Jorge Jesus, treinador de futebol, cometeu um crime “lesa-majestade”,
trocou o Benfica pelo Sporting e em Portugal não se fala doutra coisa, como se
só o futebol importasse e o futuro do País pudesse esperar. Assuntos
importantes como o das escutas telefónicas, do acolhimento de novos emigrantes
(que nos será imposto pela CEE) e do mais que possível corte nas pensões
passaram para segundo plano. Decididamente Portugal não pode ser levado a
sério, pelo menos por agora, enquanto a ignorância popular for uma instituição
e o tribalismo não sucumbir. Com o País de tanga, a imprensa esgota-se na
procura de novos desenvolvimentos do caso, os canais televisivos dedicam-lhe
emissões especiais e abrem debates públicos sobre a charada (por via telefónica
e a 60 cêntimos por minuto + IVA), bastante concorridos por desempregados, reformados
e tolos de toda a sorte. E pelo que se ouve, toda a gente entende de futebol,
apesar dele ser agora dominado e comentado por advogados (os mesmos para quem a
política tem sido uma autêntica Santa Casa da Misericórdia) já que gente fina é
outra loiça e os investimentos feitos neste desporto não são para brincadeiras,
merecendo ser acautelados. Futebol e política confundem-se de tal maneira que
não se sabe onde começa um e acaba o outro, até porque da política ascende-se
ao futebol e vice-versa. Diante deste panorama facilmente se compreende,
aquilata e explica a qualidade dos nossos políticos: afectos ao clubismo e
indiferentes ao bem-estar colectivo.
Objectivamente quem é Jorge Jesus e porque merece tamanho destaque?
Consta que o futebol não tem para ele segredos, que subiu na carreira a pulso,
que é chegado à família, que valoriza jogadores e alcança títulos, apesar de
bronco, de se exceder amiúde, de ser malcriado, mestre nas calinadas
gramaticais e evidenciar uma mímica rasca e por isso reprovável, condições mais
do que suficientes para que amanhã (não lhe estamos a desejar a morte) vá
também parar ao Panteão Nacional. Não é o cidadão Jorge Jesus que é grande,
grande é a ignorância popular que levanta tais messias, que suportando derrotas
consecutivas surge à tona de água com vitórias extemporâneas, como se o futebol
resolvesse os nossos problemas e que cada um necessitasse, à falta de melhor,
de morrer com a euforia de um golo. Mal, muito mal vai o País, quando adia o
seu futuro e vive de ilusões. Provavelmente está e continuará “fora de jogo”!
Será eliminado? O futebol tem destas coisas e as nações?
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