Em tipos
idos, quando o País se amparava pela economia de sobrevivência e os direitos
das crianças eram pouco considerados, era comum nas aldeias e vilarejos do
interior, ao ver-se uma criança isolada, qualquer um perguntar: “quem é o teu
pai?”, ao invés de: “como te chamas?” Hoje essa prática entrou em desuso,
primeiro porque as crianças já não podem andar à vontade e depois porque
passaram a ser melhor consideradas. Não obstante, ela continua em vigor no
universo canino, onde a genealogia mais importa que os indivíduos, como se os
seus pergaminhos garantissem a qualidade individual. Pergaminhos por
pergaminhos, nunca ninguém os teve como os reis, o que não impediu que alguns gerassem
herdeiros imprestáveis ou loucos. Bem sabemos que não está fácil vender
cachorros, aliás, nunca o foi!
O facto de
um cachorro ser filho de campeões de beleza, o que à partida lhe garantirá as
características exteriores da sua raça (morfologia), só por si, não é sinónimo
de qualidade e muitas vezes é até um handicap, diante dos malefícios legados
pela consanguinidade e pela eugenia negativa, fartos em perpetuar incapacidades
de vária ordem. O que é verdade para os cães de beleza é também para os de
trabalho, tanto do ponto de vista morfológico quando do funcional, porque não
basta cruzar dois cães bons para que o resultado seja excelente. Além disso,
dificilmente as ninhadas serão totalmente homogéneas, sobressaindo quase
sempre, indivíduos com notórias diferenças entre si, tanto de morfologia como
de carácter. Independentemente da raça, importa considerar o indivíduo,
decifrar o que ele tem de bom ou de mau, as afecções de que é portador, a sua
máquina sensorial, o estado geral dos seus aprumos, a biomecânica e os principais
impulsos herdados, factores que diminuirão os riscos duma má escolha. Se não
sabe ou não tem como avaliar um cachorro, não vá atrás de balelas, lembre-se
que os criadores menos escrupulosos, a despeito da sua idade, experiência e
simpatia, tentam primeiro livrar-se dos piores exemplares e que raríssimos são
os negócios a contento das duas partes. Se este for o seu caso, antes de se
inebriar pelo que vê, não conhece e ninguém quer, faça-se acompanhar por um
expert e peça-lhe conselho, porque o barato pode sair caro e comprar caro não
garante a qualidade.
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