sexta-feira, 21 de novembro de 2014

JARDINS PROIBIDOS

Este artigo é um alerta para os pais, para os proprietários caninos, para os arquitectos paisagistas e para toda a população. Como o assunto é melindroso, seremos obrigados a omitir alguns pormenores, para não subsidiar criminosos, não dar ideias a algum “Black MacGyver”, não dar azo à eutanásia, não auxiliar suicidas e não sermos responsáveis pelo desaparecimento de alguém. Quanta gente já terá morrido por envenenamento sem ninguém dar por isso, uma vez considerada a sua idade e histórico clínico? Não é só a “legionella pneumophila” que mata, como recentemente tem ocorrido, algumas plantas também podem fazê-lo. Ninguém morre por causa da idade, mas sim pelo desgaste que ela provoca e pelas insuficiências que normalmente traz. De qualquer modo, os pobres morrerão primeiro, porque a sociedade, ao transformá-los em indigentes, tornou-os incapazes de se valerem a si mesmos, vindo alguns a ser aproveitados como cobaias pela indústria farmacêutica, miseráveis que continuam a trocar a totalidade dos seus dias por necessidades imediatas ou pelo bem-estar dos seus filhos. Como é bom nascer do lado certo do Mundo!
Hoje vamos falar sobre plantas capazes de matar homens e animais, ornamentos venenosos à nossa volta, que temos em casa, no jardim e nos parques públicos, plantas cuja beleza e singeleza escondem a sua toxicidade, umas de odor apelativo e outras não, que uma vez ingeridas, poderão ser fatais para os cães, como é o caso da “Cicuta”, retratada no final deste parágrafo (na variedade “conium maculatum”), cujo veneno, segundo reza a história, foi o responsável pela morte de Sócrates, ao beber dele uma tisana. Foi também muito utilizado na ponta das setas. Planta muito comum em Portugal, nativa da Bacia Mediterrânica, Europa e Médio Oriente, facilmente encontrada nas margens dos cursos de água e nos solos geralmente húmidos, onde floresce de Abril a Agosto. Entre nós é conhecida como “abioto”, “ansarina-malhada”, ansarinha-malhada”, “cegude”, “cicuta-de-atenas”, “cicuta terrestre” e “legude”. A procura de ervas e plantas é própria dos cães com alguma disfunção digestiva, sujeitos a dietas pobres, carenciados de suplementos minerais e também dos atribulados por distúrbios comportamentais resultantes de diferentes estados de ansiedade.
A “dieffenbachia seguine”, à imitação das outras variedades de “dieffenbachias”, também conhecida por “aningapara” ou por “comigo-ninguém-pode”, identificada na foto abaixo, tão comum no interior dos lares portugueses e usada como veneno pelos índios brasileiros na caça, pode matar um cão em 24 horas. Por prevenção, proíba o seu cão de comer ervas e em sua substituição misture-lhe na ração vegetais que lhe são benéficos (em pequena quantidade), todos podem ser cozidos e alguns podem ser distribuídos crus. São eles: a abóbora, a alface, a beterraba, os brócolos, a cenoura, a couve de repolho e a ervilha. Diante da ingestão de uma planta tóxica não provoque o vómito ao animal, lave-lhe abundantemente a boca e leve-o de imediato ao veterinário, indicando ao clínico o nome da planta ingerida, para que o cão seja conveniente tratado e sujeito a uma lavagem gástrica. Nestas circunstâncias, provocar o vómito a um cão com azeite, leite, ou sal, dependendo da planta ingerida, só irá agravar os sintomas. Devemos lavar a boca ao animal porque algumas plantas são irritantes e cáusticas, quando em contacto com a mucosa oral e com o esófago. A ingestão de uma planta tóxica tem como sintomas a hipersalivação, vómitos, náuseas, diarreia e inapetência alimentar e a sua suspeita é por norma confirmada pela presença de restos de plantas nos vómitos e nas fezes.
Antes de nos debruçarmos sobre as plantas de interior mais tóxicas e não conseguiremos enumerá-las todas aqui, capazes de causarem sérios danos a crianças e cães, que têm por hábito mastigá-las, geralmente em casa dos avós, que ignoram a sua toxidade, porque ninguém os informou, aliás nesta matéria a falta de informação brada aos céus, vamos falar-vos do oleandro (nerium oleander), por muitos considerada a planta mais venenosa do mundo, porque causa um efeito devastador no coração de quem a ingerir, para além das habituais dores abdominais, pulsação acelerada, diarreias, irritação da mucosa oral, náuseas e vómitos. Apesar de uma só folha deste arbusto poder matar uma pessoa ou um animal, os oleandros, outrora muito frequentes nas faixas separadoras das auto-estradas, superabundam agora nos nossos jardins públicos, como se deles não resultasse qualquer perigo para a saúde, o que não deixa de ser um problema de latitude. E dizemos isto, porque em Inglaterra, junto ao Castelo da Cidade de Alnwick, em Northumberland (ver foto introdutória deste artigo), existe um complexo de jardins que no seu todo formam o “The Poison Garden”, onde os seus visitantes são informados e alertados para os perigos das plantas mais tóxicas e venenosas do mundo, ideia inspirada no Jardim Botânico de Pádua de 1500, que teve como mecenas a Família Medici, construído para cultivar plantas medicinais e venenosas. Já alguém viu por aqui alguma placa a avisar da toxicidade do oleandro?
Para se ter uma ideia mais exacta da toxicidade do oleandro, basta dizer que, se comermos caracóis que o transformaram em dieta, acabaremos intoxicados. O mel produzido a partir das suas flores é igualmente tóxico (atenção Srs. Apicultores). Uma nossa aluna de tempos idos, desinformada, seguindo a tradição de levar para a escola uma árvore representativa do seu cão, sem o saber e pondo em causa a saúde dos cachorros que então treinávamos, acabou por nos levar um oleandro, porque o entendia resistente e isento de maiores cuidados. É evidente que a árvore não “resistiu”, porque aquele não era o melhor lugar para ela! Se a ingestão duma simples folha deste arbusto pode matar um adulto, pergunta-se: porque razão existem tantos oleandros nos jardins das creches e das escolas? Como as comuns listas de plantas recomendadas para o interior, mais consideram a sua beleza e sobrevivência dentro de casa do que perigo que possam causar a crianças e animais domésticos, aconselhamos os nossos leitores a informarem-se previamente do grau de toxicidade das plantas da sua eleição. Fazendo isso, libertam-nos de enumerarmos todas as que são altamente tóxicas, cujo número é bem maior que o esperado. Tomando como exemplo as mais comuns entre nós, para além das “dieffenbachias” que já manifestámos, queremos ainda chamar à atenção para as seguintes: Anthurium, Spathiphyllum (na foto abaixo), Sanseviera Trifasciata, Euphorbia Pulcherrina e Rhododrendo Spp.
Queremos aqui destacar a “Ricinus communis”, tratada em Portugal por “Rícino” ou “Figueira-do-Inferno” (na foto abaixo), uma planta da nossa flora que cresce espontaneamente nos campos, também muito comum em toda a Bacia do Mediterrâneo, na África e na Índia, já conhecida dos egípcios há mais de 4.000, que a empregavam como laxante e unguento para o cabelo. O seu óleo é hoje utilizado como matéria-prima para o biodiesel e maioritariamente destinado à indústria química para produtos de maior valor acrescentado. A sua semente é tóxica e quando purificada é mortal em pequenas doses. Segundo o “Guiness” (Livro de Recordes), esta é a planta mais assassina do nosso Planeta e segundo se consta, mata mais depressa homens do que cães. Diz-se que a antiga KGB usou o seu veneno para silenciar os opositores ao regime soviético. Muitas das plantas tóxicas são hoje utilizadas para a fabricação de medicamentos e produtos cosméticos, para além de empregues nos mais variados usos industriais.
O que importa guardar desta viagem relâmpago ao mundo das plantas tóxicas, é que o seu veneno pode matar homens e animais, que há que proteger as crianças e os cães em particular (os gatos também), não lhes deixando à mão ervas, flores, arbustos ou árvores que possam fazer perigar a sua saúde e até eliminá-los. Por outro lado, exortamos os nossos leitores a uma maior pesquisa, porque ainda há muito para ver, ler e saber. Adiantámos os procedimentos para valer aos cães no caso de ingestão de plantas tóxicas e esperamos que o nosso alerta surta efeito, para que as famílias continuem a crescer saudáveis na companhia dos cães. Apelamos aos arquitectos paisagistas para que trabalham em conjunto com os diversos botânicos, no intuito de melhor garantirem a saúde pública, parceria que teima e tarda em constituir-se, o que não deixa de ser um absurdo. O derradeiro apelo vai para a população em geral: antes de comprar uma planta, certifique-se do seu grau de toxicidade, mesmo que julgue conhecê-la e por mais inofensiva que ela lhe pareça, pois seis das plantas mais venenosas do mundo, encontram-se na nossa flora e nascem espontaneamente nos campos. Muitas das restantes já habitam, indevidamente, nas nossas casas e jardins, como se a estética fosse tudo e o perigo não espreitasse.

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