domingo, 7 de junho de 2015

DE ABRIL A SETEMBRO COM O PULVERIZADOR ÀS COSTAS

Por força da missão que aceitámos, lembramos o histórico e mui proveitoso “Almanaque Borda D’Água”. Todos os anos homens e cães apanham a febre da carraça nos meses de Abril a Setembro, ainda que o seu número seja reduzidíssimo, boas notícias para a esmagadora maioria da população e um autêntico martírio para quem a contrai, acontecendo com mais frequência nos indivíduos até aos 15 anos de idade, ainda que o número de carraças infectadas pela doença seja quase sem significado quando comparado com o seu grosso. A melhor maneira para combater a doença é a sua prevenção, que deve abranger tanto os cães quanto as pessoas à sua volta, porque as carraças (carrapatos no Brasil) procuram hospedar-se preferencialmente nos roedores e nos cães, saltando deles para nós. No que aos cães diz respeito, é obrigatório o uso conjunto das pipetas e das coleiras antiparasitas na Primavera e no Verão, que segundo a nossa experiência deverão ser trocadas entre os 30 e 45 dias, particularmente nos anos mais quentes, quando as temperaturas excedem os 30º celsius, até porque a vacina à disposição no mercado não é 100% eficaz, não combate todos agentes infecciosos e destina-se especificamente ao combate da babesiose canina.
E porque nem todos sabem quais os sintomas da febre da carraça nos humanos, adiantamos que eles só serão perceptíveis e visíveis uma semana depois da picada da carraça infectada, consistindo em febre, dores musculares e de cabeça, enjoo, vómitos e perda de apetite, aparecendo depois manchas e pápulas que se espalham pelo corpo todo, tanto nas palmas das mãos como nas plantas dos pés, para além da marca da carraça. Se porventura encontrar alguma no seu filho, noutra criança ou num adulto, não entre em pânico e proceda à sua extracção, porque só uma percentagem reduzida destes parasitas se encontra infectada (só deverá procurar o médico se surgirem queixas ou sinais de doença). Na extracção da carraça, quer ela se encontre em pessoas ou animais e se use uma um pinça ou os dedos, o parasita deverá ser arrancado o mais rente à pele possível, podendo usar-se acetona para facilitar a extracção, que só deverá acontecer depois de se rodar a carraça ¼ de volta, para que saia inteira e não deixe as suas pinças na pele do hospedeiro. Depois de retirar o parasita, porque ele continua vivo, esborrache-o contra uma superfície dura e regular com um pau ou uma pedra (há quem faça isso usando a unha do polegar como quem mata pulgas). Caso use os dedos na extracção, não se esqueça de lavar muito bem as mãos.
O diagnóstico da febre da carraça nos cães baseia-se na sintomologia apresentada pelos animais doentes, considerando a época do ano e o histórico de infestação por carraças. Porém, o diagnóstico específico do agente ou agentes envolvidos exige que sejam feitas análises ao sangue do cão em laboratórios especializados. Para além da identificação do microrganismo, considerando a terapêutica e a evolução do processo, convém fazer em simultâneo hemogramas aos cães para se proceder à contagem das suas células sanguíneas. Quanto aos sintomas, a doença pode evoluir de modos diferentes, estando já descritas as suas formas agudas, subclínicas e crónicas. Apesar da febre da carraça não escolher sexo, idade e raça, subsiste uma maior susceptibilidade nalgumas raças para desenvolverem uma forma crónica mais grave, sendo o Pastor Alemão um dos infelizes comtemplados. Por outro lado, a variabilidade da sintomatologia está associada a muitos factores diferentes, incluindo a espécie do agente, a competência do sistema imunitário do animal e a existência de outras infecções em simultâneo (vários agentes da “febre da carraça” ao mesmo tempo ou a presença de outras doenças como a leishmaniose).
Na fase aguda da doença, com uma duração de 1 a 4 semanas, período decorrente entre a incubação e a apresentação dos primeiros sintomas, quando ainda é possível encontrar carraças nos cães, os sintomas são pouco específicos e podem incluir febre, falta de apetite, perca de peso moderada, depressão e anemia (associada ou não ao aumento dos gânglios linfáticos). Alguns cães poderão ainda apresentar tendência para hemorragias nasais e a formação de hematomas de dimensão variável, na pele, nas mucosas da boca e nos órgãos genitais. Por vezes também podem ser observadas diversas alterações oculares, tais como: corrimento ocular, a inflamação da íris, opacidade da córnea ou hemorragia no interior do globo ocular, bem como sintomatologia nervosa, manifesta em convulsões, paralisias e alterações na locomoção. Na fase subclínica, que é a que ocorre após a resolução dos sintomas da fase anterior e que pode durar de 40 dias a vários anos, apesar da ausência de sintomas nos cães, as análises sanguíneas de alguns deles ainda poderão apresentar alterações moderadas. A fase crónica que ocorre entre os cães cujo sistema imunitário não funciona plenamente, é um caso muito agudo e a pior das três fases, porque geralmente implica em perca de peso crónica, fraqueza, depressão, febre, inchaço dos membros posteriores e palidez acentuada, que é reflexo de anemia grave. Para além da anemia, os cães a braços com a fase crónica da doença, apresentam contagens de glóbulos brancos muito baixas, o que irá facilitar-lhes a contracção doutras infecções. Grande número de cães nestas circunstâncias coxearão para sempre, por via da artrite que se fará presente nas suas articulações. Contudo, a doença tem tratamento e quanto mais cedo for detectada melhor.
Como se depreende, o combate às carraças deverá ser uma luta sem tréguas e a melhor arma será a prevenção, para que não se hospedem em nós, nos nossos cães ou ao nosso redor. Assim, para quem vive em moradias cercadas de mato ou floresta, também para quem tem currais por perto, ratazanas, coelhos bravos ou ovelhas a pastar, havendo essa possibilidade, deverá cortar o mato 2m antes dos limites da propriedade e pulverizar o solo com “pecusanol” semanalmente, assim como borrifar os troncos das árvores dentro desse perímetro. Caso o clima desses ecossistemas seja por demais húmido, a pulverização deverá acontecer de 3 em 3 dias e perto das 11 horas da manhã, para se operar a fixação dos resíduos sólidos do produto. E isto durante a Primavera e o Verão. Mas como nem sempre é possível mexer na terra dos outros, trate de pulverizar todos os muros da sua propriedade, nas suas faces internas e externas, proceda à limpeza do seu jardim e livre-o de fetos, da torga (urze) e demais vegetação espontânea, evite ter arbustos encostados aos muros e não consinta que os seus cães descansem, defequem ou urinem junto deles. O rosmaninho, o alecrim, o manjerico, o jasmim e o “cestrum nocturno” (dama da noite), são barreiras naturais contra o avanço destes parasitas, pelo que deverão ser dispostos na frente dos canis, excepção feita à “dama da noite”, que deverá distar deles 5m por ser tóxica. Escusado será dizer, caso tenha canis, que as suas paredes, tectos e telhados deverão também ser pulverizados, sem os cães lá dentro e só lá entrando depois do produto se encontrar seco. Comedouros e bebedouros deverão ser retirados ou hermeticamente isolados.
Como não temos especial predilecção pelo “pecusanol”, não nos pagam para isso e parece ter desaparecido do mercado, ainda que sempre nos tenhamos dado bem com ele, consulte o seu veterinário acerca do produto mais indicado, provavelmente menos tóxico e de maior duração. Com os cães protegidos, os donos precavidos e os quintais higienizados, as carraças não terão qualquer hipótese.

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