Não
se treinam cães como se preparam apressadamente soldados para um conflito, que
vão para o combate correndo sérios riscos de vida, porque temos todo o tempo do
mundo e quando o não temos, para quê desperdiçá-lo na aquisição e educação de
um cão? A CPA Kira sofre de acrofobia (medo das alturas), um medo muito comum
em cães, no caso dela advindo de um quadro de experiências pobre durante a infância
associado ao seu exacerbado instinto de sobrevivência. Quando esta lupina é
confrontada com planos elevados mostra-se nervosa, agitada e treme,
evidenciando em simultâneo mal-estar, tensão muscular e respiração acelerada.
Torna-se
evidente que a solução deste problema não passa por deixá-la cair de um baloiço
duas ou três vezes ou forçá-la na entrada dos obstáculos elevadores, desequilibrando-a
depois no seu topo, práticas reprováveis que só tendem a agravar ainda mais o
problema. Como a acrofobia da Kira não é resultante de nenhum trauma sofrido,
ela irá ser vencida gradualmente, dos obstáculos elevadores mais baixos para os
mais altos e dos mais largos para os mais estreitos, porque a aquisição do
equilíbrio é indispensável. A acrofobia não é o único medo que pode afectar os
cães, havendo alguns que poderão não dispensar o uso de medicação prescrita
pelos veterinários. Por causa da acrofobia e para vencê-la, os obstáculos elevadores
(paliçadas, passerelles, baloiços, trapézios, etc.), tanto as pistas tácticas
como nas desportivas, sempre se fazem presentes.
Acontece
com a Kira o que sucede com a maioria dos cães que foram privados do exercício
físico regular durante a fase de crescimento, cuja idade da cópia foi
desaproveitada, causando-lhe assim sérios entraves ao seu desempenho, vindo a
adquirir práticas e comportamentos tangíveis aos humanos, que ao contrário dos
cães não passam a vida aos pulos e a exercitar-se numa multivariedade de
obstáculos. Em termos de rendimento físico e de equilíbrio psicológico, um cão
adulto que nunca se exercitou em obstáculos naturais ou artificiais, é nisto
equivalente a um cachorro de 4 meses de idade. Como aquecimento e preparação
para os diferentes obstáculos, quando nos encontramos no exterior, nomeadamente
nas áreas urbanas, subir e descer escadas é um dos exercícios mais
recomendáveis, para além de ser óptimo manter a boa forma física dos cães, como
exercício de manutenção.
Uma
das dificuldades experimentadas por quem ensina cães é a resistência que alguns
demonstram frente aos obstáculos verticais. Essa resistência fica a dever-se ao
facto dos animais não verem imediatamente a sua saída, pelo que é de todo
conveniente, antes de lhes pedirmos os saltos, empoleirá-los com as suas patas
sobre a linha de transposição para que vejam e saibam o que está para além
dela. Na foto abaixo vemos a Kira a saltar um banco de alvenaria pintada de
verde, efectuando a transposição da assento para as suas costas.
Depois
disso convidámo-la para saltar um comum banco de jardim, também do assento para
as costas, exactamente por ser mais fácil, porque importava que ganhasse a
confiança necessária para ir adiante e não temer, tendo assim todas as razões
para seguir as indicações do seu líder.
Já
familiarizada com o trabalho pretendido e confiante no seu mestre, esta CPA
conseguiu ultrapassar com facilidade um obstáculo vertical metálico e irregular
- um aparelho próprio para o exercício físico regular dos humanos.
Para
nós, como é do conhecimento geral, a sobrevivência canina é o objectivo
central do adestramento e, como tal, porque o tínhamos à disposição, ensinámos
de imediato a Kira a beber de um bebedouro à sua disposição naquele parque,
ensino que prontamente assimilou por força do calor que se fazia sentir.
Aconteceu
uma aula individual num final de tarde quente e um subsídio indispensável para
o rendimento colectivo escolar. A Kira teve todas as atenções, aproveitou-as,
saiu feliz e hoje dará mostras das vitórias alcançadas ontem. Valeu a pena!