É hábito na Acendura Brava proceder à
Troca de Condutores, manobra que consiste na condução de todos os cães em
classe por todos os condutores presentes, trabalho que só acontece depois do
estabelecimento dos vínculos afectivos necessários a cada binómio e que termina
logo após a inserção da “contra-ordem”, tarefa que garante ao dono o uso
exclusivo do seu cão. A Troca de Condutores, como tantas vezes temos explicado,
é benéfica tanto para os homens como para os cães, além de elucidar quem dirige
a classe àcerca da evolução de cada constituinte binomial. A somar a isto, o
que é de suma importância, servimo-nos dela como manobra de sociabilização
animal e como meio para combater a sempre presente cinofobia de alguns
condutores, ainda que por vezes encoberta.
Sabemos, tanto pela ciência quanto
pela experiência, que a inserção de qualquer comando torna-se mais fácil e é
mais duradoura quanto mais próxima estiver da resposta natural animal, porque
evita a coerção gratuita e a indesejável ruptura cognitiva. E nisto reside a
arte do adestramento: no aproveitamento que leva à transformação, o que nos
transporta para a clarividência dos donos como primeira responsável pelo
sucesso ou insucesso do ensino canino, verdade que desagrada a quem esconde as
suas incapacidades por detrás do cão que conduz e que sempre atribui ao animal a
causa dos seus desacertos ou desaires.
Uma das dificuldades que enfrentamos
no início do treino é a de condicionar os cães atrelados a fazer o “À Frente”,
deslocando-se na dianteira dos seus condutores a todo o comprimento da trela.
Contrariamente á algazarra que por aí vai, que jura ter visto um cão perigoso a
cada esquina, a maioria dos cães que nos chega é submissa, pouco propensa à
autonomia e assaz dependente. Por outro lado e também por causa disso, não vá o
diabo tecê-las, os condutores actuais são menos flexíveis e tolerantes, criando
assim sérios obstáculos à cumplicidade indispensável ao adestramento,
promovendo nos animais que conduzem temor e desconfiança.
Quando a um débil caracter se junta
uma liderança prepotente ou desapropriada, dificilmente o animal se sentirá
confortável e evoluirá na frente do seu condutor, porque lhe falta coragem para
tanto e receia em demasia a correcção, o que de imediato condenará o aviso e
segurança do dono, isto se o cão se destinar à defesa pessoal ou à guarda, já que
nas ruas mal iluminadas, onde é necessária a presença dissuasora do animal, ele
jamais se adiantará para bater território, o que vulnerabilizará de
sobremaneira o binómio. Temos para nós como certo e não corremos o risco de nos
enganarmos que, na fase inicial do treino, os cães valentes aprendem sem
delongas o “À frente” e os mais submissos o “Atrás”, necessitando os primeiros
somente de regra e os segundos de bastante ânimo.
Por norma e quando na Pista Táctica,
procuramos solução nos “corredores direccionais”, um conjunto de obstáculos
verticais que dispostos em paralelo formam uma passagem estreita geralmente com
2.5 mt de comprimento, colocando nela primeiro o cão e só depois o dono. Estes
corredores podem também ser dispostos no círculo de obediência. Contudo, os
resultados não são sempre os esperados, porque alguns cães apenas se adiantam
nos corredores e assumem o “junto” no resto do percurso. Com a troca de
condutores que possibilita o adiantamento do condutor para o cão da frente, o
animal em défice, ao procurar o parceiro, depressa aprenderá o “À frente”.
Antevendo-se da pouca duração da
estratégia aplicada, porque a figura é artificial nestes cães, convém que em
paralelo seja reforçada pela experiência feliz e objecto de recapitulação
doméstica. Para a experiência feliz valer-nos-emos dum brinquedo da preferência
do cão, que jogaremos àvante para que o animal o vá buscar, associando-lhe ao
mesmo tempo o comando de “À frente”. Em casa, a maneira mais fácil para
alcançar e instalar o comando é usá-lo nas saídas do cão para o exterior,
ocasiões em que se encontra ávido de ir para a rua.
O comando
de “À frente” possibilita ainda o auxílio do dono nas subidas íngremes
(escadeadas ou não) e a evolução binomial nas passagens estreitas onde o
“junto” não é possível. E este irá ser o uso mais frequente do comando. Os cães
que por meios extraordinários o alcançaram, não deverão ser convidados para o
patrulhamento e demais manobras de segurança, porque na eventualidade de um
confronto poderão acobardar-se de vez e abandonar em definitivo o uso do
comando. Esta verdade projecta-nos também para os actuais testes de carácter em
voga nalguns clubes de raça, onde qualquer cobarde entre valentes, por
habituação, trabalho gradual e subtileza de meios, se acostuma aos disparos e
sai feliz para os ataques lançados, porque sabe ao que vai, conhece o final da
história e nunca será alvo de qualquer contra-ataque digno desse nome. Aqui,
como em outros tantas situações e casos, as aparências iludem e o show must go on!
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