Todos os professores são dignos de consideração e apreço,
particularmente os dos 1º Ciclo do Ensino Básico, porque todos os anos voltam
ao mesmo, experimentam as mesmas dificuldades, procuram os mesmos objectivos e
a paciência não lhes pode faltar. Identificamo-nos com eles de sobremaneira,
porque não nos sobra outra sorte, considerando os conteúdos de ensino básico
que ministramos ano após ano. Assim, vamos hoje retomar o ensino do “à frente”,
comando importantíssimo para o equilíbrio do carácter canino, imprescindível à
autonomia condicionada proposta pelo adestramento e indispensável para os cães
guardiões. Apesar de ser um comando muito fácil de ensinar, deparamo-nos todos
os anos com binómios que teimam em adquiri-lo, como se ele proviesse duma
resposta artificial e por causa disso, fosse de difícil assimilação para os
cães, o que não corresponde à verdade.
Contrariamente
ao que julga, este comando pode ser instalado em casa e tirado a partir dos
passeios diários, mediante subsídios anímicos que se aproveitam de
circunstâncias rotineiras, tornando-o desejado e apreensível para os cães,
valendo-nos das situações quotidianas que antevêem a experiência feliz. A
maneira mais fácil de o obter é associá-lo aos desejos e apelos dos animais.
Quando o cão nos pede para sair ou “entende” que é chegada a hora de ir à rua,
podemos aproveitar-nos disso e adicionar-lhe o comando, absorção quase
automática pelo contributo da sua memória afectiva. Quem tem um corredor em
casa, pode valer-se dele para o mesmo efeito, especialmente se no seu final,
houver uma recompensa ou se encontrar um brinquedo ou pessoa do seu agrado.
Também é possível treiná-lo no exterior, nas passagens estreitas ou nos
corredores direccionais quer eles sejam naturais ou artificiais, assim como nos
momentos em que intenta ir ter com outros cachorros ou correr atrás do seu
brinquedo, dentro e fora de água.
A que se
deverá a resistência canina ao comando? São múltiplas as causas dessa
resistência e nem todas são da responsabilidade exclusiva dos cães. Podemos até
dizer que, considerando a sua selecção e manuseamento, a resistência canina é
essencialmente um acto reflexo. Todos sabemos que os cães medrosos resistem ao
comando, apesar de necessitarem dele para se reequilibrarem, que muitos donos
desistem perante a dificuldade e que a liderança que patenteiam, por ausência
de ânimo e estímulo apropriados, leva os seus companheiros à suspeição, por
temerem a correcção, desconfiarem do incentivo ou se haverem tornado manhosos.
Independentemente da origem do medo, se genética ou ambiental, importa
ultrapassá-lo e o “à frente” presta-se para isso.
É evidente
que primeiro há que ensinar o “junto” e só depois o “à frente”. Normalmente
ensinamos este comando direccional a partir dos 4 meses, para que a compreensão
da hierarquia concorra a nosso favor, considerando os indivíduos e o particular
da raça que pertencem. Primeiro fazemo-lo à trela e depois em liberdade, uma
vez alcançado esse modo de condução. Temos por norma associar ao comando verbal
um gestual, para garantir o desempenho canino à distância, onde a voz não
alcança, compromete ou é contraproducente. Na condução à trela, o gesto é
indicado pelo braço esquerdo estendido do condutor, que transfere a trela para
a mão direita, garantindo assim o movimento linear pretendido. Perante a
cessação não ordenada desse movimento, os condutores deverão reagrupar os cães
no “junto” e impulsioná-los de novo, quantas vezes for necessário, tendo
cuidado de pegar na trela pelo remate do cabedal que antecede o fecho
(mosquetão). O “à frente” bem conseguido induz ao adiantamento dos cães no
comprimento total da trela. Quando feito em liberdade, a distância entre o dono
e o cão poderá e deverá ser maior mas nunca superior ao retorno pronto e
imediato do animal.
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