“De médico e
de louco todos temos um pouco”, ou pelo menos julgamos ter, muito embora sempre
tenhamos falta de médicos e de loucos nem por isso! O relacionamento entre
homens e cães nunca foi tão íntimo como hoje em dia, o que por um lado é bom,
porque espelha um maior cuidado com o bem-estar destes animais, mas que por
outro é mau, porque a antropomorfismo surgiu como consequência. Longe vai o
tempo em que os cães se chamavam Tejo, Douro, Piloto e Benfica, agora têm nomes
próprios de pessoas e superabundam por aí Afonsos, Martim’s e Isabéis, o que em
termos de tratamento não é mau de todo, se ficássemos por isso mesmo, apesar de
abusivo e deselegante, quando um homónimo de duas pernas se cruza com algum
deles. Já tem acontecido e voltará a acontecer, um dono chamar pelo seu cão na
rua e responder-lhe um transeunte. Por vezes há quem se ofenda e daí resulte
uma azeda troca de palavras, já que ninguém gosta de ser tratado abaixo de cão.
Se por Lei, eu não posso pôr o nome que me der na gana a um filho, legalmente, continuo
a poder registar cães com nomes de gente, tanto nas autarquias quanto no Kennel
Club Português (CPC). Diante de tamanho disparate, só nos resta legislar o bom senso!
A recente
promoção canina, que nalguns casos tem posto os cães à mesa e a irem às lojas
da moda, quando exagerada, tem acarretado graves problemas de saúde para os
cães, que apanhados de surpresa e biologicamente despreparados, se vêem
confrontados com manjares ou alimentos para eles impróprios e lesivos, sobrando
ainda alguns que lhes poderão ser fatais. A baixa taxa de natalidade e a
substituição dos filhos pelos cães, os novos modelos familiares e a crise
económica, somados a outros factores, têm contribuído de sobremaneira para a
relação de paridade entre homens e cães, elevando os últimos à condição de
humanos e ao estatuto de filhos. E como o que é bom para mim, é bom para ti,
mercê da relação idílica que desconsidera os organismos duns e doutros e as
suas diferenças de funcionamento, muitos cães acabam intoxicados e doentes,
alguns internados e a soro, entre a vida e a morte. O leite, o queijo e o
chocolate, assim como as uvas e o abacate, também o alho e a cebola, são
alimentos altamente prejudiciais para os cães, os primeiros quando consumidos
em excesso, porque causam gases, diarreia e vómitos (o chocolate mata), os
segundos porque atacam vários órgãos (as uvas podem levar à falência renal e
algumas variedades de abacate são tóxicas para os cães), e os terceiros porque
afectam os eritrócitos (glóbulos vermelhos) e os animais poderão vir a
necessitar de transfusões sanguíneas.
Geralmente,
ao “o que é bom para mim, é bom para ti” segue-se “o que me faz bem a mim,
faz-te bem a ti”, ou seja, sem qualquer prescrição médico-veterinária, os cães
acabam por tomar medicamentos receitados aos donos ou oriundos da sua
automedicação, como se os fármacos que nos são inofensivos, não pudessem ser
altamente tóxicos para os cães, mesmo em pequenas quantidades, como se tem
vindo a verificar. Segundo um Hospital Veterinário que contactámos, as
intoxicações medicamentosas mais comuns nos cães reportam-se ao ácido
acetilsalicílico, ao diclofenac, ao paracetamol e ao ibuprofeno, sendo os dois
últimos mais usados, quando os donos sentem os seus animais mais abatidos e
prostrados, para além de deitarem mão a antibióticos para sarar feridas e
infecções não tratáveis por eles. Mucosas ictéricas ou anémicas, náuseas,
vómitos, hipersalivação, aumento da frequência cardíaca e dificuldade
respiratória, geralmente associados a edema (nas faces, nas extremidades ou
generalizado), são os sinais clínicos mais comuns de intoxicação por
medicamentos. Antes de fazer algum disparate de que se venha a arrepender,
deixe-se de armar aos médicos e leve o seu cão ao veterinário, porque nem tudo
o que é bom para si é bom para ele! E quem melhor que eu seu veterinário poderá
indicar-lhe qual a dieta certa para o seu cão? Já que não é médico, não
engrosse o número dos loucos!
Sem comentários:
Enviar um comentário