Sempre que pronuncio a palavra Circo,
sinto de imediato um amargo de boca, avassala-me uma imagem e a tristeza toma
conta de mim, porque me lembro de ter visto, há meia-dúzia de anos atrás, nas
traseiras da “Casa do Artista” em Carnide, lar condigno prás gentes do
espectáculo, os outrora artistas de circo, que tal qual refugiados, sobreviviam
acantonados em decrépitas roulottes, apodrecendo dentro delas sem o mínimo de
condições, andrajosos, esquecidos e a obrarem atrás das árvores. Que triste fim
para quem fez a alegria da pequena ao longo de gerações! Felizmente, ao que se
consta, parece que já foram ou estão a ser realojados. Todos sabemos que o
circo está mais pobre, que cada vez mais tem menos animais e que eles
funcionavam como cabeça de cartaz (chamariz). Apesar de haver menos companhias
circenses e a frequência dos seus espectáculos ser menor, o circo continua,
ainda que com artistas diferentes, alcançando maior público, segundo o imortal
fascínio exercido pelos animais, que de deuses a demónios, já foram de tudo um
pouco.
A moda agora é levar cães para os concursos televisivos, competir por
conta das habilidades dos canitos, num espectáculo mais circense do que
artístico, baseado em truques e não na técnica, à imitação do que sempre vimos
fazer debaixo de velhas tendas embandeiradas. A novidade não provoca
estranheza, até porque há pais que sacrificam a carreira dos filhos por conta
duns quantos euros (que dão um jeitão do caraças), quando os remetem para
séries e telenovelas, aproveitando-se da sua ingenuidade, inexperiência e
natureza sonhadora, aumentando-lhes assim a confusão entre a ficção e a
realidade, para além de os exporem precocemente a um sem número de toleimas e de
perigos desnecessários. Por detrás do aumento das prestações caninas
televisivas três factores se levantam: a necessidade de audiência, o sucesso
que tem sido o César Millan e a histórica paixão dos portugueses pelos cães.
Ainda que noutro formato, o circo está de volta e os cães continuam a
prestar-se para quem procura as luzes da ribalta, palhaçadas que não escondem,
mais uma vez, a exploração dos animais. Realmente é verdade: tendo a sua côdea
para comer, do que o povo mais gosta é de circo!
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