Sam
Edmonds, um fotógrafo e operador de câmera australiano, numa viagem ao
Bangladesh, descobriu na Capital daquele País, Dhaka, quando se encontrava a
trabalhar junto da ONG Obhoyaronno e por indicação do seu presidente, um grupo
de 10 crianças de rua que adoptaram 10 cães vadios, vivendo com eles
familiarmente no Parque Robindra Shorbod daquela Cidade, maioritariamente
muçulmana, infestada de cães transmissores de raiva e uma das mais populosas do
Mundo, que há muito ultrapassou os 15 milhões de habitantes. Os miúdos
sobreviviam e sobrevivem da apanha do plástico que encontram e servem-se dos
seus magros proventos para se valerem a si e aos cães. Graças ao trabalho de
Edmonds, que fotografou aqueles miúdos e cães, intitulado “Robindra Boys” e aos
esforços da já citada ONG, o Governo Bengali, ao invés de proceder a um plano
de matança canino generalizado, como já aconteceu noutras latitudes, levou a
cabo um programa de vacinação anti-rábica sem precedentes.
As
crianças saíram do anonimato ao ser conhecida a sua história através das fotos,
que acabaram por enternecer meio mundo e alertar a opinião pública para o
problema dos animais abandonados naquelas paragens. Pondo de parte o sensacionalismo
da notícia e o seu aproveitamento político, porque histórias destas há-as por
toda a parte (aqui superabundam os ciganos romenos com pinschers e os sem-abrigo
com cães de toda a espécie), exalta-se uma vez mais a função terapêutica
canina, a sua contribuição para o bem-estar das gentes, no combate ao
ostracismo, à exclusão social e à solidão. Oxalá os miúdos sobrevivam, cheguem
à idade adulta e singrem na vida. Registam-se aqui os nomes que deram aos cães
(por ordem alfabética): Basha, Bullet, Jaz, Kula, Lalu, Michael, Moti, Romeo,
Tiger e Tom, uns que nos são familiares e outros próprios da cultura do lugar.
O final feliz da história não esconde o crime, a vergonha e a miséria de haver
crianças abandonadas e jogadas na rua. Queira Deus que a Sr.ª Christine
Drummond, uma neozelandesa produtora e apreciadora de comida de cão, que ainda
recentemente disponibilizou 42 toneladas dela para valer às crianças esfomeadas
do Quénia, não tome conhecimento dos “Robindra Boys”, caso contrário, de uma só
cajadada mataria dois coelhos, sentir-se-ia imensamente feliz e benemérita, ao
enviar-lhes umas quantas paletes de “junk food”! Talvez a esperança de haver
vida para além da morte, nos impeça, de alguma forma, de nos matarmos todos
aqui, onde a injustiça reina e o fratricídio não cessa. Força miúdos!
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