia da Kira não é resultante de nenhum trauma sofrido, ela irá ser vencida gradualmente, dos obstáculos elevadores mais baixos para os mais altos e dos mais largos para os mais estreitos, porque a aquisição do equilíbrio é indispensável. A acrofobia não é o único medo que pode afectar os cães, havendo alguns que poderão não dispensar o uso de medicação prescrita pelos veterinários. Por causa da acrofobia e para vencê-la, os obstáculos elevadores (paliçadas, passerelles, baloiços, trapézios, etc.), tanto as pistas tácticas como nas desportivas, sempre se fazem presentes.

Acontece com a Kira o que sucede com a maioria dos cães que foram privados do exercício físico regular durante a fase de crescimento, cuja idade da cópia foi desaproveitada, causando-lhe assim sérios entraves ao seu desempenho, vindo a adquirir práticas e comportamentos tangíveis aos humanos, que ao contrário dos cães não passam a vida aos pulos e a exercitar-se numa multivariedade de obstáculos. Em termos de rendimento físico e de equilíbrio psicológico, um cão adulto que nunca se exercitou em obstáculos naturais ou artificiais, é nisto equivalente a um cachorro de 4 meses de idade. Como aquecimento e preparação para os diferentes obstáculos, quando nos encontramos no exterior, nomeadamente nas áreas urbanas, subir e descer escadas é um dos exercícios mais recomendáveis, para além de ser óptimo manter a boa forma física dos cães, como exercício de manutenção.

Uma das dificuldades experimentadas por quem ensina cães é a resistência que alguns demonstram frente aos obstáculos verticais. Essa resistência fica a dever-se ao facto dos animais não verem imediatamente a sua saída, pelo que é de todo conveniente, antes de lhes pedirmos os saltos, empoleirá-los com as suas patas sobre a linha de transposição para que vejam e saibam o que está para além dela. Na foto abaixo vemos a Kira a saltar um banco de alvenaria pintada de verde, efectuando a transposição da assento para as suas costas.

Depois disso convidámo-la para saltar um comum banco de jardim, também do assento para as costas, exactamente por ser mais fácil, porque importava que ganhasse a confiança necessária para ir adiante e não temer, tendo assim todas as razões para seguir as indicações do seu líder.

Já familiarizada com o trabalho pretendido e confiante no seu mestre, esta CPA conseguiu ultrapassar com facilidade um obstáculo vertical metálico e irregular - um aparelho próprio para o exercício físico regular dos humanos.

Para nós, como é do conhecimento geral, a sobrevivência canina é o objectivo central do adestramento e, como tal, porque o tínhamos à disposição, ensinámos de imediato a Kira a beber de um bebedouro à sua disposição naquele parque, ensino que prontamente assimilou por força do calor que se fazia sentir.

Aconteceu uma aula individual num final de tarde quente e um subsídio indispensável para o rendimento colectivo escolar. A Kira teve todas as atenções, aproveitou-as, saiu feliz e hoje dará mostras das vitórias alcançadas ontem. Valeu a pena!

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