Quando questionamos os
proprietários caninos acerca da ração que estão a dar aos seus cães, a resposta
mais comum é: ”Não sei, é a que se vende no supermercado!” As outras mais
usuais são: “A que o veterinário me indica” e “A que o criador me recomendou”.
Se a primeira resposta é decorrente de uma razão económica, sabendo-se que as
grandes superfícies comerciais são pródigas em rações aparentemente baratas, as
seguintes assentam numa relação de confiança com os veterinários e criadores
dos cães, indivíduos que juntam à sua actividade a venda de rações, tirando partido
da sua influência para fins mais ou menos lucrativos, estratégia também seguida
por alguns treinadores de cães, podendo uns e outros vender toda a sorte de
acessórios, o que associado às vendas através da Internet, têm sentenciado à
falência as outrora florescentes “Pet Shops”, sobrevivendo um punhado a troco
da venda de rações ao quilo para os mais diversos animais, permanecendo no ramo
somente os que não o podem abandoná-lo (pela idade, ausência de capital e medo
de arriscar), caso a renda seja barata.
É estranho reparar que a maioria dos proprietários caninos ou desconhece
a marca da ração e/ou a sua composição, não sabendo diferenciar as existentes
no mercado (que são cada vez mais) pela sua qualidade, se são ou não indicadas
para a idade, raça, particular sexual e tipo de exercício a que sujeitam os
seus cães, pagando alguns uma exorbitância por rações de menor qualidade, só
porque são amplamente publicitadas, recomendadas por quem julgam saber mais do
que eles ou porque os cães da vizinhança não se queixam. Será que não se
queixam? Verbalmente não, mas carregam no seu aspecto geral, no manto, na envergadura,
no esqueleto, nas articulações e no desempenho das suas tarefas os benefícios
ou impropriedades da ração que lhes é distribuída, que se reflectem também no
seu bem-estar, saúde, crescimento, na apetência do alimento, no aparelho
digestivo, disponibilidade, tempo de recuperação, concentração, autonomia, tenacidade,
força e resistência.
Desconfia-se da qualidade
das rações quando: o cão come que nem um desalmado e não engorda ou mal pega na
ração, quando de depois de ingeri-la bebe água em demasia, anda constantemente
esfomeado, a comer ervas, fezes, caliça e estuque, rói madeiras e pedras, está continuamente
a defecar ou tem dificuldades em fazê-lo e faz fezes deformadas ou em pasta. Também
quando o seu manto de encontra seco e baço, os seus dentes se apresentam precocemente
gastos e sem brilho e o seu estômago dilatado (os sintomas não se esgotam aqui).
Não falta à maioria das rações o teor de proteína recomendado, resta saber qual
o seu grau de absorção. O maior défice nas rações assenta sobre o percentual e
a qualidade da gordura, pormenor que influirá directamente no seu preço.
Importa também considerar o seu grau de digestibilidade e as vitaminas e
minerais presentes na sua composição, ainda que a sua absorção seja diminuta e não
seja absoluta ou integral. Muitos fabricantes de rações, ao invés de se valerem
das carnes recomendadas para os cães, aproveitam-se de subprodutos animais,
inclusive de carcaças, geralmente adquiridas a um preço irrisório e que também
se prestam para a elaboração de salchichas para consumo humano. A esses
subprodutos dão-lhe o nome de “farinha ou derivados de…” e não de “carne de…”.
Também na existem milagres na alimentação dos cães e uma ração se
qualidade não poderá ser barata, ainda que o preço por si mesmo não indicie a
qualidade, porque há por aí muitas que são caras e cujo proveito é deficitário,
sendo mais lucrativas para quem as vende do que para quem as consome. Nem
sempre os valores adiantados nos sacos correspondem ao seu valor real, sobrando
quase sempre algumas diferenças em prejuízo dos consumidores (falamos com
conhecimento de causa porque já mandámos analisar algumas). As rações com carne
de borrego são topo de gama e as mais indicadas para cães em crescimento ou
sujeitos a exercício intenso. As mais baratas são as de farinha de frango e as
de carne de frango são as indicadas para animais mais sensíveis (diz-se que a
canja de galinha é própria para doentes). E como de outra coisa não se fala a
não ser dos ácidos Omega, cuidado com as rações à base de peixe (salmão, etc.),
porque podem provocar problemas cancerígenos, já que o peixe utilizado é de
piscicultura e sujeito a “bombadas químicas”, cujos efeitos ainda não são
totalmente conhecidos. Uma boa ração à base de peixe combate as alergias, facilita
a digestão e tem uma acção benigna sobre os dentes, cartilagens, ossos e
articulações dos cães (por causa dos benefícios dos ácidos Omega).
A melhor comida para os cães é a fresca, quando bem balanceada e feita
por quem sabe, ainda que seja menos prática que a ração, que será sempre um
repasto de substituição. Quem nos poderá indicar a ração ideal para o nosso
cão? De princípio o nosso veterinário assistente, muito embora a experiência
daqueles que trabalham cães não seja de desprezar. As rações que se vendem nas
grandes superfícies comerciais são as melhores? Raramente são, ainda que
garantam por vezes a relação preço-qualidade. Recomendamos alguma ração? Sim, a
quem nos perguntar. Uma boa ração de crescimento tem um preço aproximado por
quilo de 2.6€, uma de manutenção 1.85€ e uma de borrego de 2.75€. Diz-se no
futebol que “equipa que ganha não se mexe” e com as rações deverá suceder o
mesmo, já que sua a troca sistemática para nada serve a não ser para tornar os
cães biqueiros e gulosos. Não raramente são os cães os primeiros a dizerem se
uma ração é boa ou má. Esteja atento ao seu cão!
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