quinta-feira, 13 de novembro de 2014

PODENGO: PREFERENCIALMENTE PRETO!

Sempre será mais fácil proibir do que compreender, apressar julgamentos do que apurar factos, particularmente quando nos convém, ainda que mais cedo ou mais tarde venhamos a ser desmentidos. O que acabámos de dizer pode aplicar-se ao Podengo Português Negro, variedade cromática que a maioria ignora existir e que outros têm feito desaparecer, varrendo-a da selecção e rotulando-a de indesejável, como ainda hoje se pode ler no estalão da raça, onde a variedade é, ainda que admitida, subtilmente desprezada como cor “não preferencial”. Perante tamanha descriminação, pergunta-se: quem se sentirá cómodo e ousará criar cães desta variedade cromática? Provavelmente muito poucos, somente aqueles que fundamentam a sua teimosia na qualidade irrefutável destes cães.
Há nisto tudo uma “germanite” aguda, intrínseca e por isso menos apregoada, a despeito da nossa herança mediterrânica, como se a eugenia negativa fosse excelente e ainda estivéssemos a suportar os três dias de luto oficial pela morte de um idiota, sentimento incontido e agora reforçado pela presença da Sr.ª Ângela Merkel, tida como a segunda governante mais poderosa do mundo, que ao que consta, não nutre especial simpatia por cães (o Sr. Putin que o diga!). A presença da cor negra nos podengos remonta às suas origens e sempre esteve presente nos seus ascendentes, raças colaterais e descendentes, cite-se como exemplo, entre outros, os casos do Canaan Dog e do Podengo Crioulo, para já não se falar doutros podengos peninsulares e do testemunho faraónico gravado e pintado em pedra. E se isto não bastar como comprovante, hoje temos a análise do ADN que dissipa todas as dúvidas, o que seria óptimo para os nossos jovens investigadores e muito revelaria sobre a origem destes cães.
Acerca deste tema, germânicos por germânicos, entre tantos e bons, mais nos interessa Max von Stephanitz, que a determinado trecho disse: “ se o cão é bom, a cor não pode ser má (ruim)”, princípio rejeitado pela ideologia dominante de então, fortemente bitolada, de ideias curtas e que tantos amargos de boca lhe causou. É por demais evidente que o asco à cor negra nos podengos é mais político do que razoável, diante da prestação cinegética dos indivíduos seus portadores, primeira razão que os conservou entre nós até aos dias de hoje. Sobre a sua mestria não faltam testemunhos na Internet, isto para os mais incrédulos, para aqueles que nunca os viram a caçar (nós já os vimos).
Assim, a razão que mais tem obstado à proliferação dos podengos negros é a sua cor, não a sua morfologia, carácter ou aptidão, verdade que partilhamos com os criadores transmontanos, beirões e alentejanos, que teimam em criá-los e usufruem dos seus talentos, caçadores que felicitamos e que são dignos do nosso apreço, por continuarem a remar contra a maré e conservarem incólume o património genético e laboral dos nossos podengos. A melhor maneira de denunciar e vencer os erros do passado recente, é pressionar o CPC para criar uma prova de trabalho para os podengos portugueses, para que uns deixem de embandeirar em arco e os outros possam mostrar o que têm, que sendo deles, é pertença de todos nós. Se porventura subtraíssem ao podendo português outra variedade cromática, do mesmo modo e com a mesma intensidade nos insurgiríamos na sua defesa, porque só a multivariedade mantém saudável qualquer raça, evita a sua saturação e mantém intactas as suas características. E se o podengo é rústico, então que mostre as suas habilidades nas tórridas planícies, nas charnecas, valados e silvados onde sempre caçou.

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