quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

“IN” DE INAUDÍVEL, INVISÍVEL, INCANSÁVEL, INCORRUPTÍVEL E INVENCÍVEL

NOTA PRÉVIA: Antes de avançarmos sobre o tema, tudo o que aqui fizermos saber, só deverá ser levado a cabo quando respeitado o disposto no art.º 12 da Lei 46/2013 de 4 de Julho, cuja leitura aconselhamos vivamente aos nossos leitores, para salvaguarda dos cidadãos, dos seus direitos e evitar capturas abusivas, desnecessárias ou acidentais.
Os adjectivos acima qualificam um genuíno cão de guarda. Para que evidencie essas qualidades, será necessário que possua um bom impulso ao conhecimento, capaz de lhe garantir a curiosidade e o aprendizado pelos erros, diante do rigoroso treino a que irá ser sujeito, visando a sua autonomia condicionada. É evidente que se espera que também tenha bons impulsos ao alimento, ao movimento, à defesa, à luta e ao poder. Somado a isto, um autêntico cão de guarda deverá associar ao seu perfil psicológico o particular físico que melhor sirva às suas mais-valias cognitivas e operacionais, para não ser surpreendido e sair vencedor, pormenor também ligado ao quociente da divisão da sua altura pelo peso, que deverá oscilar entre 1.75 e 1.6, já que os cães de quociente 1.8, 1.9, 2 e daí por diante, apesar de rápidos, são mais barulhentos e menos cuidadosos, próprios para ataques deliberadamente ostensivos e quase instantâneos, em pisos regulares, duros e de reduzida dimensão. Os cães mais pesados, que ostentarão quocientes de 1.6 a 1.5, por mais excelentes que se mostrem, jamais conseguirão esconder a demora na sua prontidão, pela exaustão que os apoquenta e tornará inoperativos. A questão do défice do peso tem estado intimamente ligada à solução atabalhoada da mestiçagem entre Pastores Alemães e Malinois, no que à guarda diz respeito, considerando a relação entre a fisionomia e a capacidade de aprendizagem dos indivíduos sobre a natureza dos seus ataques, se maioritariamente instintivos ou condicionados.
A missão do cão de guarda aglutina duas funções: a de sentinela e patrulheiro, exigindo ambas um policiamento inaudível que possibilite uma abordagem segura e bem sucedida, particularmente nas vigias nocturnas, quando os sons são mais perceptíveis à distância, o que irá exigir o casamento perfeito das patas do animal com o tipo de solo que pisa, uma boa condição física para que a respiração do cão não seja demasiado audível e denuncie a sua presença, o que a acontecer, lhe tirará a vantagem do efeito surpresa, comprometerá a eficácia dos seus ataques e poderá facilitar o seu aniquilamento.
Pelas mesmas razões, deverá encontrar-se sociabilizado com todo o tipo de animais, para não lhes dar caça, não se entreter com eles e acabar caçado. Contrariamente ao que por aí se vende, o cão de guarda não é uma ladrador nato, mas um predador que não denuncia a sua presença, mesmo quando instado a mostrar-se, que sinaliza a presença de intrusos, quando for caso disso, pela fixação e imobilização, jamais pelo recurso a qualquer uma das suas vozes, a menos que tal lhe tenha sido ordenado. Também não deverá entrar ao serviço com qualquer tipo de coleira ou estrangulador posto, para não denunciar a sua presença e facilitar o seu domínio no confronto directo. Alguns cães, devido ao particular das suas articulações traseiras ou ao pouco desgaste das unhas, fazem muito barulho quando se deslocam nos pisos duros, o que lhes compromete o serviço e a salvaguarda, entraves que não lhes dispensarão o aparo das unhas.
Se o cão à noite deverá ser um fantasma, durante o dia não deverá passar de uma miragem, porque importa que não seja visto nem os seus hábitos conhecidos, porque doutro modo sempre arranjarão maneira de o distrair, ludibriar e até capturar (mais pesado e bruto é um javali mas sabendo-se por onde passa, facilmente o caçaremos com um simples laço). Para que isso não suceda torna-se obrigatório que a cor do manto do cão se confunda com a policromia das cores dominantes locais, que o seu ponto de observação (uma prioridade a estabelecer) não seja visível da rua, que não deambule pelo perímetro a guardar, que não se refresque ou coma quando em trabalho e que não satisfaça as suas necessidades fisiológicas durante os turnos de vigilância, pelo que, antes de entrar ao serviço, deverão ser retirados dali quaisquer dejectos, brinquedos e objectos capazes de o distraírem ou de melhor servirem as intenções e defesa de quem invade. Nunca por nunca, deverão ser deixadas mangueiras no local atribuído à sua vigilância, para que não sujeite a um canhão de água ou venha a apanhar umas valentes ripadas. Quando os horários de policiamento são diurnos e o calor aperta, não havendo outra possibilidade, o seu bebedouro deverá ser colocado num local escondido, de material inaudível, fixo ao chão e colocado sobre um tapete, para não tornar perceptível a sua vulnerabilidade e o cair da água não denuncie onde se encontra.
Pelo que acabámos de dizer, nenhum cão será um guarda efectivo se não for conveniente preparado e instalado no local do seu serviço. Quando as temperaturas mensuráveis na área se encontrarem acima dos 28 graus célsius e não havendo sombra que o proteja, os turnos de vigilância não deverão exceder as 2 horas, porque mesmo que não seja visto, virá a ser denunciado pelo aumento da sua frequência respiratória, menos valia que geralmente vitima os cães mais curtos de focinho. Diante destas contingências e por norma, o cão deverá beber e urinar antes da sua prestação. Se porventura se destinar ao policiamento nocturno, deverá ter um manto próprio para a tarefa, preferencialmente de pelo duplo, muito embora abaixo dos 5 graus célsius tenda a abrigar-se e a acomodar-se, podendo vir a desleixar-se, o que obrigará a treino aturado debaixo das amplitudes térmicas que irá encontrar, para que não as estranhe e nelas se habitue, desempenhando cabalmente as suas tarefas A chuva não causa entrave à esmagadora maioria dos guardiões, muito embora devam evitar as poças por ela formadas, não as usando como piscinas ou meio de arrefecimento, hábitos que lhe poderão ser fatais.
Considerando a salvaguarda do cão e sua prestação, sempre lhe será mais fácil o policiamento nocturno, desde que não se veja iluminado e as luzes do perímetro a guardar se encontrem apagadas, porque é menos visível, dispensa maior acuidade visual e o recurso ao faro vem em seu auxílio. O policiamento diurno, que aumenta a sua exposição e por conseguinte a sua vulnerabilidade, irá obrigá-lo a um condicionamento objectivo e repetido, para diminuir a sua silhueta e evoluir a coberto dos acidentes naturais ou artificiais que lhe garantam a ocultação e lhe possibilitem a apresentação de surpresa. Por outro lado, ele deverá operar apenas no território a guardar, desinteressando-se das pessoas para além dos seus limites e das provocações vindas do exterior, geralmente usadas para ser visto, estratagema comum que visa a sua identificação e posterior desarme. Tudo isto será inalcançável se não for portador de um forte impulso ao conhecimento, qualidade que lhe garantirá uma superior capacidade de aprendizagem e facilitará a missão.
Como se depreende, o exercício guardião não dispensa a componente atlética que o sustenta, todo um conjunto de exercícios aeróbios que possibilitarão os futuros anaeróbios inerentes à sua vocação, que deverão ter início logo após ter alcançado a idade da cópia (4 meses), para que a sua rusticidade não seja diminuída, a sua resistência aumente, os seus índices laborais se mantenham por mais tempo e melhor se adapte às exigências do serviço, cuidado que geralmente oferece a frequência mais baixa dos seus ritmos vitais, benefícios exigidos pela natureza da sua prestação.
Todo o cão de guarda que se deixa corromper tem breve duração e os dias contados, porque cedo se avizinha a sua eliminação, por mais atento e valente que seja. A quase totalidade do envenenamento canino fica a dever-se à ingenuidade, comodismo, irreflexão e irresponsabilidade dos donos, que apostados sabe lá em quê, desprezam os subsídios capazes para valerem aos seus cães. A corruptibilidade canina é instintiva e alimentada pelos maus hábitos, advinda da usurpação por terceiros das prerrogativas inerentes aos donos, que em sua substituição, promovem assim a banalização dos animais, apelando despudoradamente aos seus instintos mais básicos e indo ao encontro das suas preferências.
Se é verdade que o treino existe para o controlo dos instintos e potenciação dos impulsos caninos, então ele será mais que obrigatório para os cães de guarda. Tornar um cão incorruptível é a mais nobre das tarefas dos donos. Para que isso aconteça, há que somar às medidas preventivas, que começam por ser domésticas e exigem regra, a recusa de engodos e o desprezo pelos convites alheios, os relativos à comida, à brincadeira e indutores à desobediência, já que douto modo a contra-ordem sairá vitoriosa, mercê da afeição que vence todas as regras. Só dono deverá distribuir alimento ao cão e só ele deverá fazer uso dos brinquedos e demais pertences do animal. O treino específico da recusa de engodos só deverá acontecer depois da cessação da fase de crescimento dos cães e do alcance da sua maturidade emocional, para não prejudicar o seu desenvolvimento e não lhes gerar confusão.
Só a genética e a preparação cuidada tornarão um cão de guarda quase invencível, e não dizemos totalmente porque no combate entre o inteligente e o dito irracional, normalmente vence o primeiro, por ser mais perspicaz, possuir maior engenho e ter acesso a um arsenal mais variado, apesar do medo e da tensão o levarem de vencida em várias situações. Como o cão parte em desvantagem, é obrigatório que opere as suas capturas debaixo do efeito surpresa, que não se deixe iludir pela imobilidade dos intrusos, que aprenda a desarmá-los e imobilizá-los, mediante ataques cirúrgicos que impeçam imediata e definitivamente a sua defesa, porque a exemplo de um lutador de rua, quem se antecipa acaba por ganhar.
Só a experiência o tornará mais eficaz, o que o obrigará em treino, à captura de cobaias de diferente apresentação, técnica e recursos. Só a certeza da vitória obstará à sua rendição e fuga, o que indicia uma capacitação lenta e gradativa perante os níveis de resistência oferecidos – o cão deve sair vencedor de qualquer peleja, para ganhar confiança e partir decidido para o próximo confronto. Como o  assunto é extenso e apaixonante, prontificamo-nos a outros esclarecimentos que nos forem solicitados, adiantando que treinar seriamente um cão para esta função demora em média 18 meses e que raros são os cães que se encontram verdadeiramente capacitados antes dos 2 de idade, não dispensando o treino continuado que se presta à recapitulação, conversão e actualização das acções instaladas.

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