Com alguma dificuldade e relutância, diante do bem-estar que é devido
aos animais, ainda conseguimos aceitar a castração dos cães abandonados, que
entendemos como um mal necessário. O que não nos entra na cabeça é a castração
dos que têm dono, são saudáveis e ostentam pedigree. Bem sabemos que o
paradigma castrante a que assistimos, tem como objectivo a supressão de tumores
no útero, o que não evitará que as fêmeas, sendo de propensão cancerígena, não
venham a sofrer de tumores noutros órgãos ou aparelhos. Por detrás desta
política “do mal, o menos”, esconde-se o comodismo de muitos donos, que não
querendo ser incomodados, acabam por castrar também os machos, na esperança da
sua maior mansidão. Sim, porque a lei relativa aos cães perigosos está aí!
Grande número de proprietários de cadelas, ainda que se justifiquem a castração
dos seus animais pela razão profilática, o que não quer é ter chatices, uma
prenhez inusitada, um magote de cães à porta de casa ou sair à rua com uma
matilha atrás de si. Graças a esta política de castração, ainda que a lei
obrigue ao uso da trela na via pública, eles soltam os seus cães por toda a
parte e lêem comodamente o jornal num banco de jardim, certos de que a
liberdade dos animais não lhes trará problemas de maior. Ora, se isto não é
puro especicismo, eu vou ali e já venho!
Pondo de parte esta filosofia, tornada soberana pela conveniência, e
porque nos importa valer aos cães, vamos tratar da importância da maternidade
para o bem-estar psíquico e social das cadelas, nomeadamente das menos
confiantes e mais receosas, muitas delas também “à brocha” com o bisturi, o que
não deixa de ser um tremendo disparate, face ao agravamento dos seus medos,
resistindo algumas a sair à rua, a escapar-se diante doutros cães ou a ganirem
por tudo e por nada, mercê da amputação que transtornou o seu viver social. O
recurso à maternidade sempre foi usado na cinotecnia para o robustecimento do
carácter das cadelas, para potenciar o seu impulso à defesa e torná-las mais
seguras e menos esquivas, potenciação naturalmente propiciada pelo instinto
maternal. Quer queiramos ou não, as cadelas nasceram para parir, precisam de
ser mães, necessidade que leva algumas à ilusão da prenhez, enveredando pela
pseudociese. Apesar do exercício da maternidade fortalecer o impulso à defesa,
ele não aumentará de acordo com o número de ninhadas, a menos que determinada
cadela se veja obrigada a esconder os seus filhos, por senti-los mal acomodados
ou constantemente importunados.
Assim, aconselhamos aos nossos leitores proprietários de cadelas, que as
deixem fazer uma ninhada ou duas, para que biologicamente se sintam mais
fortes, seguras e felizes, já que nenhum pecúlio ou artificialismo conseguirá
substituir plenamente o que recebem da maternidade, procedimentos que deverão
acontecer depois dos 2 anos de idade e antes dos 6. Para aqueles que têm
cadelas por demais receosas ou que evidenciam taras de vária ordem, a prenhez é
o melhor dos antídotos, porque lhes resolve um sem número de achaques, tanto
psicológicos como sociais, geralmente resultantes da nossa indiferença pelo
particular destes animais. Evitaríamos esta trabalheira se os bonecos de
peluche mamassem ou se as cadelas não nascessem para procriar. É possível que
no futuro se façam cadelas sem essa necessidade, à imitação das galinhas
poedeiras que nunca chocam. Até lá, porque as respeitamos, há que valer-lhes, considerar
à sua natureza e propósito de vida.
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