Não
seria honesto ocultar para os leitores deste blogue as minhas convicções
religiosas, uma vez que me entendo como um luterano confessional, pedindo
diariamente a Deus que assim me preserve até ao meu reencontro final com Ele,
sendo nisto um português pouco tradicional. Deste modo, não creio e não aceito
outro interlocutor ou intercessor entre a humanidade e Deus a não ser Jesus
Cristo, seu filho unigénito que veio ao mundo para nos reconciliar com o Pai,
pagando com a sua morte o preço das transgressões de todos e para todos
alcançou vida eterna ao ressuscitar, isto segundo a Fé que nos deu. o facto de ser iconoclasta, não me impede de reconhecer a grandeza e
beleza artística presente nalguns ícones ou representações (só não o
reconheceria caso fosse cego, um ignorante ou uma besta insensível).
O
dia 13 de outubro deste ano em Fátima reuniu no seu santuário várias dezenas de
milhares de peregrinos, depois de no ano transacto ter ficado assustadoramente
vazio devido ao Covid-19. A liturgia foi presidida pelo Arcebispo da Bahia
(Brasil), Dom Sérgio da Rocha, clérigo que se safou melhor na homilia do que nas
praxes litúrgicas latinas, cantando desafinado várias partes do ordinário da
missa. No seu sermão destacou que o amor de Deus deve conduzir os católicos
àqueles que sofrem, exaltando em simultâneo o auxílio e a intercessão de Maria
nessa tarefa. Bom comunicador, mereceu o aplauso dos peregrinos.
No final da celebração, o actual bispo de Leiria-Fátima, Dom António Marta, despediu-se dos peregrinos em várias línguas, lembrando um hábito antigo dos papas (será que vamos ter um Papa em Fátima?).
Assisti
à totalidade da celebração porque me interessa tudo o que é feito “In nomine domini” e a fé popular sempre
acaba por me confranger vivamente, ao ver tanta gente sofrer na esperança que
tudo vai mudar para melhor graças à permuta entre o sacrifício e a graça,
negócio onde Deus não foi ouvido. Apesar de estéril e enganadora, a crendice
popular portuguesa, creio que instituída ainda antes da fundação da
nacionalidade e com o contributo de algum co-fundador judeu ou mouro, fatimida
ou não, tem uma força incrível e inabalável, transformando-se num manancial de
esperança quando o infortúnio surge impiedoso, fenómeno a que não posso ficar
insensível e que bem caracteriza estes ibéricos entre a Espanha e o mar, quiçá
pela sua herança triplamente monoteísta (cristã, judia e moura), geneticamente
sinergista e de uma resistência a toda a prova.
Exemplo do que acabei de dizer é o que aconteceu com um português da Madeira residente na Ilha de La Palma, no Arquipélago das Canárias, onde um vulcão continua em erupção e a levar tudo o que encontra pela frente desde a Serra da La Cumbre Vieja (na foto acima). Este madeirense de 50 anos, emigrante naquela ilha há 26 anos, por conta da lava ficou inesperadamente sem casa, bens e trabalho, deixando todo o seu agregado familiar sem teto (o sogro, a mulher e os filhos). Para complicar ainda mais o caso, a fábrica onde trabalhava viu-se obrigada a fechar. Quando entrevistado pelas televisões, disse-se abatido mas não vencido e quando lhe perguntaram o que conseguiu resgatar, dirigiu-se ao jeep e mostrou meia-dúzia de coisas, entre as quais se encontrava uma imagem de Nossa Senhora! Este homem, perante tamanho azar, podia ter-se revoltado e mandado o ícone à fava ou deixado que a lava o levasse, mas não, trouxe-o consigo para que a esperança não morresse segundo a fé em que acredita. Como seria bom e justo que dissessem a todos os peregrinos que Deus é amor, que temos um Deus que não nos manda matar por Ele, mas que morreu por nós. E quanto ao madeirense e aos demais, continua a ser criminoso ocultar-lhes a Verdade revelada unicamente nas Sagradas Escrituras. Hoje mais do que nunca, a Europa e o Mundo precisam de ser evangelizados.
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