O QUE É O “JUNTO”. O “Junto” é a pedra basilar da obediência, uma figura dinâmica que suporta outras de igual índole e que possibilita o cumprimento pronto e imediato das figuras de imobilização presentes no adestramento clássico. Deve acontecer a duas mãos, quer o cão se desloque ordinariamente à esquerda do condutor ou à sua direita. Consiste no alinhamento binomial em progressão, isento de esforço ou tensão e reforça a sua unidade de propósitos, deslocando-se o cão ao lado do condutor, debaixo de ordem, e de acordo com a velocidade e direcção que lhe são requeridas, independentemente da natureza dos ecossistemas ou obstáculos colocados à sua frente, segundo o seu conhecimento e preparo anteriores. A tangente entre o joelho esquerdo do líder e o ombro direito do cão, quando conduzido à esquerda, sem tensão, persuasão, coerção, inibição ou reparo, demonstra a assimilação plena do comando e projecta as suas mais-valias.
MEIOS PARA A OBTENÇÃO DO “JUNTO”. Apesar de condenável, grande número de cães virá a alcançar o comando através da persuasão ou da coerção, pelo artificialismo do condicionamento e pelo contributo sistemático da mecanicidade das acções, o que acaba por ser desnudado pela mímica dos cães no desempenho da figura. A transição para a memória associativa, e aqui não sabemos dizer se afortunada ou desafortunadamente, considerando a sobrevivência canina, não é de caminho único e pode lá chegar-se pelos trilhos da memória afectiva ou da mecânica, consoante a experiência directa dos animais, a sua carga instintiva, a sua instalação doméstica e o grau de afeição que nutrem pelos seus condutores. O atrelamento tardio ou inexistente, o isolamento ordinário dos animais, o desaproveitamento dos diferentes ciclos infantis e o trabalho abusivo e não recompensado, são factores que induzirão à posterior mecanicidade das acções e que sempre deixarão marcas, psíquicas e físicas de difícil eliminação, porque as faculdades cognitivas caninas se baseiam quase em exclusivo na sua capacidade de memorização, profundamente sensorial e por isso mesmo de difícil eliminação.
TEMPO E MODO CERTOS PARA ATRELAR. Diz o povo: “quem nasce torto, tarde ou nunca se endireita” e aqui parece ter também alguma razão. O momento certo para se atrelar um cachorro é por volta dos 2 meses de idade, 15 dias depois de haver chegado a nossa casa, ter estabelecido connosco vínculos afectivos e quando tropeça em nós constantemente, por força da sua tendência gregária e que importa aproveitar. Primeiro deve-se colocar a coleira e só depois de se ter acostumado a ela, deveremos convidá-lo para que nos siga à trela. A habituação à coleira não é instantânea nem automática e o cachorro sente-se incomodado, tentando expulsá-la como se de um corpo estranho se tratasse. Geralmente ao cabo de 3 dias a aceitação acontece e podemos passar à fase seguinte. Tanto a coleira quanto a trela devem ser vistos pelo cachorro como um presente, um meio para alcançar as coisas do seu agrado, tarefa facilitada pela procura da recompensa e pelo convite para a brincadeira. A habituação à trela deve ser gradual, acontecer por aceitação e nunca por imposição. É melhor repetir o exercício espaçadamente do que esganar o cachorro e sujeitá-lo a distâncias que nos parecem razoáveis. As pequenas lições devem acabar em apogeu, debaixo da resposta afirmativa do animal, para que guarde do acessório uma experiência feliz. Talvez no primeiro dia só ganhemos 30 cm, mas pouco a pouco chegaremos adiante. O tempo de supercompensação (recompensa, evasão e brincadeira) deve ser superior ao do trabalho específico, até que o cachorro entenda também a trela como uma ocasião lúdica.
COMO ATRELAR UM CÃO QUE SEMPRE ANDOU EM LIBERDADE. Os centros de treino caninos sempre são confrontados com este problema e quando o solucionam, os donos julgam-se na presença de um milagre e descobrem afinal algum préstimo no cão, tal qual inocentes e vítimas do seu despropósito, o que não é de todo verdade. Neste caso, a resistência e a vulnerabilidade do cão face à trela devem ser considerados, porque um “junto” forçado sempre aponta para a fuga e dá azo ao disparate, podendo instalar vícios mais ou menos duradouros, dificultando assim os automatismos direccionais sucedâneos e obstando à correcta execução das figuras de imobilização. Optar pela coerção e enveredar por acessórios repressivos é a pior das opções, porque a liderança torna-se abusiva e o cão procurará avidamente a liberdade perdida. As primeiras lições são as menos rentáveis do ponto de vista laboral imediato, muito embora sejam de suma importância e possibilitem um futuro “junto” sem atropelos. O alinhamento carece de ser gradual e alcançado mediante estímulo. Nas aulas colectivas e mercê da presença de outros cães, porque o melhor exemplo para um cão é outro cão, a tarefa encontra-se facilitada e a condução do animal acontecerá de modo mais célere, graças à identificação e ao seu particular social.
IMPLICAÇÕES DA MÍMICA HUMANA NA RESPOSTA ANIMAL. A postura adoptada por alguns condutores pode dificultar a assimilação do comando de “junto”, por transmitir em simultâneo duas mensagens antagónicas, estabelecendo assim a confusão na cabeça do animal e invalidando a ordem expressa. Parece irrisório mas vale a pena relembrar, que deve ser o conduzido a olhar para o condutor e não o inverso, já que é um bípede que conduz um quadrúpede e é ele quem estabelece os alinhamentos. Condutores que se deslocam normalmente curvados, dependendo do perfil psicológico de cada cão, podem obrigar o animal ao mesmo tipo de postura, por força do impacto visual emprestado, causando stress e por vezes até irritabilidade, porque a sua linguagem corporal indica outros subsídios para além da unidade binomial. O “junto” adiantado ou atrasado, impróprio ou desconsertado, resulta disso mesmo e deve de imediato ser abandonado, porque não se procura a evasão, o travamento ou a punição, mensagens que os “marrecos” involuntariamente indiciam. Depois de alcançados os necessários vínculos afectivos com o cão, o condutor deve manter a postura erecta, sensível e descontraída, debaixo da comodidade que a locomoção oferece. Todas as metas anteriores ao “junto”, manobras simples de estímulo que visam a relação de paridade e o despertar da cumplicidade, preparam o comando e trazem uma novidade: o exercício da liderança, acção que o cão assimila e que o dono necessita. A capacidade canina para aceitar novos desafios depende inequivocamente da postura de quem vai no comando e uma postura desleixada tende a ser desrespeitada.
BENEFÍCIOS DO “JUNTO” PARA O CONHECIMENTO DO CÃO. O modo como o cão evolui no comando, na fase inicial do treino, acaba por denunciar qual o seu perfil psicológico e as vantagens ou desvantagens físicas que para ele concorrem. Os cães dominantes tendem a rebocar os donos e os submissos a ser rebocados, muito embora os mimados se apresentem para além da sua personalidade e de acordo com o seu estatuto, assim como aqueles que por via ambiental receberam doses maciças de ânimo e adquiriram um comportamento fornecido pela indução. Uns e outros, pela contrariedade da inibição, bem cedo evidenciarão qual a sua natureza e o porquê da sua actuação. As incapacidades físicas ou anomalias morfológicas podem atentar contra o mais salutar perfil psicológico de um cão, isto se desde a infância se vir obrigado a retratar-se diante de outros isentos de igual incapacidade e agraciados por excelentes impulsos. O instinto de sobrevivência impede o cão de se transformar num louco e ele necessita, compreende e assimila a hierarquia. Por vezes algumas incapacidades articulares tornam-se mais visíveis no exercício do “junto”, providenciando o estoiro precoce dos animais e a sua justificada resistência à ordem.
A TRANSCENDÊNCIA OPERATIVA DO“JUNTO”. Ao regrar os valentes e ao incentivar os fracos, operando por substituição da matilha animal e usufruindo das vantagens do sentimento gregário canino, o “junto” consegue submeter os mais audazes, dar alento aos submissos e recuperar os inibidos, dizendo para os primeiros: “não te adiantes”, aos segundos: “vem para o meu lado” e aos terceiros: “comigo estás seguro”. E o mais interessante, uma vez garantidos o preparo e a capacitação necessários, é que o cão vai acreditar nisso e confundir a ficção com a realidade, porquanto é irracional e vive da experiência que tem.
“JUNTO” E SOCIABILIZAÇÃO. Esta figura de obediência é um dos meios mais eficazes para se operar a sociabilização canina, porque permite o seu alcance no meio das dificuldades e estabelece o código de conduta procurado mediante condicionamento, possibilitando a correcção atempada e impossibilitando os riscos de confrontação (quando operada à trela). As comuns manobras de sociabilização, que podem não dispensar o uso do comando inibitório “não”, são dinâmicas ou estáticas, segundo a natureza dos automatismos requeridos (direccionais ou de imobilização). Exceptuando as relativas ao “quieto”, a sua esmagadora maioria é alcançada a partir do “junto” ou do “aqui” quando usado em sua substituição. Normalmente iniciamos as manobras de sociabilização pelas de índole dinâmica, pelo concurso do “junto”, porque facilita a familiarização e possibilita a identificação entre cães, factores contribuintes para a aceitação da heterogenia das matilhas. Tanto a evolução de esquadras quanto as evoluções de carrossel são manobras típicas de sociabilização e só possíveis pelo seu contributo.
COMO EXECUTAR O “JUNTO”. Primeiro é preciso saber como pegar na trela e isso já explicámos atrás. Como a execução da figura vai obrigar os condutores a outro tipo de apoios e equilíbrios, importa de antemão que a desempenhem erectos e sem réstia de tensão. O braço que suporta a mão de condução deve cair naturalmente sobre a coxa do mesmo lado e dar ao pulso a maior mobilidade e sensibilidade possíveis, para que a mão se inteire dos avanços ou recuos do cão que queremos ver alinhado e opere a sua correcção. É errado conduzir debaixo de tensão ou fricção, usar a mão como travão de estacionamento ou fazer dela uma estaca ou prisão, porque para além de incómodo, cansativo e doloroso para o condutor, atrasando em simultâneo o alcance dos seus intentos, suscita no animal desencanto e o desejo de se libertar. Inversamente, quando o cão reboca o dono, deve ceder-se um pouco a trela e depois operar o seu reajustamento. O mesmo procedimento é válido para os cães que naturalmente se atrasam. Os comandos verbais a utilizar dependerão da idade e índole dos cães convidados para a figura. Perante um adulto teimoso e desafiador, apostado em lograr os intentos do dono e desinteressado de qualquer tipo de recompensa, a dicotomia “não” – “junto”, parece-nos o procedimento mais recomendável. O “não” deve soltar-se quando o cão resiste ou se escapa ao alinhamento e ser posteriormente acompanhado pelo “junto”. O cão evolui certo na figura quando alinha na passada a sua pata dianteira pelo pé que vai adiante do seu condutor. Nos momentos em que o animal mantém o alinhamento deve ser superiormente felicitado ou recompensado, para que entenda que labora debaixo do agrado do dono. Feliz é o cão e radiante é o binómio que nunca precisaram do “não”, que estabeleceram a sua unidade pela cumplicidade e sempre andaram lado a lado. Executar a figura com cachorros requer cuidados especiais, porque importa estimular e sustentar o crescimento saudável dos infantes, por si mesmos vulneráveis e carenciados de ajuda. Antes da maturidade sexual, coisa possível a partir dos 6 meses de idade, é contraproducente lançar mão de qual inibição ou comando inibitório, particularmente entre os mais débeis e àqueles que se destinam a serviços de autonomia policial. A assimilação do comando não é instantânea e necessita amiúde de ser reavivada, por sobrecarga ou por recapitulação, dentro do razoável e segundo o progresso obtido.
O “JUNTO” NOS DIVERSOS ANDAMENTOS. O “Junto” deve ser alcançado nos 3 andamentos naturais caninos (passo, marcha e galope). Ainda que o passo de andadura seja genético e próprio de alguns cães ou raças caninas, ele deve ser desprezado no ensino clássico, porque não muscula e convida ao relaxe. No entanto, ele é de extrema utilidade e próprio para a actividade cinegética. Porque treinamos cães a partir dos 4 meses de idade, entendemos que o “Junto” deve iniciar-se a passo e só depois transitar para os andamentos seguintes, de acordo com o crescimento e desejo dos animais. Compreendemos isso como uma tarefa doméstica antecedente ao treino e chave para o sucesso das futuras evoluções. O andamento preferencial escolar é o intermédio: a marcha, porque é um musculador por excelência e possibilita naturalmente, por aceleração ou desaceleração, a transição automática para os restantes andamentos naturais caninos. A somar a isto, a marcha fortalece a frequência dos seus ritmos vitais sem obstar ao recurso da sua mais-valia sensorial, mantendo os necessários indíces de prontidão pelo concurso do alento. E como o “ter mais olhos que barriga” é histórico e cardíaco, superabundam entre nós condutores com cão a mais e altura a menos, realçando a sua impropriedade e sujeitando-se a duros esforços. A diferença da altura binomial recomendável é de 110 cm e a aceitável de 100 cm. Quando isto não acontece, os condutores obrigam-se a uma maior disponibilidade física e à obtenção de outros índices atléticos. Quando a altura dos condutores ultrapassa essa diferença, nenhum problema subsiste (pelo menos para eles) A evolução de andamentos no “junto” deve pressupor as transições naturais caninas, iniciar-se no passo, fundamentar-se na marcha e evoluir para o galope, tal qual canta o outro: “side by side, always together”.
A CADÊNCIA DE MARCHA RECOMENDÁVEL. Uma vez obtido o “Junto” em marcha, deseja-se que ele evolua dos 5 para os 7.8 km/hora em distâncias que respeitem a preparação anterior, o particular dos indivíduos e a natureza do seu serviço. Um cão adulto saudável e activo deve marchar diariamente uma légua em prol do seu bem-estar global, deve ser convidado para diferentes ecossistemas e cada percurso deve trazer-lhe algo de novo, para que a sua adaptação não cesse e a sua curiosidade não esmoreça. Há que combater o envelhecimento precoce e trabalhar para a longevidade do nosso fiel amigo.
O “JUNTO” DA TRELA PARA A CONDUÇÃO EM LIBERDADE E DOS COMANDOS VERBAIS PARA OS GESTUAIS. A assimilação objectiva do automatismo garante a mesma prestação canina quando em liberdade, mercê da uniformidade de procedimentos e fruto do condicionamento. Certos cães ou raças chegarão à condução em liberdade mais cedo do que outros, por razões genéticas, ambientais ou resultantes da combinação entre ambas. A execução do “junto” atrelado sempre espreita a condução em liberdade e diminui substancialmente o número de acidentes ou disparates. A transição do comando verbal para a mensagem gestual deve acontecer ainda com o cão atrelado, quando o conduzimos de trela aos ombros e batemos com a mão na coxa por substituição. O desempenho em liberdade, em contravenção com a Lei, carece de preparação e teste prévios, sendo apenas recomendável onde o risco de perigo seja nulo, tanto para o cão como para terceiros e não atente contra as disposições legais em vigor.
LOCAIS ONDE TESTAR O “JUNTO” EM LIBERDADE. O local privilegiado para esse efeito é o espaço ou o perímetro escolar, porque ali podem reproduzir-se simulacros tangíveis às dificuldades quotidianas encontradas pelos cães, assim como prepará-los para a novidade de desafios, perante a nulidade dos riscos e usufruindo do acompanhamento e aconselhamento do adestrador. O espaço doméstico, se houver quintal ou terreno murado circundante, pode e deve ser também usado. No adestramento, qualquer trabalho de capacitação deve obedecer a metas gradativas face ao objectivo procurado e nelas se evolui pela plena satisfação da que imediatamente as precedeu. Não raramente, o retorno à meta anterior, aquilo a que chamamos retorno à 1ª fase, possibilita também um melhor aproveitamento na seguinte. É errado testar na incerteza da resposta animal, fazer dos outros cobaias ou sujeitá-los ao infortúnio, porque o cão desaprende e são os outros que vão pagar as favas.
PARA ONDE DEVE O CÃO OLHAR NO “JUNTO”? A discussão tem barbas, pode resultar do conflito de gerações, fundamenta-se na diferença de métodos e tanto a uns como a outros cabe alguma razão. A polémica assenta sobre os índices de prontidão e atenção, sobre a conservação ou não de ambos na satisfação das diferentes prestações caninas. Nos métodos mais actuais o cão evolui no “junto” com os olhos postos no condutor, que geralmente avança de braço dobrado ao peito, denunciando assim qual meio usado para a obtenção da figura. A fixação exclusiva na pessoa do dono ou naquilo que usualmente trazia ao peito, assim como pode evitar muitos disparates e garantir a prontidão das ordens, vulnerabiliza também o binómio pelo desaproveitamento dos mecanismos de atenção do cão, entregando ao condutor mais essa tarefa. Binómios com estas características destinam-se actualmente à guarda de propriedades privadas ou de entrepostos comerciais, acompanham o transporte de valores e funcionam eventualmente como primeira barreira de segurança para indivíduos ou conferencistas (policiamento do perímetro adjacente). No nosso caso e privilegiando a herança que nos foi deixada, também porque somos civis e andamos com os cães por todo o lado, damos maior peso aos indíces de atenção caninos, restituindo aos animais a liberdade sensorial inerente à nossa salvaguarda, o que nos obriga à cessação pronta e imediata das acções indesejáveis ou não solicitadas. Por causa disso os nossos cães olham em frente no “junto”, despertos para a realidade que nos cerca, funcionando como aviso, advertência e presença ostensiva. E quando não possuem características para isso, podem pelo menos continuar a ser cães e a usufruir da companhia dos seus donos sem maior stress, diminuindo o seu esforço e aumentando a comodidade de ambos.
O “JUNTO” COM DOIS CÃES. Reportamo-nos à prestação unitária pela capacitação individual, porque o bom desempenho colectivo sobrevive pela correcta prestação dos indivíduos que o compõem. É mais fácil treinar os cães em separado e ministrar-lhes idêntico grau de ensino, porque assim se evita o indesejável amatilhamento que pode obstar à escolha do líder certo. Ainda que os cães possam transitar no mesmo lado de condução, isso só deve acontecer em casos excepcionais ou em situações relativas ao seu bem-estar ou dos demais, porque circulando ambos do mesmo lado, o que vai por fora, gradualmente vai adulterando o “junto” por habituação. Qualquer “junto” que permita o distanciamento lateral entre cão e dono a mais de 25 cm é impróprio e indigno desse nome, porque possibilita a autonomia canina inusitada, diminui os seus indíces de prontidão, compromete o desempenho binomial e sempre traz consequências. A opção certa é avançar com um à direita e outro à esquerda, alternadamente e de acordo com o terreno a bater face ao particular dos indivíduos, porque não há dois cães iguais e cada um reage de forma diferente diante de igual problema. Muito ainda haveria a dizer sobre o “junto” e certamente não nos faltará ocasião para voltarmos ao assunto. As dúvidas são bem-vindas e a nossa disponibilidade a usual.
MEIOS PARA A OBTENÇÃO DO “JUNTO”. Apesar de condenável, grande número de cães virá a alcançar o comando através da persuasão ou da coerção, pelo artificialismo do condicionamento e pelo contributo sistemático da mecanicidade das acções, o que acaba por ser desnudado pela mímica dos cães no desempenho da figura. A transição para a memória associativa, e aqui não sabemos dizer se afortunada ou desafortunadamente, considerando a sobrevivência canina, não é de caminho único e pode lá chegar-se pelos trilhos da memória afectiva ou da mecânica, consoante a experiência directa dos animais, a sua carga instintiva, a sua instalação doméstica e o grau de afeição que nutrem pelos seus condutores. O atrelamento tardio ou inexistente, o isolamento ordinário dos animais, o desaproveitamento dos diferentes ciclos infantis e o trabalho abusivo e não recompensado, são factores que induzirão à posterior mecanicidade das acções e que sempre deixarão marcas, psíquicas e físicas de difícil eliminação, porque as faculdades cognitivas caninas se baseiam quase em exclusivo na sua capacidade de memorização, profundamente sensorial e por isso mesmo de difícil eliminação.
TEMPO E MODO CERTOS PARA ATRELAR. Diz o povo: “quem nasce torto, tarde ou nunca se endireita” e aqui parece ter também alguma razão. O momento certo para se atrelar um cachorro é por volta dos 2 meses de idade, 15 dias depois de haver chegado a nossa casa, ter estabelecido connosco vínculos afectivos e quando tropeça em nós constantemente, por força da sua tendência gregária e que importa aproveitar. Primeiro deve-se colocar a coleira e só depois de se ter acostumado a ela, deveremos convidá-lo para que nos siga à trela. A habituação à coleira não é instantânea nem automática e o cachorro sente-se incomodado, tentando expulsá-la como se de um corpo estranho se tratasse. Geralmente ao cabo de 3 dias a aceitação acontece e podemos passar à fase seguinte. Tanto a coleira quanto a trela devem ser vistos pelo cachorro como um presente, um meio para alcançar as coisas do seu agrado, tarefa facilitada pela procura da recompensa e pelo convite para a brincadeira. A habituação à trela deve ser gradual, acontecer por aceitação e nunca por imposição. É melhor repetir o exercício espaçadamente do que esganar o cachorro e sujeitá-lo a distâncias que nos parecem razoáveis. As pequenas lições devem acabar em apogeu, debaixo da resposta afirmativa do animal, para que guarde do acessório uma experiência feliz. Talvez no primeiro dia só ganhemos 30 cm, mas pouco a pouco chegaremos adiante. O tempo de supercompensação (recompensa, evasão e brincadeira) deve ser superior ao do trabalho específico, até que o cachorro entenda também a trela como uma ocasião lúdica.
COMO ATRELAR UM CÃO QUE SEMPRE ANDOU EM LIBERDADE. Os centros de treino caninos sempre são confrontados com este problema e quando o solucionam, os donos julgam-se na presença de um milagre e descobrem afinal algum préstimo no cão, tal qual inocentes e vítimas do seu despropósito, o que não é de todo verdade. Neste caso, a resistência e a vulnerabilidade do cão face à trela devem ser considerados, porque um “junto” forçado sempre aponta para a fuga e dá azo ao disparate, podendo instalar vícios mais ou menos duradouros, dificultando assim os automatismos direccionais sucedâneos e obstando à correcta execução das figuras de imobilização. Optar pela coerção e enveredar por acessórios repressivos é a pior das opções, porque a liderança torna-se abusiva e o cão procurará avidamente a liberdade perdida. As primeiras lições são as menos rentáveis do ponto de vista laboral imediato, muito embora sejam de suma importância e possibilitem um futuro “junto” sem atropelos. O alinhamento carece de ser gradual e alcançado mediante estímulo. Nas aulas colectivas e mercê da presença de outros cães, porque o melhor exemplo para um cão é outro cão, a tarefa encontra-se facilitada e a condução do animal acontecerá de modo mais célere, graças à identificação e ao seu particular social.
IMPLICAÇÕES DA MÍMICA HUMANA NA RESPOSTA ANIMAL. A postura adoptada por alguns condutores pode dificultar a assimilação do comando de “junto”, por transmitir em simultâneo duas mensagens antagónicas, estabelecendo assim a confusão na cabeça do animal e invalidando a ordem expressa. Parece irrisório mas vale a pena relembrar, que deve ser o conduzido a olhar para o condutor e não o inverso, já que é um bípede que conduz um quadrúpede e é ele quem estabelece os alinhamentos. Condutores que se deslocam normalmente curvados, dependendo do perfil psicológico de cada cão, podem obrigar o animal ao mesmo tipo de postura, por força do impacto visual emprestado, causando stress e por vezes até irritabilidade, porque a sua linguagem corporal indica outros subsídios para além da unidade binomial. O “junto” adiantado ou atrasado, impróprio ou desconsertado, resulta disso mesmo e deve de imediato ser abandonado, porque não se procura a evasão, o travamento ou a punição, mensagens que os “marrecos” involuntariamente indiciam. Depois de alcançados os necessários vínculos afectivos com o cão, o condutor deve manter a postura erecta, sensível e descontraída, debaixo da comodidade que a locomoção oferece. Todas as metas anteriores ao “junto”, manobras simples de estímulo que visam a relação de paridade e o despertar da cumplicidade, preparam o comando e trazem uma novidade: o exercício da liderança, acção que o cão assimila e que o dono necessita. A capacidade canina para aceitar novos desafios depende inequivocamente da postura de quem vai no comando e uma postura desleixada tende a ser desrespeitada.
BENEFÍCIOS DO “JUNTO” PARA O CONHECIMENTO DO CÃO. O modo como o cão evolui no comando, na fase inicial do treino, acaba por denunciar qual o seu perfil psicológico e as vantagens ou desvantagens físicas que para ele concorrem. Os cães dominantes tendem a rebocar os donos e os submissos a ser rebocados, muito embora os mimados se apresentem para além da sua personalidade e de acordo com o seu estatuto, assim como aqueles que por via ambiental receberam doses maciças de ânimo e adquiriram um comportamento fornecido pela indução. Uns e outros, pela contrariedade da inibição, bem cedo evidenciarão qual a sua natureza e o porquê da sua actuação. As incapacidades físicas ou anomalias morfológicas podem atentar contra o mais salutar perfil psicológico de um cão, isto se desde a infância se vir obrigado a retratar-se diante de outros isentos de igual incapacidade e agraciados por excelentes impulsos. O instinto de sobrevivência impede o cão de se transformar num louco e ele necessita, compreende e assimila a hierarquia. Por vezes algumas incapacidades articulares tornam-se mais visíveis no exercício do “junto”, providenciando o estoiro precoce dos animais e a sua justificada resistência à ordem.
A TRANSCENDÊNCIA OPERATIVA DO“JUNTO”. Ao regrar os valentes e ao incentivar os fracos, operando por substituição da matilha animal e usufruindo das vantagens do sentimento gregário canino, o “junto” consegue submeter os mais audazes, dar alento aos submissos e recuperar os inibidos, dizendo para os primeiros: “não te adiantes”, aos segundos: “vem para o meu lado” e aos terceiros: “comigo estás seguro”. E o mais interessante, uma vez garantidos o preparo e a capacitação necessários, é que o cão vai acreditar nisso e confundir a ficção com a realidade, porquanto é irracional e vive da experiência que tem.
“JUNTO” E SOCIABILIZAÇÃO. Esta figura de obediência é um dos meios mais eficazes para se operar a sociabilização canina, porque permite o seu alcance no meio das dificuldades e estabelece o código de conduta procurado mediante condicionamento, possibilitando a correcção atempada e impossibilitando os riscos de confrontação (quando operada à trela). As comuns manobras de sociabilização, que podem não dispensar o uso do comando inibitório “não”, são dinâmicas ou estáticas, segundo a natureza dos automatismos requeridos (direccionais ou de imobilização). Exceptuando as relativas ao “quieto”, a sua esmagadora maioria é alcançada a partir do “junto” ou do “aqui” quando usado em sua substituição. Normalmente iniciamos as manobras de sociabilização pelas de índole dinâmica, pelo concurso do “junto”, porque facilita a familiarização e possibilita a identificação entre cães, factores contribuintes para a aceitação da heterogenia das matilhas. Tanto a evolução de esquadras quanto as evoluções de carrossel são manobras típicas de sociabilização e só possíveis pelo seu contributo.
COMO EXECUTAR O “JUNTO”. Primeiro é preciso saber como pegar na trela e isso já explicámos atrás. Como a execução da figura vai obrigar os condutores a outro tipo de apoios e equilíbrios, importa de antemão que a desempenhem erectos e sem réstia de tensão. O braço que suporta a mão de condução deve cair naturalmente sobre a coxa do mesmo lado e dar ao pulso a maior mobilidade e sensibilidade possíveis, para que a mão se inteire dos avanços ou recuos do cão que queremos ver alinhado e opere a sua correcção. É errado conduzir debaixo de tensão ou fricção, usar a mão como travão de estacionamento ou fazer dela uma estaca ou prisão, porque para além de incómodo, cansativo e doloroso para o condutor, atrasando em simultâneo o alcance dos seus intentos, suscita no animal desencanto e o desejo de se libertar. Inversamente, quando o cão reboca o dono, deve ceder-se um pouco a trela e depois operar o seu reajustamento. O mesmo procedimento é válido para os cães que naturalmente se atrasam. Os comandos verbais a utilizar dependerão da idade e índole dos cães convidados para a figura. Perante um adulto teimoso e desafiador, apostado em lograr os intentos do dono e desinteressado de qualquer tipo de recompensa, a dicotomia “não” – “junto”, parece-nos o procedimento mais recomendável. O “não” deve soltar-se quando o cão resiste ou se escapa ao alinhamento e ser posteriormente acompanhado pelo “junto”. O cão evolui certo na figura quando alinha na passada a sua pata dianteira pelo pé que vai adiante do seu condutor. Nos momentos em que o animal mantém o alinhamento deve ser superiormente felicitado ou recompensado, para que entenda que labora debaixo do agrado do dono. Feliz é o cão e radiante é o binómio que nunca precisaram do “não”, que estabeleceram a sua unidade pela cumplicidade e sempre andaram lado a lado. Executar a figura com cachorros requer cuidados especiais, porque importa estimular e sustentar o crescimento saudável dos infantes, por si mesmos vulneráveis e carenciados de ajuda. Antes da maturidade sexual, coisa possível a partir dos 6 meses de idade, é contraproducente lançar mão de qual inibição ou comando inibitório, particularmente entre os mais débeis e àqueles que se destinam a serviços de autonomia policial. A assimilação do comando não é instantânea e necessita amiúde de ser reavivada, por sobrecarga ou por recapitulação, dentro do razoável e segundo o progresso obtido.
O “JUNTO” NOS DIVERSOS ANDAMENTOS. O “Junto” deve ser alcançado nos 3 andamentos naturais caninos (passo, marcha e galope). Ainda que o passo de andadura seja genético e próprio de alguns cães ou raças caninas, ele deve ser desprezado no ensino clássico, porque não muscula e convida ao relaxe. No entanto, ele é de extrema utilidade e próprio para a actividade cinegética. Porque treinamos cães a partir dos 4 meses de idade, entendemos que o “Junto” deve iniciar-se a passo e só depois transitar para os andamentos seguintes, de acordo com o crescimento e desejo dos animais. Compreendemos isso como uma tarefa doméstica antecedente ao treino e chave para o sucesso das futuras evoluções. O andamento preferencial escolar é o intermédio: a marcha, porque é um musculador por excelência e possibilita naturalmente, por aceleração ou desaceleração, a transição automática para os restantes andamentos naturais caninos. A somar a isto, a marcha fortalece a frequência dos seus ritmos vitais sem obstar ao recurso da sua mais-valia sensorial, mantendo os necessários indíces de prontidão pelo concurso do alento. E como o “ter mais olhos que barriga” é histórico e cardíaco, superabundam entre nós condutores com cão a mais e altura a menos, realçando a sua impropriedade e sujeitando-se a duros esforços. A diferença da altura binomial recomendável é de 110 cm e a aceitável de 100 cm. Quando isto não acontece, os condutores obrigam-se a uma maior disponibilidade física e à obtenção de outros índices atléticos. Quando a altura dos condutores ultrapassa essa diferença, nenhum problema subsiste (pelo menos para eles) A evolução de andamentos no “junto” deve pressupor as transições naturais caninas, iniciar-se no passo, fundamentar-se na marcha e evoluir para o galope, tal qual canta o outro: “side by side, always together”.
A CADÊNCIA DE MARCHA RECOMENDÁVEL. Uma vez obtido o “Junto” em marcha, deseja-se que ele evolua dos 5 para os 7.8 km/hora em distâncias que respeitem a preparação anterior, o particular dos indivíduos e a natureza do seu serviço. Um cão adulto saudável e activo deve marchar diariamente uma légua em prol do seu bem-estar global, deve ser convidado para diferentes ecossistemas e cada percurso deve trazer-lhe algo de novo, para que a sua adaptação não cesse e a sua curiosidade não esmoreça. Há que combater o envelhecimento precoce e trabalhar para a longevidade do nosso fiel amigo.
O “JUNTO” DA TRELA PARA A CONDUÇÃO EM LIBERDADE E DOS COMANDOS VERBAIS PARA OS GESTUAIS. A assimilação objectiva do automatismo garante a mesma prestação canina quando em liberdade, mercê da uniformidade de procedimentos e fruto do condicionamento. Certos cães ou raças chegarão à condução em liberdade mais cedo do que outros, por razões genéticas, ambientais ou resultantes da combinação entre ambas. A execução do “junto” atrelado sempre espreita a condução em liberdade e diminui substancialmente o número de acidentes ou disparates. A transição do comando verbal para a mensagem gestual deve acontecer ainda com o cão atrelado, quando o conduzimos de trela aos ombros e batemos com a mão na coxa por substituição. O desempenho em liberdade, em contravenção com a Lei, carece de preparação e teste prévios, sendo apenas recomendável onde o risco de perigo seja nulo, tanto para o cão como para terceiros e não atente contra as disposições legais em vigor.
LOCAIS ONDE TESTAR O “JUNTO” EM LIBERDADE. O local privilegiado para esse efeito é o espaço ou o perímetro escolar, porque ali podem reproduzir-se simulacros tangíveis às dificuldades quotidianas encontradas pelos cães, assim como prepará-los para a novidade de desafios, perante a nulidade dos riscos e usufruindo do acompanhamento e aconselhamento do adestrador. O espaço doméstico, se houver quintal ou terreno murado circundante, pode e deve ser também usado. No adestramento, qualquer trabalho de capacitação deve obedecer a metas gradativas face ao objectivo procurado e nelas se evolui pela plena satisfação da que imediatamente as precedeu. Não raramente, o retorno à meta anterior, aquilo a que chamamos retorno à 1ª fase, possibilita também um melhor aproveitamento na seguinte. É errado testar na incerteza da resposta animal, fazer dos outros cobaias ou sujeitá-los ao infortúnio, porque o cão desaprende e são os outros que vão pagar as favas.
PARA ONDE DEVE O CÃO OLHAR NO “JUNTO”? A discussão tem barbas, pode resultar do conflito de gerações, fundamenta-se na diferença de métodos e tanto a uns como a outros cabe alguma razão. A polémica assenta sobre os índices de prontidão e atenção, sobre a conservação ou não de ambos na satisfação das diferentes prestações caninas. Nos métodos mais actuais o cão evolui no “junto” com os olhos postos no condutor, que geralmente avança de braço dobrado ao peito, denunciando assim qual meio usado para a obtenção da figura. A fixação exclusiva na pessoa do dono ou naquilo que usualmente trazia ao peito, assim como pode evitar muitos disparates e garantir a prontidão das ordens, vulnerabiliza também o binómio pelo desaproveitamento dos mecanismos de atenção do cão, entregando ao condutor mais essa tarefa. Binómios com estas características destinam-se actualmente à guarda de propriedades privadas ou de entrepostos comerciais, acompanham o transporte de valores e funcionam eventualmente como primeira barreira de segurança para indivíduos ou conferencistas (policiamento do perímetro adjacente). No nosso caso e privilegiando a herança que nos foi deixada, também porque somos civis e andamos com os cães por todo o lado, damos maior peso aos indíces de atenção caninos, restituindo aos animais a liberdade sensorial inerente à nossa salvaguarda, o que nos obriga à cessação pronta e imediata das acções indesejáveis ou não solicitadas. Por causa disso os nossos cães olham em frente no “junto”, despertos para a realidade que nos cerca, funcionando como aviso, advertência e presença ostensiva. E quando não possuem características para isso, podem pelo menos continuar a ser cães e a usufruir da companhia dos seus donos sem maior stress, diminuindo o seu esforço e aumentando a comodidade de ambos.
O “JUNTO” COM DOIS CÃES. Reportamo-nos à prestação unitária pela capacitação individual, porque o bom desempenho colectivo sobrevive pela correcta prestação dos indivíduos que o compõem. É mais fácil treinar os cães em separado e ministrar-lhes idêntico grau de ensino, porque assim se evita o indesejável amatilhamento que pode obstar à escolha do líder certo. Ainda que os cães possam transitar no mesmo lado de condução, isso só deve acontecer em casos excepcionais ou em situações relativas ao seu bem-estar ou dos demais, porque circulando ambos do mesmo lado, o que vai por fora, gradualmente vai adulterando o “junto” por habituação. Qualquer “junto” que permita o distanciamento lateral entre cão e dono a mais de 25 cm é impróprio e indigno desse nome, porque possibilita a autonomia canina inusitada, diminui os seus indíces de prontidão, compromete o desempenho binomial e sempre traz consequências. A opção certa é avançar com um à direita e outro à esquerda, alternadamente e de acordo com o terreno a bater face ao particular dos indivíduos, porque não há dois cães iguais e cada um reage de forma diferente diante de igual problema. Muito ainda haveria a dizer sobre o “junto” e certamente não nos faltará ocasião para voltarmos ao assunto. As dúvidas são bem-vindas e a nossa disponibilidade a usual.
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