NOTA PRÉVIA: Antes de avançarmos sobre
o tema, tudo o que aqui fizermos saber, só deverá ser levado a cabo quando
respeitado o disposto no art.º 12 da Lei 46/2013 de 4 de Julho, cuja leitura
aconselhamos vivamente aos nossos leitores, para salvaguarda dos cidadãos, dos
seus direitos e evitar capturas abusivas, desnecessárias ou acidentais.
Os adjectivos acima qualificam um genuíno cão de
guarda. Para que evidencie essas qualidades, será necessário que possua um bom
impulso ao conhecimento, capaz de lhe garantir a curiosidade e o aprendizado
pelos erros, diante do rigoroso treino a que irá ser sujeito, visando a sua
autonomia condicionada. É evidente que se espera que também tenha bons impulsos
ao alimento, ao movimento, à defesa, à luta e ao poder. Somado a isto, um
autêntico cão de guarda deverá associar ao seu perfil psicológico o particular
físico que melhor sirva às suas mais-valias cognitivas e operacionais, para não
ser surpreendido e sair vencedor, pormenor também ligado ao quociente da
divisão da sua altura pelo peso, que deverá oscilar entre 1.75 e 1.6, já que os
cães de quociente 1.8, 1.9, 2 e daí por diante, apesar de rápidos, são mais
barulhentos e menos cuidadosos, próprios para ataques deliberadamente
ostensivos e quase instantâneos, em pisos regulares, duros e de reduzida
dimensão. Os cães mais pesados, que ostentarão quocientes de 1.6 a 1.5, por mais
excelentes que se mostrem, jamais conseguirão esconder a demora na sua
prontidão, pela exaustão que os apoquenta e tornará inoperativos. A questão do
défice do peso tem estado intimamente ligada à solução atabalhoada da
mestiçagem entre Pastores Alemães e Malinois, no que à guarda diz respeito,
considerando a relação entre a fisionomia e a capacidade de aprendizagem dos
indivíduos sobre a natureza dos seus ataques, se maioritariamente instintivos
ou condicionados.
A missão
do cão de guarda aglutina duas funções: a de sentinela e patrulheiro, exigindo
ambas um policiamento inaudível que possibilite uma abordagem segura e bem
sucedida, particularmente nas vigias nocturnas, quando os sons são mais perceptíveis
à distância, o que irá exigir o casamento perfeito das patas do animal com o
tipo de solo que pisa, uma boa condição física para que a respiração do cão não
seja demasiado audível e denuncie a sua presença, o que a acontecer, lhe tirará
a vantagem do efeito surpresa, comprometerá a eficácia dos seus ataques e poderá
facilitar o seu aniquilamento.
Pelas
mesmas razões, deverá encontrar-se sociabilizado com todo o tipo de animais,
para não lhes dar caça, não se entreter com eles e acabar caçado.
Contrariamente ao que por aí se vende, o cão de guarda não é uma ladrador nato,
mas um predador que não denuncia a sua presença, mesmo quando instado a
mostrar-se, que sinaliza a presença de intrusos, quando for caso disso, pela
fixação e imobilização, jamais pelo recurso a qualquer uma das suas vozes, a
menos que tal lhe tenha sido ordenado. Também não deverá entrar ao serviço com
qualquer tipo de coleira ou estrangulador posto, para não denunciar a sua
presença e facilitar o seu domínio no confronto directo. Alguns cães, devido ao
particular das suas articulações traseiras ou ao pouco desgaste das unhas, fazem
muito barulho quando se deslocam nos pisos duros, o que lhes compromete o
serviço e a salvaguarda, entraves que não lhes dispensarão o aparo das unhas.
Se o cão
à noite deverá ser um fantasma, durante o dia não deverá passar de uma miragem,
porque importa que não seja visto nem os seus hábitos conhecidos, porque doutro
modo sempre arranjarão maneira de o distrair, ludibriar e até capturar (mais
pesado e bruto é um javali mas sabendo-se por onde passa, facilmente o
caçaremos com um simples laço). Para que isso não suceda torna-se obrigatório
que a cor do manto do cão se confunda com a policromia das cores dominantes
locais, que o seu ponto de observação (uma prioridade a estabelecer) não seja
visível da rua, que não deambule pelo perímetro a guardar, que não se refresque
ou coma quando em trabalho e que não satisfaça as suas necessidades
fisiológicas durante os turnos de vigilância, pelo que, antes de entrar ao
serviço, deverão ser retirados dali quaisquer dejectos, brinquedos e objectos
capazes de o distraírem ou de melhor servirem as intenções e defesa de quem
invade. Nunca por nunca, deverão ser deixadas mangueiras no local atribuído à
sua vigilância, para que não sujeite a um canhão de água ou venha a apanhar
umas valentes ripadas. Quando os horários de policiamento são diurnos e o calor
aperta, não havendo outra possibilidade, o seu bebedouro deverá ser colocado
num local escondido, de material inaudível, fixo ao chão e colocado sobre um
tapete, para não tornar perceptível a sua vulnerabilidade e o cair da água não
denuncie onde se encontra.
Pelo que
acabámos de dizer, nenhum cão será um guarda efectivo se não for conveniente
preparado e instalado no local do seu serviço. Quando as temperaturas
mensuráveis na área se encontrarem acima dos 28 graus célsius e não havendo sombra
que o proteja, os turnos de vigilância não deverão exceder as 2 horas, porque
mesmo que não seja visto, virá a ser denunciado pelo aumento da sua frequência
respiratória, menos valia que geralmente vitima os cães mais curtos de focinho.
Diante destas contingências e por norma, o cão deverá beber e urinar antes da
sua prestação. Se porventura se destinar ao policiamento nocturno, deverá ter
um manto próprio para a tarefa, preferencialmente de pelo duplo, muito embora
abaixo dos 5 graus célsius tenda a abrigar-se e a acomodar-se, podendo vir a
desleixar-se, o que obrigará a treino aturado debaixo das amplitudes térmicas
que irá encontrar, para que não as estranhe e nelas se habitue, desempenhando
cabalmente as suas tarefas A chuva não causa entrave à esmagadora maioria dos
guardiões, muito embora devam evitar as poças por ela formadas, não as usando
como piscinas ou meio de arrefecimento, hábitos que lhe poderão ser fatais.
Considerando
a salvaguarda do cão e sua prestação, sempre lhe será mais fácil o policiamento
nocturno, desde que não se veja iluminado e as luzes do perímetro a guardar se
encontrem apagadas, porque é menos visível, dispensa maior acuidade visual e o
recurso ao faro vem em seu auxílio. O policiamento diurno, que aumenta a sua
exposição e por conseguinte a sua vulnerabilidade, irá obrigá-lo a um
condicionamento objectivo e repetido, para diminuir a sua silhueta e evoluir a
coberto dos acidentes naturais ou artificiais que lhe garantam a ocultação e lhe
possibilitem a apresentação de surpresa. Por outro lado, ele deverá operar
apenas no território a guardar, desinteressando-se das pessoas para além dos
seus limites e das provocações vindas do exterior, geralmente usadas para ser
visto, estratagema comum que visa a sua identificação e posterior desarme. Tudo
isto será inalcançável se não for portador de um forte impulso ao conhecimento,
qualidade que lhe garantirá uma superior capacidade de aprendizagem e
facilitará a missão.
Como se depreende, o exercício guardião não dispensa
a componente atlética que o sustenta, todo um conjunto de exercícios aeróbios
que possibilitarão os futuros anaeróbios inerentes à sua vocação, que deverão
ter início logo após ter alcançado a idade da cópia (4 meses), para que a sua
rusticidade não seja diminuída, a sua resistência aumente, os seus índices
laborais se mantenham por mais tempo e melhor se adapte às exigências do
serviço, cuidado que geralmente oferece a frequência mais baixa dos seus ritmos
vitais, benefícios exigidos pela natureza da sua prestação.
Todo o
cão de guarda que se deixa corromper tem breve duração e os dias contados,
porque cedo se avizinha a sua eliminação, por mais atento e valente que seja. A
quase totalidade do envenenamento canino fica a dever-se à ingenuidade,
comodismo, irreflexão e irresponsabilidade dos donos, que apostados sabe lá em
quê, desprezam os subsídios capazes para valerem aos seus cães. A
corruptibilidade canina é instintiva e alimentada pelos maus hábitos, advinda
da usurpação por terceiros das prerrogativas inerentes aos donos, que em sua
substituição, promovem assim a banalização dos animais, apelando
despudoradamente aos seus instintos mais básicos e indo ao encontro das suas
preferências.
Se é verdade
que o treino existe para o controlo dos instintos e potenciação dos impulsos
caninos, então ele será mais que obrigatório para os cães de guarda. Tornar um
cão incorruptível é a mais nobre das tarefas dos donos. Para que isso aconteça,
há que somar às medidas preventivas, que começam por ser domésticas e exigem
regra, a recusa de engodos e o desprezo pelos convites alheios, os relativos à
comida, à brincadeira e indutores à desobediência, já que douto modo a
contra-ordem sairá vitoriosa, mercê da afeição que vence todas as regras. Só
dono deverá distribuir alimento ao cão e só ele deverá fazer uso dos brinquedos
e demais pertences do animal. O treino específico da recusa de engodos só
deverá acontecer depois da cessação da fase de crescimento dos cães e do
alcance da sua maturidade emocional, para não prejudicar o seu desenvolvimento
e não lhes gerar confusão.
Só a genética e a preparação cuidada tornarão um
cão de guarda quase invencível, e não dizemos totalmente porque no combate
entre o inteligente e o dito irracional, normalmente vence o primeiro, por ser
mais perspicaz, possuir maior engenho e ter acesso a um arsenal mais variado,
apesar do medo e da tensão o levarem de vencida em várias situações. Como o cão
parte em desvantagem, é obrigatório que opere as suas capturas debaixo do
efeito surpresa, que não se deixe iludir pela imobilidade dos intrusos, que
aprenda a desarmá-los e imobilizá-los, mediante ataques cirúrgicos que impeçam
imediata e definitivamente a sua defesa, porque a exemplo de um lutador de rua,
quem se antecipa acaba por ganhar.
Só a
experiência o tornará mais eficaz, o que o obrigará em treino, à captura de
cobaias de diferente apresentação, técnica e recursos. Só a certeza da vitória
obstará à sua rendição e fuga, o que indicia uma capacitação lenta e gradativa
perante os níveis de resistência oferecidos – o cão deve sair vencedor de
qualquer peleja, para ganhar confiança e partir decidido para o próximo
confronto. Como o assunto é extenso e
apaixonante, prontificamo-nos a outros esclarecimentos que nos forem
solicitados, adiantando que treinar seriamente um cão para esta função demora
em média 18 meses e que raros são os cães que se encontram verdadeiramente
capacitados antes dos 2 de idade, não dispensando o treino continuado que se
presta à recapitulação, conversão e actualização das acções instaladas.
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