quarta-feira, 31 de outubro de 2012

TROCA DE CONDUTORES E O “À FRENTE”


É hábito na Acendura Brava proceder à Troca de Condutores, manobra que consiste na condução de todos os cães em classe por todos os condutores presentes, trabalho que só acontece depois do estabelecimento dos vínculos afectivos necessários a cada binómio e que termina logo após a inserção da “contra-ordem”, tarefa que garante ao dono o uso exclusivo do seu cão. A Troca de Condutores, como tantas vezes temos explicado, é benéfica tanto para os homens como para os cães, além de elucidar quem dirige a classe àcerca da evolução de cada constituinte binomial. A somar a isto, o que é de suma importância, servimo-nos dela como manobra de sociabilização animal e como meio para combater a sempre presente cinofobia de alguns condutores, ainda que por vezes encoberta.
Sabemos, tanto pela ciência quanto pela experiência, que a inserção de qualquer comando torna-se mais fácil e é mais duradoura quanto mais próxima estiver da resposta natural animal, porque evita a coerção gratuita e a indesejável ruptura cognitiva. E nisto reside a arte do adestramento: no aproveitamento que leva à transformação, o que nos transporta para a clarividência dos donos como primeira responsável pelo sucesso ou insucesso do ensino canino, verdade que desagrada a quem esconde as suas incapacidades por detrás do cão que conduz e que sempre atribui ao animal a causa dos seus desacertos ou desaires.
Uma das dificuldades que enfrentamos no início do treino é a de condicionar os cães atrelados a fazer o “À Frente”, deslocando-se na dianteira dos seus condutores a todo o comprimento da trela. Contrariamente á algazarra que por aí vai, que jura ter visto um cão perigoso a cada esquina, a maioria dos cães que nos chega é submissa, pouco propensa à autonomia e assaz dependente. Por outro lado e também por causa disso, não vá o diabo tecê-las, os condutores actuais são menos flexíveis e tolerantes, criando assim sérios obstáculos à cumplicidade indispensável ao adestramento, promovendo nos animais que conduzem temor e desconfiança.
Quando a um débil caracter se junta uma liderança prepotente ou desapropriada, dificilmente o animal se sentirá confortável e evoluirá na frente do seu condutor, porque lhe falta coragem para tanto e receia em demasia a correcção, o que de imediato condenará o aviso e segurança do dono, isto se o cão se destinar à defesa pessoal ou à guarda, já que nas ruas mal iluminadas, onde é necessária a presença dissuasora do animal, ele jamais se adiantará para bater território, o que vulnerabilizará de sobremaneira o binómio. Temos para nós como certo e não corremos o risco de nos enganarmos que, na fase inicial do treino, os cães valentes aprendem sem delongas o “À frente” e os mais submissos o “Atrás”, necessitando os primeiros somente de regra e os segundos de bastante ânimo.
Por norma e quando na Pista Táctica, procuramos solução nos “corredores direccionais”, um conjunto de obstáculos verticais que dispostos em paralelo formam uma passagem estreita geralmente com 2.5 mt de comprimento, colocando nela primeiro o cão e só depois o dono. Estes corredores podem também ser dispostos no círculo de obediência. Contudo, os resultados não são sempre os esperados, porque alguns cães apenas se adiantam nos corredores e assumem o “junto” no resto do percurso. Com a troca de condutores que possibilita o adiantamento do condutor para o cão da frente, o animal em défice, ao procurar o parceiro, depressa aprenderá o “À frente”.
Antevendo-se da pouca duração da estratégia aplicada, porque a figura é artificial nestes cães, convém que em paralelo seja reforçada pela experiência feliz e objecto de recapitulação doméstica. Para a experiência feliz valer-nos-emos dum brinquedo da preferência do cão, que jogaremos àvante para que o animal o vá buscar, associando-lhe ao mesmo tempo o comando de “À frente”. Em casa, a maneira mais fácil para alcançar e instalar o comando é usá-lo nas saídas do cão para o exterior, ocasiões em que se encontra ávido de ir para a rua.
 
O comando de “À frente” possibilita ainda o auxílio do dono nas subidas íngremes (escadeadas ou não) e a evolução binomial nas passagens estreitas onde o “junto” não é possível. E este irá ser o uso mais frequente do comando. Os cães que por meios extraordinários o alcançaram, não deverão ser convidados para o patrulhamento e demais manobras de segurança, porque na eventualidade de um confronto poderão acobardar-se de vez e abandonar em definitivo o uso do comando. Esta verdade projecta-nos também para os actuais testes de carácter em voga nalguns clubes de raça, onde qualquer cobarde entre valentes, por habituação, trabalho gradual e subtileza de meios, se acostuma aos disparos e sai feliz para os ataques lançados, porque sabe ao que vai, conhece o final da história e nunca será alvo de qualquer contra-ataque digno desse nome. Aqui, como em outros tantas situações e casos, as aparências iludem e o show must go on!

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