sexta-feira, 21 de novembro de 2014

O SEGREDO DE CAT ISLAND: VARRER O JAPÃO À DENTADA!

O facto histórico que vamos aqui narrar, uma americanice condenada ao fiasco e até há bem pouco tempo guardada em segredo, aconteceu na “Cat Island”, uma ilha em forma de “T”, na foz do Mississípi e defronte para o Golfo do México, nas chamadas ilhas barreiras. A particularidade do seu clima tropical, extraordinariamente quente e húmido, presidiu à sua escolha, por ser semelhante ao encontrado nas ilhas do Pacífico, então ocupadas pelo Exército Imperial Japonês. Estamos em plena II Guerra Mundial e os Estados Unidos ponderam várias formas para invadir o Japão, de modo a evitar um banho de sangue, já que os soldados japoneses lutariam até ao último homem pela defesa do seu território. Como é sabido, a opção adoptada foi a do lançamento de duas bombas atómicas, uma sobre Hiroshima e outra sobre Nagasaki, ocorridos respectivamente a 6 e 9 de Agosto de 1945.
No meio disto tudo aparece um refugiado suíço, a viver nos Estados Unidos, de nome William A. Prestre, de quem pouco ou nada se sabe, com uma proposta tentadora, que foi considerada e levada a cabo na ilha que atrás mencionámos, um plano para invadir as ilhas japonesas com cães, certo que os animais seriam capazes de diferenciar os soldados japoneses pela aparência e pela diferença de odor, arrancando-os dos seus bunkers, casamatas, trincheiras e abrigos. O adestramento desses cães começou em Novembro de 1942 e terminou a 02 de Fevereiro de 1943, altura em que o plano foi abandonado, após o fracasso das duas demonstrações consentidas ao visionário suíço pelos responsáveis do Exército Norte-americano. Nunca mais se soube nada dele, partiu sem deixar rasto.
Para o efeito foram aproveitados cães oriundos da requisição civil e recrutados em segredo 25 soldados nipo-americanos. Como os cães ali chegados não obedeceram a nenhuma pré-selecção, acabaram por ser ali testados, seleccionados e treinados, sendo os excluídos aproveitados para outros serviços e especialidades. Sem saberem ao que iam, coube aos soldados nipo-americanos, vestidos com fardas japonesas, o papel de cobaias ou mais objectivamente de iscas humanas. Estes homens passavam metade dos dias a lutar e a ser mordidos, a esconder-se e a ser perseguidos pelos cães. Depois disso, abandonavam o local dos simulacros e iam para uma embarcação que se encontrava ao largo daquela ilha, curar as lesões e pescar. O que sabemos hoje acerca deste plano bizarro e adestramento sui generis, deve-se, em primeiro lugar, ao testemunho de um dos soldados nipo-americanos que nele participou: Ray Nosaka, na foto abaixo, debaixo dum nevão e instalado no Camp McCoy, antes de ser recrutado para a Cat Island.
Apesar do mal sucedido helvético ter dito que conseguiria treinar 30.000 cães para formar uma equipa de assalto às ilhas japonesas, apenas 400 manifestaram parcialmente alguma propensão para isso e a maioria deles viria a ser transformada em cães transportadores de pombos-correios, cães-pisteiros e de patrulha, havendo outros que acabaram especializados na detecção de minas e outros usados como cães-bomba. Porque falhou o Plano do Sr. William Prestre? Não conseguiriam os cães diferenciar os japoneses pelo odor? Na teoria, o plano tinha tudo para dar certo mas na prática seria impossível, porque debaixo das explosões, do ribombar das armas pesadas, do fogo da metralha, do odor a pólvora e da movimentação evasiva dos soldados de ambos os lados, tanto na frente como na retaguarda, seria muito difícil identificar as presas certas. Por outro lado, avançando-se a hipótese dos cães funcionarem como guarda avançada ou tropa de assalto, trabalhando isoladamente com os soldados nipónicos acoitados em “ninhos de atiradores” ou em bunkers, ainda que os detectassem, faltar-lhes-ia estímulo para os atacarem e facilmente acabariam eliminados, por ausência de provocação, interferência da matilha animal e omissão da liderança.
É evidente que qualquer cão pode ser utilizado para dar caça a uma raça humana em particular e que isso acontece maioritariamente pelo odor (o nariz dos cães funciona como um verdadeiro extractor de odores), tarefa facilitada se esses indivíduos tiverem um comportamento padrão diante de determinadas circunstâncias, do conhecimento prévio dos cães, entendido por eles como provocação e objecto de treino aturado, desde que as presas a capturar se diferenciem e se encontrem em minoria, constituídas em alvo perecível e perfeitamente identificável. E isso aconteceu em quase todas as guerras. Estamos em crer, inclusive, que a “erudição de Prestre” teve como fundamento os experimentos ocorridos na I Grande Guerra (1914-1918).
Hoje Cat Island é uma reserva natural de eleição e um destino turístico para os biólogos e amantes da natureza. Das estruturas que serviram de base ao “plano de invasão canino do Japão” pouco ou nada sobrou, especialmente depois da passagem de sucessivos tornados. Fica para a história o sonho de um suíço mais louco do que excêntrico, de um adestrador civil a quem, em má hora, os militares americanos deram ouvidos, quando lhes fez crer que sucessivas vagas isoladas de galgos, cães-lobos e dogs alemães, seriam capazes de levar de vencida a infantaria entrincheirada do Exército Imperial Japonês. Tudo isto parece tirado da ficção mas aconteceu numa ilha do Mississípi, quando importava poupar vidas humanas. Os verdadeiros heróis da história foram os soldados nipo-americanos, primeiro oriundos dos campos de internamento que, para provarem o seu patriotismo, se sujeitaram aos caprichos dos homens e aos mimos daqueles cães.

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