sábado, 8 de novembro de 2014

QUEM É O TEU PAI?

Em tipos idos, quando o País se amparava pela economia de sobrevivência e os direitos das crianças eram pouco considerados, era comum nas aldeias e vilarejos do interior, ao ver-se uma criança isolada, qualquer um perguntar: “quem é o teu pai?”, ao invés de: “como te chamas?” Hoje essa prática entrou em desuso, primeiro porque as crianças já não podem andar à vontade e depois porque passaram a ser melhor consideradas. Não obstante, ela continua em vigor no universo canino, onde a genealogia mais importa que os indivíduos, como se os seus pergaminhos garantissem a qualidade individual. Pergaminhos por pergaminhos, nunca ninguém os teve como os reis, o que não impediu que alguns gerassem herdeiros imprestáveis ou loucos. Bem sabemos que não está fácil vender cachorros, aliás, nunca o foi!
O facto de um cachorro ser filho de campeões de beleza, o que à partida lhe garantirá as características exteriores da sua raça (morfologia), só por si, não é sinónimo de qualidade e muitas vezes é até um handicap, diante dos malefícios legados pela consanguinidade e pela eugenia negativa, fartos em perpetuar incapacidades de vária ordem. O que é verdade para os cães de beleza é também para os de trabalho, tanto do ponto de vista morfológico quando do funcional, porque não basta cruzar dois cães bons para que o resultado seja excelente. Além disso, dificilmente as ninhadas serão totalmente homogéneas, sobressaindo quase sempre, indivíduos com notórias diferenças entre si, tanto de morfologia como de carácter. Independentemente da raça, importa considerar o indivíduo, decifrar o que ele tem de bom ou de mau, as afecções de que é portador, a sua máquina sensorial, o estado geral dos seus aprumos, a biomecânica e os principais impulsos herdados, factores que diminuirão os riscos duma má escolha. Se não sabe ou não tem como avaliar um cachorro, não vá atrás de balelas, lembre-se que os criadores menos escrupulosos, a despeito da sua idade, experiência e simpatia, tentam primeiro livrar-se dos piores exemplares e que raríssimos são os negócios a contento das duas partes. Se este for o seu caso, antes de se inebriar pelo que vê, não conhece e ninguém quer, faça-se acompanhar por um expert e peça-lhe conselho, porque o barato pode sair caro e comprar caro não garante a qualidade.

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