sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

QUERER FAZER BEM E ACABAR POR FAZER PIOR

Amochar está na ordem do dia quando os cães se portam mal, por todo o lado se vêem donos a fazê-lo, como se tivessem a bater massa de pão ou a espremer algum colchão, forma de repreensão violenta que a tudo se presta, inclusive à falta de instrução e sobre cães de manifesta mansidão, procedimento importado que nos revolta e que tanto dano causa aos pobres animais. Mais uma vez vi isso da minha janela, quando uma famélica cadela atacou um indefeso cachorro. Primeiro ouvi o ganir da vítima e depois o gemer lancinante da penitenciada, que após ser suspensa pelo lombo, foi amochada no chão, debaixo de alguns agravos verbais e do comando de “quieto”, ficando assim isolada com o dono a acariciar o outro cão, mais por descargo de consciência do que por verdadeira comoção. Revoltado, sai à rua e fui inteirar-me da situação, dirigi-me ao dono e inquiri das razões de tal procedimento. Segundo ele, a cadela apresenta sérios problemas de sociabilização, porque repetidas vezes tem atacado outros cães, o que não o tem impedido de continuar a soltá-la. Perguntei-lhe porque isolou a cadela e foi fazer festas ao agredido, ao que ele me respondeu tê-la posto de castigo, para não voltar a fazer mal aos outros cães, o que me obrigou a contar até três para não ser desagradável.
Depois, com a calma que os anos me têm dado, expliquei-lhe que ao acariciar o cachorro, estava a aumentar o ciúme da sua cadela e a agravar mais a situação, que ao invés de isolá-la, deveria trazê-la atrelada para junto do agredido, para se familiarizar com ele e caso tentasse agredi-lo, ser de imediato repreendida, conselho que não observou, mais por comodismo do que por outra razão, dizendo-me que o seu procedimento era bastante e o mais correcto. Disposto a dar-lhe uma lição e apostado em denunciar-lhe o erro, ainda que não houvesse sido pago para isso, convidei-o para jogar uma bola, incentivar o cachorro a segui-la e libertar a cadela, desejo que vi na íntegra satisfeito. Como era de esperar, caso não tivesse pegado no cachorro e travado a cadela, o desgraçado teria sofrido um ataque ainda mais violento. Desde quando é que o isolamento se presta à sociabilização? Será que os treinadores de bancada estão a ceder lugar para os adestradores de rua? Há gente que vê televisão a mais, que confunde a ficção com a realidade, que opta por não se instruir e vive convencida que sabe tudo! 

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