domingo, 7 de junho de 2015

BULL TERRIER: UM GLADIADOR AO SERVIÇO DA PAZ

Alguém já disse que as escolas caninas andam cheias de “roscas” e “chouriços”, numa alusão à presente proliferação de rafeiros e à novidade dos Dachshunds, Buldogues Franceses e Bull Terriers, já que os “baixotes” estão na moda, substituindo nas fileiras escolares os antigos, tenebrosos e espadaúdos guardiões do passado recente. Vamos hoje falar sucintamente sobre o Bull Terrier que tem merecido a preferência de muitas famílias portuguesas, naquilo que o distingue dos outros cães do mesmo grupo ou com apresentação semelhante, considerando as suas mais-valias, limitações e o tipo de parceria que oferece. Comparativamente, ele é mais interactivo, menos independente, teimoso e explosivo que o Dachshund, mais introvertido e menos brincalhão que o Buldogue Francês, patenteando um comportamento, quando seguro e alegre, muito próximo ao encontrado nos terriers de maior porte, simultaneamente autónomo e carente, ainda que por vezes mais soturno.
Os Bull Terriers Miniatura são levados da breca, mais briguentos, instáveis e provocadores do que os seus congéneres maiores, exigindo uma liderança inquestionável e decidida dos seus donos, que terão que optar pela sua precoce sociabilização e não se abster do exercício da disciplina, no são equilíbrio entre o cumprimento e a recompensa, porque não deixam de ser tremendamente afectivos. Quanto à história e aos mitos ligados ao Bull Terrier há que dizer que “a montanha pariu um rato”, que o cão actual pouco ou nada tem a ver com os seus ancestrais lutadores, com os cães de arena por detrás da sua formação, que a selecção operada garantiu a morfologia e suprimiu o ímpeto, transformando este cão num dócil e excelente mascote pràs famílias, talvez para desencanto ou desgosto daqueles que esperavam fazer dele uma arma secreta, como substituto dos cães hoje indexados na lista dos perigosos.
A predominância da cor branca, pese embora os problemas a ela associados, maioritariamente alergias várias, surdez e problemas de pele, tanto nesta como noutras raças, acabou por dotar a Bull Terrier de uma maior capacidade de aprendizagem, ao melhorar significativamente o seu impulso ao conhecimento, que no início do Séc. XX era sofrível pela excessiva carga instintiva, menos valia responsável por uma menor curiosidade e desejo de autonomia que obstavam a uma verdadeira parceria, necessitando a sua capacidade de aprendizagem de ser reavaliada, porque o valor que lhe foi atribuído encontra-se alguns furos abaixo do seu actual potencial.
Atleticamente falando, não é um cão de grandes performances, capaz de se interessar naturalmente por obstáculos artificiais, porque apesar de ter um campo visual excelente ou se calhar por causa disso, tende a abordá-los mediante o olfacto, conservando o nariz bem abaixo da linha de transposição, o que obrigará os seus condutores à repetição das vozes de introdução e não dispensará o seu condicionamento mecânico. Menos farejador que o Dachshund mas com instinto de presa superior, usa primeiro a visão e depois a audição na procura do dono, desusando o faro nessa busca, impropriedade que deverá ser ultrapassa pela prática da pistagem logo aos 4 meses de idade. Este pequeno cão de olhos triangulares conserva hábitos e progressões típicos dos cães de toca, perseguindo em qualquer terreno animais substancialmente maiores, tendo especial predilecção pelos que se encontram acoitados ou no subsolo. Necessita de treinar a capacidade de marcha, porque o trote é o seu andamento preferencial, transitando dele instantaneamente para o galope, visando a sua resistência e prontidão. Esta capacitação jamais será possível sem o contributo da sua memória afectiva, sem o subsídio do reforço positivo, pois contrariado tende à letargia.
A sua rara visão permite-lhe obedecer a grandes distâncias e detectar objectos longínquos, mesmo que parcialmente escondidos ou camuflados e a sua observação é quase imperceptível. Será na obediência que mais se evidenciará, porque é fiel e muito dedicado aos donos, não é dado a chiliques, não se intimida facilmente, é autoconfiante, suporta bem o frenesim à sua volta e mantem-se sereno quando isolado ou entregue a si próprio, até que o dono retorne ou o chame. Devido ao seu particular morfológico tende a atrasar-se no “junto”, obrigando os seus condutores ao incentivo e ao diálogo constantes. É melhor na obediência estática do que na dinâmica, sendo muito fácil ensinar-lhe os comandos de imobilização (quieto, alto, senta, deita, morto, etc.), não obstante ser hábil no chantagear dos donos, adquirindo posturas de submissão que partem qualquer coração. É naturalmente impoluto e incorruptível, tirando e conservando lições fornecidas pelas experiências negativas, o que é primordial para a sua salvaguarda e controlo.
Como é mais resistente à dor do que o comum dos cães, também porque é paciente e fiel, suporta com mais facilidade as diabruras das crianças, optando por “apagar-se” perante os seus exageros, manha que as fará desinteressar-se dele. É naturalmente asseado, sossegado, raramente ladra, o seu caminhar é quase inaudível e sente-se bem dentro de um apartamento, predicados que muito têm contribuído para a sua procura. Adapta-se bem à novidade de transportes, não treme nas alturas e aprende facilmente a subir escadas. Infelizmente a raça não é muito resistente (os seus ritmos vitais são por vezes elevados) e não tem, quando comparada com outras do seu tamanho, uma esperança de vida por aí além. A adição da cor operada no início do Séc. XX, maioritariamente proveniente do Staffordshire Bull Terrier, veio minorar os problemas dos exemplares brancos sem agravar o seu comportamento, devido à predominância do branco, à filosofia de se criar um cão para acompanhar cavalheiros e não um lutador de rua como havia sido no passado (outras raças com os mesmos ascendentes viriam a evoluir no sentido contrário).
Como cão de status que é, o Bull Terrier de origem europeia é um animal dócil, fácil de travar amizades e bem comportado, que até passaria despercebido não fora o seu focinho acarneirado (em forma de ovo), com uma silhueta um tanto ou quanto bizarra e por vezes cómica, um terrier distinto dos demais e nalguns casos diametralmente oposto, um cão mais para se ter do que para se usado, de olhar minúsculo, parado, intrigante, ao mesmo tempo profundo e inexpressivo. Decididamente um cão para quem não quer ter problemas ou quer acautelá-los. Resta dizer que o Bull Terrier não olha a meios para que os seus donos se sintam felizes, adoptando para o efeito posturas dignas de um genuíno bobo da corte, sendo ao mesmo tempo hábil em se fazer desentendido e teimoso se lho consentirem.
Ainda subsistem alguns exemplares menos simpáticos e agressivos, produto de selecções descuidadas ou intencionais num retorno inequívoco aos cães do Séc. XIX, que felizmente são raros, assim como gente que instiga e usa os seus Bull Terriers para fins não-humanitários e hoje considerados criminosos, plebe indigente que, dada aos jogos de sorte e azar, condena os seus cães à morte.

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