sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

TIPOLOGIA DOS PASTORES DA ACENDURA BRAVA

Um amigo e aluno nosso, pessoa interessada e apaixonada por Pastores Alemães, agora com uma cadela descendente das nossas linhas de criação, tem vindo a pedir-nos, sistematicamente, que tornemos pública a tipologia dos nossos pastores, apesar de estarmos arredados da criação há uma década, o que não nos tem impedido de seleccionar progenitores para a obtenção de ninhadas, que não sendo nossas, acabam por respeitar os nossos pressupostos selectivos e alcançar os mesmos índices de sucesso laborais. Os pastores da Acendura Brava não diferem em muito dos outros que por aí há, apenas evidenciam as características dos cães anteriores à década de 70 do século passado que, como é sabido, eram substancialmente mais multifacetados, curiosos, seguros, cúmplices e atletas, por norma com uma esperança média de vida maior (13 anos).
Do ponto de vista psicológico são cães calmos, seguros, atentos e curiosos, que vivem em constante observação, com um forte sentimento territorial, que evidenciam um superior impulso ao conhecimento, por norma resistentes e disponíveis, de alta capacidade atlética e de extrema dedicação aos donos, de sociabilização entre iguais quase automática, pouco dados à cegueira dos instintos e de carácter forte, incorruptíveis, propensamente guardiões e silenciosos, vocacionados para o serviço nocturno e apegados ao exercício natatório, que desferem ataques elevados e que normalmente atacam a dois golpes, sendo a sua primeira mordida de ajustamento. Tendem aos ataques cirúrgicos, aprendem com facilidade a desarmar agressores, não se intimidam com os fenómenos naturais e acostumam-se facilmente aos disparos, prestando-se à novidade de desafios e sempre aguardando por serviço. Possuidores de uma excelente máquina sensorial, são exímios rastreadores, evidenciando-se na pistagem e na assimilação dos diferentes percursos de ronda, actividades em que se sentem como peixe dentro de água. A riqueza das suas expressões mímicas é de fácil leitura e a sua rusticidade dispensa-os de maiores cuidados, quando chegados aos 18 meses. Hábeis na transição das respostas naturais para as artificiais, exigem donos de qualificada liderança, para que não correm riscos desnecessários.
No que à morfologia diz respeito e quando comparados com os da linha estética, são menos atarracados de pescoço e menos rampeados (mantendo a curvatura natural da garupa). São menos angulados e apresentam costelas menos rectas, peito profundo e largo, boa ossatura, excelentes aprumos e uma garupa larga e poderosa. Quando excitados nivelam a cauda pela linha do dorso, têm membranas interdigitais redondas e não em cunha (marca da casa), apesar de manterem o tradicional pé-de-gato que caracteriza a raça e que lhe garante a celeridade operativa. De média-alta cadência de galope (de 45 a 51km/h de velocidade instantânea), têm no trote o seu andamento preferencial, alcançando o suspenso sem grande dificuldade numa cadência constante de 7.8km/h (ou mais), em distâncias até aos 50km. Transitam facilmente de andamentos e travam com facilidade e segurança, são exímios nadadores, trabalham no subsolo sem dificuldades e galgam em média muros até aos 2.5m. Depois dos 18 meses e em descanso, a sua frequência cardíaca oscila as 60 e 80 pulsações por minuto, mesmo entre exemplares sem treino ou que nunca trabalharam. Muitos deles podem apresentar alguma semelhança com os cães dos anos 30 e 40. Os pastores da Acendura Brava, quando chegados à idade adulta, são um pouco mais altos pesados e pesados que os seus congéneres, notoriamente de maior envergadura. O valor médio para os machos é de 67cm/42kg e para as fêmeas de 62cm/38kg.
Este regresso ao atavismo da raça só foi possível mediante o contributo de canis alemães, que historicamente produziam cães de trabalho, também de alguns alsacianos e particularmente da contribuição das suas desprezadas variedades recessivas, que no sei todo, tanto ontem como hoje, continuam a enaltecê-la pelo trabalho. De imediato deitámos mão ao beneficiamento histórico entre negros e lobeiros, dando seguimento a uma política de quadro aberto, baseada nos beneficiamentos entre as diferentes variedades cromáticas presentes no Cão de Pastor Alemão. Por causa disso, a maioria dos nossos pastores é recessiva em negro uniforme e qualquer exemplar da variedade dominante (preto-afogueada), pode ter na sua ascendência lobeiros, negros, vermelhos e cinzentos uniformes. Apesar de não desprezarmos os cães de exposição, mais nos importou evidenciar os de trabalho, seleccionando-os pelas provas dadas e objectivando o seu histórico desempenho. Como o assunto não se esgota nesta breve síntese, oportunamente voltaremos ao assunto.

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