terça-feira, 16 de março de 2010

Esconder-se para não correr atrás

Temos como meta pelo “Quadro de Crescimento Funcional”, logo a partir do 2º mês de vida, convidar os cachorros para a procura do dono e demais objectos seus conhecidos, nomeadamente a procura do seu prato da comida, começando a instalar assim o comando de “busca”. Procuramos com isto não desaproveitar o faro dos nossos amigos, aproveitando a mais-valia desse sentido para a sobrevivência do cachorro e para a futura divisão de tarefas, estabelecendo ao mesmo tempo os alicerces da liderança. Graças ao potencial do faro presente nos cães, nenhuma actividade lhes é mais grata do que a pistagem, porque o seu exercício e resposta são-lhes naturais. Daí não compreendermos o adestramento sem o contributo da pistagem, já que ela traz vantagens para as restantes disciplinas clássicas ou específicas, reforçando os vínculos afectivos que tornam possível a completa constituição binomial. Os cães bajulados, de prato cheio e tornados marajás, tendem a mandar bugiar os donos e bem depressa aprendem a fugir deles. Infelizmente muita gente só dá pelo cão depois de o tratar como gente e descobrir que afinal ele é um animal diferente. Não estamos com isto a dizer que a relação homem-cão não deva ser filial, mas a condenar o antropomorfismo que baseado em verdades fictícias desrespeita o particular canino, pondo em risco a sua sobrevivência e atentando contra os demais.

O cão detesta estar só desde a ancestralidade, porque sendo um animal social confunde-se com a solidão e sempre procura pares. A excursão está-lhe no sangue e ligada à sua sobrevivência, identifica maioritariamente os animais e as coisas pelo som que despertam e pelo odor que emanam, tendo naturalmente uma memória olfactiva bastante desenvolvida, à parte que as suas narinas funcionam como verdadeiros extractores de odores. O particular da sua transpiração leva-o a procurar os iguais, a identificar os inimigos e as presas a capturar. Tirar partido dessa tendência é fulcral e irá revelar-se de extrema utilidade. Acostumar o cão a procurar o dono é combater o seu propósito de evasão, é mostrar-lhe que está melhor acompanhado do que só, quando procura o líder e busca o seu consolo e protecção. Como já foi dito, o trabalho é do agrado do animal e pode substituir outros que inventa e que nem sempre merecem a aprovação do dono. Cães que desde tenra idade se acostumaram a pistar, dificilmente largam o líder e de pronto se apresentam prà tarefa. E depois, mais vale alcançar a parceria naturalmente do que optar por medidas mais austeras ou coercivas, coisa fácil de acontecer quando a disciplina de pistagem é banida dos conteúdos a ministrar. Esta semana lá fomos nós, mata adentro e para gáudio dos cães. Os resultados foram surpreendentes e o tempo esteve de feição.

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