sábado, 24 de janeiro de 2015

O CIRCO ESTÁ DE VOLTA!

Sempre que pronuncio a palavra Circo, sinto de imediato um amargo de boca, avassala-me uma imagem e a tristeza toma conta de mim, porque me lembro de ter visto, há meia-dúzia de anos atrás, nas traseiras da “Casa do Artista” em Carnide, lar condigno prás gentes do espectáculo, os outrora artistas de circo, que tal qual refugiados, sobreviviam acantonados em decrépitas roulottes, apodrecendo dentro delas sem o mínimo de condições, andrajosos, esquecidos e a obrarem atrás das árvores. Que triste fim para quem fez a alegria da pequena ao longo de gerações! Felizmente, ao que se consta, parece que já foram ou estão a ser realojados. Todos sabemos que o circo está mais pobre, que cada vez mais tem menos animais e que eles funcionavam como cabeça de cartaz (chamariz). Apesar de haver menos companhias circenses e a frequência dos seus espectáculos ser menor, o circo continua, ainda que com artistas diferentes, alcançando maior público, segundo o imortal fascínio exercido pelos animais, que de deuses a demónios, já foram de tudo um pouco.
A moda agora é levar cães para os concursos televisivos, competir por conta das habilidades dos canitos, num espectáculo mais circense do que artístico, baseado em truques e não na técnica, à imitação do que sempre vimos fazer debaixo de velhas tendas embandeiradas. A novidade não provoca estranheza, até porque há pais que sacrificam a carreira dos filhos por conta duns quantos euros (que dão um jeitão do caraças), quando os remetem para séries e telenovelas, aproveitando-se da sua ingenuidade, inexperiência e natureza sonhadora, aumentando-lhes assim a confusão entre a ficção e a realidade, para além de os exporem precocemente a um sem número de toleimas e de perigos desnecessários. Por detrás do aumento das prestações caninas televisivas três factores se levantam: a necessidade de audiência, o sucesso que tem sido o César Millan e a histórica paixão dos portugueses pelos cães. Ainda que noutro formato, o circo está de volta e os cães continuam a prestar-se para quem procura as luzes da ribalta, palhaçadas que não escondem, mais uma vez, a exploração dos animais. Realmente é verdade: tendo a sua côdea para comer, do que o povo mais gosta é de circo! 

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