quarta-feira, 13 de outubro de 2021

NÓS POR CÁ: A FÉ DO POVO

 

Não seria honesto ocultar para os leitores deste blogue as minhas convicções religiosas, uma vez que me entendo como um luterano confessional, pedindo diariamente a Deus que assim me preserve até ao meu reencontro final com Ele, sendo nisto um português pouco tradicional. Deste modo, não creio e não aceito outro interlocutor ou intercessor entre a humanidade e Deus a não ser Jesus Cristo, seu filho unigénito que veio ao mundo para nos reconciliar com o Pai, pagando com a sua morte o preço das transgressões de todos e para todos alcançou vida eterna ao ressuscitar, isto segundo a Fé que nos deu. o facto de ser iconoclasta, não me impede de reconhecer a grandeza e beleza artística presente nalguns ícones ou representações (só não o reconheceria caso fosse cego, um ignorante ou uma besta insensível).

O dia 13 de outubro deste ano em Fátima reuniu no seu santuário várias dezenas de milhares de peregrinos, depois de no ano transacto ter ficado assustadoramente vazio devido ao Covid-19. A liturgia foi presidida pelo Arcebispo da Bahia (Brasil), Dom Sérgio da Rocha, clérigo que se safou melhor na homilia do que nas praxes litúrgicas latinas, cantando desafinado várias partes do ordinário da missa. No seu sermão destacou que o amor de Deus deve conduzir os católicos àqueles que sofrem, exaltando em simultâneo o auxílio e a intercessão de Maria nessa tarefa. Bom comunicador, mereceu o aplauso dos peregrinos. 

No final da celebração, o actual bispo de Leiria-Fátima, Dom António Marta, despediu-se dos peregrinos em várias línguas, lembrando um hábito antigo dos papas (será que vamos ter um Papa em Fátima?).

Assisti à totalidade da celebração porque me interessa tudo o que é feito “In nomine domini” e a fé popular sempre acaba por me confranger vivamente, ao ver tanta gente sofrer na esperança que tudo vai mudar para melhor graças à permuta entre o sacrifício e a graça, negócio onde Deus não foi ouvido. Apesar de estéril e enganadora, a crendice popular portuguesa, creio que instituída ainda antes da fundação da nacionalidade e com o contributo de algum co-fundador judeu ou mouro, fatimida ou não, tem uma força incrível e inabalável, transformando-se num manancial de esperança quando o infortúnio surge impiedoso, fenómeno a que não posso ficar insensível e que bem caracteriza estes ibéricos entre a Espanha e o mar, quiçá pela sua herança triplamente monoteísta (cristã, judia e moura), geneticamente sinergista e de uma resistência a toda a prova.

Exemplo do que acabei de dizer é o que aconteceu com um português da Madeira residente na Ilha de La Palma, no Arquipélago das Canárias, onde um vulcão continua em erupção e a levar tudo o que encontra pela frente desde a Serra da La Cumbre Vieja (na foto acima). Este madeirense de 50 anos, emigrante naquela ilha há 26 anos, por conta da lava ficou inesperadamente sem casa, bens e trabalho, deixando todo o seu agregado familiar sem teto (o sogro, a mulher e os filhos). Para complicar ainda mais o caso, a fábrica onde trabalhava viu-se obrigada a fechar. Quando entrevistado pelas televisões, disse-se abatido mas não vencido e quando lhe perguntaram o que conseguiu resgatar, dirigiu-se ao jeep e mostrou meia-dúzia de coisas, entre as quais se encontrava uma imagem de Nossa Senhora! Este homem, perante tamanho azar, podia ter-se revoltado e mandado o ícone à fava ou deixado que a lava o levasse, mas não, trouxe-o consigo para que a esperança não morresse segundo a fé em que acredita. Como seria bom e justo que dissessem a todos os peregrinos que Deus é amor, que temos um Deus que não nos manda matar por Ele, mas que morreu por nós. E quanto ao madeirense e aos demais, continua a ser criminoso ocultar-lhes a Verdade revelada unicamente nas Sagradas Escrituras. Hoje mais do que nunca, a Europa e o Mundo precisam de ser evangelizados.

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