sexta-feira, 28 de novembro de 2014

DIE HUNDE VON STASI: A IMPRESSÃO DIGITAL OLFACTIVA

Antes de mais, importa dizer o que foi a “Stasi” (forma abreviada de Ministerium für Staatssicherheit), nada mais nada menos que a principal organização da polícia secreta da ex-República Democrática Alemã (para nós RDA e para o resto do mundo DDR). Esta organização erigiu-se sobre os escombros da Gestapo, foi aprimorada pela KGB e criada no dia 8 de Fevereiro de 1950. Ficou tristemente célebre pela crueldade e brutalidade dos seus métodos e foi dissolvida em 1989 com a Queda do Muro de Berlim, contando nas suas fileiras com 90.000 funcionários e 175.000 informadores. O seu último Director foi Erick Mielke (na foto abaixo ao centro), ainda que momentos antes da extinção da RDA, a organização tenha adoptado outra designação e outro director, passando a chamar-se “Oficina para a Segurança Nacional”, sendo chefiada por Rudi Mittig. Com a reunificação da Alemanha foi rendida nas funções e no terreno pelo “Bundesnachrichtendienst” (Serviço Federal de Informações), também conhecido por BND.
Na edição anterior, na rubrica “O SEGREDO DE CAT ISLAND: VARRER O JAPÃO À DENTADA”, falámos do plano proposto pelo Sr. William Prestre às autoridades militares norte-americanas (1942), onde tivemos ocasião de dizer e concluir, que os cães conseguem diferenciar raças e indivíduos pelo odor, verdade comprovada cientificamente e que a princípio deu crédito ao plano bizarro daquele cidadão suíço, do qual, pensando bem, temos algumas dúvidas quanto ao seu verdadeiro nome, nacionalidade, currículo e aptidões específicas. Graças a essa capacidade canina, a de diferenciar os indivíduos pelo odor, muita gente tem sido capturada, resgatada e salva pelos cães. Mas a “Stasi” foi mais longe, preocupada com os fugitivos e dissidentes de então, arranjou dos que conhecia um registo do seu odor, a chamada “impressão digital odorífera”, por vezes tratada também como “impressão digital olfactiva”, considerando os agentes usados na sua detecção – os cães. Esse registo, com amostras de 120.000 indivíduos, foi guardado e conservado até aos dias de hoje, mediante flanelas com o odor dos visados, dentro de frascos de vidro hermeticamente fechados, no departamento forense daquela polícia política.
Já com a Alemanha unificada, tentou-se usar o mesmo método na identificação de manifestantes contra a globalização, por ocasião da reunião dos G8, que aconteceu na Alemanha em 2007 (Rostock), assunto que gerou acesa polémica na sociedade e órgãos de soberania alemães. O odor de cada um de nós tem cerca de 400 componentes e todos temos odores diferentes, tal como acontece com as impressões digitais. A melhor recolha de odores individuais acontece no depósito da transpiração em metais. A conservação dessas “impressões digitais olfactivas” obedece a cuidados especiais para se evitar a desintegração das fragrâncias e a sua oxidação. O acerto canino na diferenciação dos odores humanos ronda os 90% e os cães apresentam alguma dificuldade em diferenciar gémeos idênticos e indivíduos descritos geneticamente como “quimeras”. O uso da “impressão digital olfactiva” tanto poderá ser lícito como abusivo, prestar-se para diferentes fins, que vão deste o salvamento de indivíduos até ao seu aniquilamento. Contudo, ela poderá ser um importante subsídio para a investigação criminal, ao prestar-se à identificação de criminosos.
Todos somos cada vez mais identificáveis e observados, o que nos transporta para o caso duma idosa senhora, com quem travámos amizade ao longo de anos, que cada vez que se deslocava a um telefónico público, antes de pegar no auscultador, ou calçava luvas ou desinfectava-o primeiro com álcool (razão tinha ela!). Entre nós sempre usámos a frase: “marcado pelo diabo”, para designar um indivíduo fugitivo, cujo odor havia sido entregue ao cão que o perseguia ou que vestia a roupa de outrem já identificada pelo animal. O uso de certos desodorizantes e perfumes, tanto podem reforçar a “impressão digital olfactiva” como alterá-la, e por causa disso, nem todos os perfumes se prestam a todos os tipos de pele, facto conhecido de homens e cães, que leva ambos a confundirem o seu odor, os homens mediante fragrâncias e os cães pelo esfregar do seu corpo nas fezes do animal que perseguem, alcançando ambos o disfarce odorífero que procuram.
Como o seguro morreu de velho e o perigo vem donde menos se espera, nunca ceda roupa sua ou use a de outros sem primeiro a lavar. Deverá ter igual cuidado quando usar ferramentas e utensílios alheios, entregando-os só depois de os desimpregnar, para que o seu DNA não venha a aparecer onde não deve. No meio de gente pouco recomendável ou desconhecida, evite tocar em algo onde possa deixar o seu odor, para que não venha a ficar “marcado pelo diabo” e vir a ter um cão à perna!
A excelência laboral dos cães de Leste, que tantos benefícios trouxe para o avanço da cinotecnia em geral, mérito do esforço militar russo, que sempre considerou o trabalho como o primeiro pressuposto para a selecção canina, por vezes mal usado por organizações governamentais, em prol da repressão e para a eliminação de opositores ao regime, como foi o caso da “Stasi”, que não é caso único tanto a Leste como a Oeste, por força da excelência procurada e em virtude do isolamento estratégico, acabou por aumentar a consanguinidade nos cães ao seu dispor. O uso abusivo destes exemplares, à luz dos Direitos Humanos, uma vez considerado e convenientemente transformado, reverteu-se em mais-valias e subsídios para a melhor compreensão e uso dos cães. O que mais importa guardar deste tema, é que todos temos um odor único, que nos distingue dos demais, facilmente identificado pelos cães, o que poderá aumentar o nosso socorro, como tantas vezes temos visto nas diferentes operações de salvamento e resgate. 

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