É preciso mais do que uma candeia para se ver o que é e onde se encontra a classe média portuguesa. Não obstante, dizem alguns políticos que será ela a pagar a actual crise. Nem mesmo pela evidência dos sinais exteriores de riqueza se consegue lá chegar, considerando o património herdado ou hipotecado a sustentar, porque o mundo não pára e são poucos os que conseguem aumentar os seus proventos. Talvez o adestramento nisso ajude e dê uma ideia mais tangível daquilo que é a classe média mercê dos gastos a que obriga, porque nela habita a maior parte dos proprietários que trazem os cães para o treino. As contas entre nós são simples de fazer, porque seguimos o método da precocidade e sabemos quanto custa um cão ao final de um ano. Do modo que os nossos alunos os criam, um cachorro estará entre 3.000 e 5.000 € ao fim de 12 meses, resultando essa diferença do preço de aquisição dispendido na compra de cada animal. Para além desse valor, os valores referidos comportam as despesas relativas à compra de acessórios próprios, à alimentação, ao acompanhamento médico-veterinário, ao adestramento e as ligadas ao transporte, sem se equacionar o tempo dispendido e por isso mesmo não remunerável. Daí em diante, o preço da manutenção do animal será substancialmente mais baixo e oscilará entre os 380 e os 650 € anuais, isto se tudo correr bem e não houver lugar a tratamentos, internamentos, intervenções cirúrgicas ou compensações de vária ordem.
Como se antevê, os mais carenciados terão algumas dificuldades em se fazer acompanhar por cães e levá-los ao treino, por mais barato e célere que ele que ele seja, porque tal opção agravaria ainda mais a sua sobrevivência e obrigaria a economia familiar a reajustamentos mais austeros. Por outro lado, as classes sociais mais favorecidas dificilmente concorrem ao adestramento e quando o fazem, valem-se usualmente de empregados para o efeito ou pagam para que o adestrador o faça, porque se encontram cativas a outros interesses, procuram outros hobbies, gastam as suas energias noutras preferências e apostam noutro tipo de companhias. Eliminando os mais ricos e os mais pobres, encontramos a dita classe média, também ela subdividida em múltiplas categorias e mais ou menos estável. Um cidadão solteiro com 1.000 € de salário, a pagar ao banco a casa e o automóvel, sem heranças e desprovido de ajudas, dificilmente conseguirá sustentar um cão e satisfazer as despesas que lhe são relativas. A opção visível pelos pequenos cães de companhia não é arbitrária e acaba por reflectir os parcos proventos dos seus proprietários, gente que faz do rafeiro um companheiro e que assim suaviza os golpes desferidos pela solidão.
Antes de mais nada, importa dizer que este Blog foi feito com um objectivo: o de socorrer os proprietários caninos mais desfavorecidos, dando-lhes subsídios gratuitos que garantam a harmonia binomial e a sua inserção harmoniosa na sociedade, muito embora grande número deles não tenha computador e abomine as novas tecnologias. Talvez os filhos ou os netos o tenham, resta-nos essa esperança. A publicação semanal dos seus textos encontra-se cativa às perguntas que nos são enviadas e à solução dos problemas que nos são colocados, independentemente da sua origem ou grau de proximidade, porque os cães estão cá e importa protegê-los (que raio de ofício havíamos de desencantar!). Voltemos à temática.
Considerando a actualidade, um casal com 2.000 € líquidos mensais já pode sustentar um cão de raça e suportar os cuidados que ele requer sem descorar outras obrigações, ainda que o faça debaixo de alguma austeridade e não rara ginástica orçamental, prescindindo de outras escolhas e apostando no mesmo propósito. Contudo, qualquer auxílio dos pais será bem-vindo e é comum existir, independentemente dos jovens serem proprietários de cães ou não. Neste leque salarial se encontra a classe média baixa, não raramente associada a um casal jovem recém empregado ou em início de carreira. Os aposentados presentes nas fileiras do adestramento recebem pensões de valor semelhante ou acrescidas de proventos compensatórios que lhes disponibilizam igual montante. A média dos líderes escolares aufere salários mensais, conjuntos ou isolados, entre os 2.300 e os 3.000 € e os que auferem acima dos 5.000 € são muito raros, dedicam-se a outras actividades, têm outras opções e buscam outros propósitos. É evidente que os que não pagam renda e já pagaram o carro podem sustentar o animal com montantes inferiores, sem agravar a sua sobrevivência e apertar o cinto ao cão ou cães.
Uma saca de ração de qualidade ronda em média os 50 € e um cão médio come entre 10 a 18 sacas anuais, o que não está ao alcance de qualquer um. Pode um cidadão com salário mensal inferior aos 1.000 € sustentar um cão? Pode e geralmente acontece, por ajuda de terceiros, pelo amargo de boca do animal ou pelo seu reduzido consumo alimentar. As pessoas de parcos recursos e muitos cães concorrem às “rações de combate”, às de gama baixa, presentes nas grandes superfícies e que apresentam valores proteicos inferiores e reduzida percentagem de gordura (proteína inferior a 15% e gordura abaixo dos 10%). Como se antevê, estes cães não devem ser convidados para o adestramento, face à disparidade entre o consumo e o desperdício de energia, porque comem somente para se manter de pé e envelhecem a olhos vistos, ainda que jovens ou na força da idade. Não será isto um verdadeiro atentado? Até quando faremos jus ao aforismo que diz: “burro com fome até cardos come”.
É a classe média que sustenta o adestramento, maioritariamente constituída por profissionais liberais, assalariados de média remuneração, crianças suportadas pelos pais e aposentados de quadros superiores. Quando o desemprego grassa e a crise mais se agrava, naturalmente o concurso ao adestramento vai sendo menor e a procura de cães diminui, o seu preço baixa drasticamente e muitos criadores “fecham a loja” ou furtam-se a maiores despesas e encargos. A nossa classe média não pode neste momento ser comparada com as suas congéneres europeias, nomeadamente com a da França, onde o salário mínimo é sensivelmente três vezes superior ao português, o que não é de admirar num país sem recursos naturais e que se ajoelha aos pés da virgem para que não chova, intercedendo-lhe pela vinda dos turistas. Recentemente o Eduardo Santos foi para Paris, para junto da família e de cães às costas (Micks e Vega). Como intentava continuar o adestramento dos seus companheiros, debandou à procura de escolas caninas e assustou-se com a falta de equipamento de algumas. Mas a maior surpresa aconteceu quando perguntou o montante da mensalidade: 370 € por cão, só para ministrar obediência e uma única vez por semana! O custo médio mensal do adestramento em Portugal ronda 1/6 do nosso salário mínimo e o francês em pouco ultrapassa esse percentual. Outras realidades!
Viver em função do que temos é imperioso, considerando o nosso bem-estar e contando com as horas de infortúnio, pela nossa salvaguarda e da daqueles que temos ao nosso encargo. Assim como é verdade que quem não tem tempo para cães, não deve desperdiçá-lo na sua procura, também quem anda sobrecarregado, não deve aumentar os seus encargos e assumir a responsabilidade de ter um cão. Os cães são um pequeno luxo e não um produto de primeira necessidade, são para quem pode e infelizmente não podem ser para todos os que os desejam. A evolução da humanidade já transferiu estes animais do clero e da nobreza para a comum classe média, o tempo de todos possuírem um cão ainda não chegou, talvez amanhã isso venha a suceder. A fuga aos veterinários, o abandono dos cães e o consumo exagerado de rações de baixa qualidade, são indícios de rotura e reflectem também vários flagelos sociais, porque se o homem foi o animal que mais evolui, o cão foi quem melhor o acompanhou. Em síntese, a qualidade dos cães em Portugal, o seu número e o concurso ao adestramento, dependem inequivocamente dos avanços ou retrocessos da classe média nacional. Quando a abastança reina, os cães engordam; quando a miséria avança, há quem fique com as costelas a apanhar banhos de sol. Pense demoradamente antes de adquirir um cão, porque manter uma vida tem os seus custos e importa preservá-la o melhor possível. Apesar de biodegradáveis, os cães ainda não são descartáveis, pelo menos para a maioria daqueles que gostem deles, os que os alimentam a preceito, que regularmente os levam ao veterinário, que optam pela sua educação e os passeiam diaramente de acordo com as suas necessidades.
Como se antevê, os mais carenciados terão algumas dificuldades em se fazer acompanhar por cães e levá-los ao treino, por mais barato e célere que ele que ele seja, porque tal opção agravaria ainda mais a sua sobrevivência e obrigaria a economia familiar a reajustamentos mais austeros. Por outro lado, as classes sociais mais favorecidas dificilmente concorrem ao adestramento e quando o fazem, valem-se usualmente de empregados para o efeito ou pagam para que o adestrador o faça, porque se encontram cativas a outros interesses, procuram outros hobbies, gastam as suas energias noutras preferências e apostam noutro tipo de companhias. Eliminando os mais ricos e os mais pobres, encontramos a dita classe média, também ela subdividida em múltiplas categorias e mais ou menos estável. Um cidadão solteiro com 1.000 € de salário, a pagar ao banco a casa e o automóvel, sem heranças e desprovido de ajudas, dificilmente conseguirá sustentar um cão e satisfazer as despesas que lhe são relativas. A opção visível pelos pequenos cães de companhia não é arbitrária e acaba por reflectir os parcos proventos dos seus proprietários, gente que faz do rafeiro um companheiro e que assim suaviza os golpes desferidos pela solidão.
Antes de mais nada, importa dizer que este Blog foi feito com um objectivo: o de socorrer os proprietários caninos mais desfavorecidos, dando-lhes subsídios gratuitos que garantam a harmonia binomial e a sua inserção harmoniosa na sociedade, muito embora grande número deles não tenha computador e abomine as novas tecnologias. Talvez os filhos ou os netos o tenham, resta-nos essa esperança. A publicação semanal dos seus textos encontra-se cativa às perguntas que nos são enviadas e à solução dos problemas que nos são colocados, independentemente da sua origem ou grau de proximidade, porque os cães estão cá e importa protegê-los (que raio de ofício havíamos de desencantar!). Voltemos à temática.
Considerando a actualidade, um casal com 2.000 € líquidos mensais já pode sustentar um cão de raça e suportar os cuidados que ele requer sem descorar outras obrigações, ainda que o faça debaixo de alguma austeridade e não rara ginástica orçamental, prescindindo de outras escolhas e apostando no mesmo propósito. Contudo, qualquer auxílio dos pais será bem-vindo e é comum existir, independentemente dos jovens serem proprietários de cães ou não. Neste leque salarial se encontra a classe média baixa, não raramente associada a um casal jovem recém empregado ou em início de carreira. Os aposentados presentes nas fileiras do adestramento recebem pensões de valor semelhante ou acrescidas de proventos compensatórios que lhes disponibilizam igual montante. A média dos líderes escolares aufere salários mensais, conjuntos ou isolados, entre os 2.300 e os 3.000 € e os que auferem acima dos 5.000 € são muito raros, dedicam-se a outras actividades, têm outras opções e buscam outros propósitos. É evidente que os que não pagam renda e já pagaram o carro podem sustentar o animal com montantes inferiores, sem agravar a sua sobrevivência e apertar o cinto ao cão ou cães.
Uma saca de ração de qualidade ronda em média os 50 € e um cão médio come entre 10 a 18 sacas anuais, o que não está ao alcance de qualquer um. Pode um cidadão com salário mensal inferior aos 1.000 € sustentar um cão? Pode e geralmente acontece, por ajuda de terceiros, pelo amargo de boca do animal ou pelo seu reduzido consumo alimentar. As pessoas de parcos recursos e muitos cães concorrem às “rações de combate”, às de gama baixa, presentes nas grandes superfícies e que apresentam valores proteicos inferiores e reduzida percentagem de gordura (proteína inferior a 15% e gordura abaixo dos 10%). Como se antevê, estes cães não devem ser convidados para o adestramento, face à disparidade entre o consumo e o desperdício de energia, porque comem somente para se manter de pé e envelhecem a olhos vistos, ainda que jovens ou na força da idade. Não será isto um verdadeiro atentado? Até quando faremos jus ao aforismo que diz: “burro com fome até cardos come”.
É a classe média que sustenta o adestramento, maioritariamente constituída por profissionais liberais, assalariados de média remuneração, crianças suportadas pelos pais e aposentados de quadros superiores. Quando o desemprego grassa e a crise mais se agrava, naturalmente o concurso ao adestramento vai sendo menor e a procura de cães diminui, o seu preço baixa drasticamente e muitos criadores “fecham a loja” ou furtam-se a maiores despesas e encargos. A nossa classe média não pode neste momento ser comparada com as suas congéneres europeias, nomeadamente com a da França, onde o salário mínimo é sensivelmente três vezes superior ao português, o que não é de admirar num país sem recursos naturais e que se ajoelha aos pés da virgem para que não chova, intercedendo-lhe pela vinda dos turistas. Recentemente o Eduardo Santos foi para Paris, para junto da família e de cães às costas (Micks e Vega). Como intentava continuar o adestramento dos seus companheiros, debandou à procura de escolas caninas e assustou-se com a falta de equipamento de algumas. Mas a maior surpresa aconteceu quando perguntou o montante da mensalidade: 370 € por cão, só para ministrar obediência e uma única vez por semana! O custo médio mensal do adestramento em Portugal ronda 1/6 do nosso salário mínimo e o francês em pouco ultrapassa esse percentual. Outras realidades!
Viver em função do que temos é imperioso, considerando o nosso bem-estar e contando com as horas de infortúnio, pela nossa salvaguarda e da daqueles que temos ao nosso encargo. Assim como é verdade que quem não tem tempo para cães, não deve desperdiçá-lo na sua procura, também quem anda sobrecarregado, não deve aumentar os seus encargos e assumir a responsabilidade de ter um cão. Os cães são um pequeno luxo e não um produto de primeira necessidade, são para quem pode e infelizmente não podem ser para todos os que os desejam. A evolução da humanidade já transferiu estes animais do clero e da nobreza para a comum classe média, o tempo de todos possuírem um cão ainda não chegou, talvez amanhã isso venha a suceder. A fuga aos veterinários, o abandono dos cães e o consumo exagerado de rações de baixa qualidade, são indícios de rotura e reflectem também vários flagelos sociais, porque se o homem foi o animal que mais evolui, o cão foi quem melhor o acompanhou. Em síntese, a qualidade dos cães em Portugal, o seu número e o concurso ao adestramento, dependem inequivocamente dos avanços ou retrocessos da classe média nacional. Quando a abastança reina, os cães engordam; quando a miséria avança, há quem fique com as costelas a apanhar banhos de sol. Pense demoradamente antes de adquirir um cão, porque manter uma vida tem os seus custos e importa preservá-la o melhor possível. Apesar de biodegradáveis, os cães ainda não são descartáveis, pelo menos para a maioria daqueles que gostem deles, os que os alimentam a preceito, que regularmente os levam ao veterinário, que optam pela sua educação e os passeiam diaramente de acordo com as suas necessidades.
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