Não fosse o espectro da Lei, a maioria
dos proprietários caninos andaria com os seus animais à solta por toda a parte,
mesmo assim, há quem persista na desobediência e coloque em risco pessoas e
cães, porque a condução há trela tem regras e nem sempre é cómoda e prática,
limita a liberdade de movimentos e obriga a alguma atenção. Quem não se quer
ver nestes assados, tem condições e não prescinde da companhia dos cães, acaba
por colocá-los dentro de quintas e moradias, onde os tem à vontade, quase sem
restrições e livres de incómodo. Mais cedo ou mais tarde, por uma razão ou por
outra, os donos vêem-se obrigados a atrelar os cães, o que não irá ser do
agrado dos animais e os levará a comportar-se como autênticos poldros quando
laçados pela primeira vez. Quando a coisa se complica, porque o cão leva o
condutor de rojo, tem muita força, embrulha-se na trela ou faz finca-pé e não
anda, rumam finalmente a uma escola, ondem chegam exaustos como vindos de dura
faena: o dono a escorrer suor e o cão preso a uma corrente. E como se isto não
bastasse, os donos destes animais ainda reclamam por brevidade no ensino!
Geralmente são bons clientes para o internato dos seus cães, porque não se
querem maçar e pagam o que for preciso. Infelizmente, nem sempre são bem
servidos, por culpa da sua ignorância e falta de profissionalismo de quem
assume a incumbência.
Um cão adulto deve ser atrelado com os
mesmos cuidados dispensados a um cachorro com dois meses de idade, atendendo à
experiência feliz, à novidade do trabalho e ao alcance suave e progressivo da autonomia
condicionada que não dispensa o exercício da liderança, que importa ser
consentânea, cúmplice, paciente e arguta. O respeito por estas condições poderá
isentar o dono do cão dos primeiros passos (porque pode nem saber pegar na
trela), e levar à sua substituição pelo adestrador ou por outro condutor mais
experiente. Contudo, um cuidado à que haver: o de verificar os graus de
dominância e agressividade presentes no cão, normalmente identificáveis pelas
suas intenções, expressões mímicas e vozes utilizadas (bufar, ganir, gemer,
ladrar, latir, rosnar, uivar, etc.), geralmente potenciadas quer pelo sexo quer
pela idade. Na dúvida deve colocar-se o açaime no cão e considerar-se o
particular do grupo somático a que pertence. Os trajectos iniciais a respeitar
deverão ser do desconhecido para o conhecido, ser de dentro para fora, da pista
de treino para o carro do dono e este deverá permanecer calado durante a
evolução, porque doutro modo aumentará a resistência do cão e fará com que nos
desobedeça. Sempre que possível (e nem sempre o é), podemos valer-nos doutros
cães como fila-guias, tirando-se partido do particular social presente nos
cães, o que muito nos ajudará prà sua futura integração nas classes escolares.
Os trajectos escolhidos deverão ser curtos e bastante espaçados entre si, o cão
deverá ser amplamente incentivado e recompensado, mesmo que o trabalho não
decorra às mil maravilhas, porque a adaptação não é automática e a ruptura deve
ser evitada a todo o custo.
Quando o
cão já conseguir andar, satisfatoriamente, no círculo destinado à obediência
linear, é altura de chamarmos o dono para a constituição binominal,
adiantando-lhe tanto os requisitos técnicos como os automatismos a instalar,
meios que lhe irão possibilitar uma condução mais solta e sem atropelos. Quando
assim procedemos, o dono sai feliz pelo progresso e o cão não ganhou aversão ou
temor pela escola, o que fará gostar do adestramento e procurar o convívio com
os outros cães. Entretanto, e esta é a parte mais delicada, deve-se convidar o
dono para uma melhor coabitação com o animal, incentivá-lo para a recapitulação
doméstica e para a assiduidade escolar, que sendo hábitos novos, são passíveis
da sua resistência, rara disponibilidade ou pouco empenho. Importa começar bem
porque os cães vivem da experiência que têm.
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