Sempre será mais fácil proibir do que compreender, apressar julgamentos
do que apurar factos, particularmente quando nos convém, ainda que mais cedo ou
mais tarde venhamos a ser desmentidos. O que acabámos de dizer pode aplicar-se
ao Podengo Português Negro, variedade cromática que a maioria ignora existir e
que outros têm feito desaparecer, varrendo-a da selecção e rotulando-a de
indesejável, como ainda hoje se pode ler no estalão da raça, onde a variedade
é, ainda que admitida, subtilmente desprezada como cor “não preferencial”.
Perante tamanha descriminação, pergunta-se: quem se sentirá cómodo e ousará
criar cães desta variedade cromática? Provavelmente muito poucos, somente
aqueles que fundamentam a sua teimosia na qualidade irrefutável destes cães.
Há nisto
tudo uma “germanite” aguda, intrínseca e por isso menos apregoada, a despeito
da nossa herança mediterrânica, como se a eugenia negativa fosse excelente e
ainda estivéssemos a suportar os três dias de luto oficial pela morte de um
idiota, sentimento incontido e agora reforçado pela presença da Sr.ª Ângela
Merkel, tida como a segunda governante mais poderosa do mundo, que ao que
consta, não nutre especial simpatia por cães (o Sr. Putin que o diga!). A
presença da cor negra nos podengos remonta às suas origens e sempre esteve
presente nos seus ascendentes, raças colaterais e descendentes, cite-se como
exemplo, entre outros, os casos do Canaan Dog e do Podengo Crioulo, para já não
se falar doutros podengos peninsulares e do testemunho faraónico gravado e
pintado em pedra. E
se isto não bastar como comprovante, hoje temos a análise do ADN que dissipa
todas as dúvidas, o que seria óptimo para os nossos jovens investigadores e
muito revelaria sobre a origem destes cães.
Acerca deste tema, germânicos por germânicos, entre tantos e bons, mais
nos interessa Max von Stephanitz, que a determinado trecho disse: “ se o cão é
bom, a cor não pode ser má (ruim)”, princípio rejeitado pela ideologia
dominante de então, fortemente bitolada, de ideias curtas e que tantos amargos
de boca lhe causou. É por demais evidente que o asco à cor negra nos podengos é
mais político do que razoável, diante da prestação cinegética dos indivíduos
seus portadores, primeira razão que os conservou entre nós até aos dias de
hoje. Sobre a sua mestria não faltam testemunhos na Internet, isto para os mais
incrédulos, para aqueles que nunca os viram a caçar (nós já os vimos).
Assim, a razão que mais tem obstado à proliferação dos podengos negros é
a sua cor, não a sua morfologia, carácter ou aptidão, verdade que partilhamos
com os criadores transmontanos, beirões e alentejanos, que teimam em criá-los e
usufruem dos seus talentos, caçadores que felicitamos e que são dignos do nosso
apreço, por continuarem a remar contra a maré e conservarem incólume o
património genético e laboral dos nossos podengos. A melhor maneira de
denunciar e vencer os erros do passado recente, é pressionar o CPC para criar
uma prova de trabalho para os podengos portugueses, para que uns deixem de
embandeirar em arco e os outros possam mostrar o que têm, que sendo deles, é
pertença de todos nós. Se porventura subtraíssem ao podendo português outra
variedade cromática, do mesmo modo e com a mesma intensidade nos insurgiríamos
na sua defesa, porque só a multivariedade mantém saudável qualquer raça, evita
a sua saturação e mantém intactas as suas características. E se o podengo é
rústico, então que mostre as suas habilidades nas tórridas planícies, nas
charnecas, valados e silvados onde sempre caçou.
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