sexta-feira, 28 de novembro de 2014

QUEM DÁ E TIRA, AO INFERNO VAI PARAR

O adestramento anda cheio de actos impensados com consequências desastrosas, porque cada um se intitula treinador e não antevê as repercussões dessa recente e apressada promoção, tantas e tantas vezes responsável pelo infortúnio, desequilíbrio, incompreensão e subaproveitamento dos cães, geralmente vítimas e réus da ausência de saber e qualidade dos seus mestres. Por todo o lado se vêem cães a disputar brinquedos, para aprenderem a brincar uns com os outros e alcançarem a sociabilização (segundo nos dizem), não sendo de estranhar, que alguns donos tirem o brinquedo ao seu cão para o entregaram a outro, gesto simpático e de pouca importância para os donos mas de grande significado para os cães, atitude que sempre nos causa alguns calafrios e raro incómodo, diante dos múltiplos propósitos dos brinquedos.
E nesta toada de “vamos lá cambada, todos à molhada”, não se olha a sexo, tamanho e idade, o que não raramente acaba com um cachorro mordido e a ganir, ou pior do que isso, numa batalha campal com os cães à dentada e os donos aos berros, canto espontâneo, tornado vulgar e tantas vezes repetido, que deveria ser remetido para o nosso cancioneiro popular.
Há muito tempo, possivelmente desde que o lobo e o chacal se transformam em cães, que os brinquedos fazem parte do uniforme do cão, quer ele seja de passeio, cinegético, policial ou militar, tal como a trela e a coleira. Do grosso dos brinquedos não podemos excluir os sticks e os churros, assim como outros utensílios próprios para disciplinas cinotécnicas específicas, cuja qualidade e riqueza dependerão, também e em grande parte, da variedade e do número dos utensílios e brinquedos utilizados. Diante da importância dos brinquedos, para além das suas mais-valias pedagógicos e técnicas, há que considerar a sua contribuição para o crescimento salutar e bem-estar dos cães (físico, psicológico, cognitivo e social), pelo que urge avaliar os prós e os contras da sua apropriação, divisão e cedência a terceiros.
A apropriação dos brinquedos alheios, assim como a divisão e a cedência dos pertencentes do nosso cão, são acções desejáveis, profícuas e benéficas quando: se prestam a objectivos pedagógicos garantidos, contribuem para a unidade das matilhas (grupo), fortalecem a sociabilização sem atropelos, estimulam o despertar dos mais jovens e constituem os cães adultos como mestres, pela paciência, exemplo e estímulo, como normalmente procede qualquer matriarca ou cão adulto experiente e devidamente sociabilizado.
Jogar um brinquedo para um grupo de cães torna-se perigoso, abusivo, contraproducente e é até criminoso nos seguintes casos: quando no grupo houver cães não sociabilizados, já que facilmente se constituirão em agressores ou em vítimas; quando um ou mais indivíduos forem manifestamente medrosos, frágeis, submissos e incapazes de se defenderem, porque ao fugirem constituir-se-ão em presas; quando a um grupo homogéneo e já escalonado se juntar um cão estranho, de comportamento diverso, substancialmente mais fraco e por isso mesmo em desvantagem, o que poderá despoletar a atenção e agressividade da matilha; quando no grupo houver maior número de machos jovens, com a maturidade sexual já ultrapassada, porque tendem ao desafio e à dominância, não olhando a meios; quando houver uma cadela em cio e vários machos adultos, porque eles lutarão entre si para alcançar os seus favores; quando a diferença de tamanho, idade e envergadura dos cães for evidente, porque os menos apetrechados de físico acabarão inibidos e a rebolar pelo chão, podendo, inclusive, lesionar-se pelos encontrões sofridos; quando o brinquedo jogado pertencer a cão acostumado a lutar pela sua posse, porque não o cederá gratuitamente (sem dar luta); quando o lançamento do brinquedo exceder a área de tutela dos donos e entregar os cães a si próprios; quando se verificar a ausência de controlo dos cães por parte de alguns donos e sempre que a integridade de um só cão possa estar em causa (física, psíquica e laboral).
Os brinquedos, para além do seu uso estratégico, são troféus para os cães e prestam-se ao robustecimento do seu carácter, porque são recompensas que antecedem, predispõem e suavizam o trabalho, transformando mais facilmente as respostas artificiais em naturais, por força da memória afectiva canina e do empenho dos donos. Cães nascidos demasiado submissos ou inibidos, mediante a contribuição dos brinquedos, aprendem a perseguir, a capturar e a sacudir a presa, acções que doutra forma dificilmente alcançariam pelo impropriedade do seu perfil psicológico. Os cães recuperados a partir dos brinquedos ou capacitados a partir deles, não deverão vê-los entregues a outros cães ou ser convidados para os dividirem, porque os primeiros podem desinteressar-se de vez e os últimos lutar pela sua posse, uns pelo receio e os outros pelo instinto de presa. Se os brinquedos podem promover a ascensão social dum cão, a sua divisão poderá também operar a sua despromoção, contratempo e desgraça que ninguém deseja.
Há que haver um cuidado especial com os cães treinados para guarda, a quem os potenciadores de mordedura (churros, nós de corda, etc.) servem para o aumento da tenacidade da mordida e para a supremacia do instinto de presa, para o desenvolvimento do sentimento territorial e para a potenciação do impulso à luta, porque não verão com bons olhos a captura alheia do seu brinquedo, podendo vir a tratar os outros cães como cobaias, intrusos ou ladrões, o que poderá levar à troca de alvos, comprometer a sua sociabilização e causar ferimentos graves nos seus “oponentes”, daí dizer-mos: “quem dá e tira, ao inferno vai parar”, aludindo a um provérbio popular sobejamente conhecido, que se aplica aqui com propriedade.
 E por estamos fartos de ver disparates, que infelizmente continuarão a acontecer por culpa dos donos, não aconselhamos os nossos alunos a carregar os brinquedos dos seus cães para os espaços públicos, desaconselhamos a captura dos brinquedos alheios e não permitimos em classe a divisão desses importantes acessórios, para que uma simples brincadeira não se reverta num caso sério. Mas os cães não poderão brincar entre si? Não será desejável que o façam? É claro que podem brincar e é desejável que isso aconteça, porque tal prática, mais do que nenhuma, espelha os benefícios da genuína e autêntica sociabilização entre iguais! Contudo, porque os cães são competitivos, nem todos são castrados, nascem diferentes e são sujeitos a diversos tipos de ensino, não podemos remeter para o bom senso de cada um a salvaguarda dos nossos cães e a dos outros, o que realça a importância das regras que adiantámos nos parágrafos anteriores. E porque entendemos que a sociabilização é um processo sério, gradual e continuado, quando temos como objectivo convidar os nossos cães para um brinquedo comum, arranjamos um “neutro”, geralmente um galho ou outro acessório que não seja pertença de nenhum deles. O alerta está dado e os conselhos também, oxalá cheguem a tempo e surtam efeito.

O CÃO: THE GREAT PRETENDER

O cão é um fingidor por excelência e alguns são mestres nessa arte, o que a ninguém espanta, porque é um predador, vive em constante observação e é objecto dos nossos afectos. Os cães mais acarinhados bem depressa aprendem a ser manhosos, particularmente quando os seus donos são de filosofia antropomórfica, não os contrariam e correm a fazer-lhes todas as vontades. Temos reparado, sem causa de espanto, que os cães com maior capacidade de aprendizagem ou os portadores de um forte impulso ao conhecimento, são os que mais depressa aprendem a ludibriar os seus donos, gorando os seus intentos e conseguindo até mandar neles, como se ao especicismo sucedesse naturalmente o servilismo dos donos.
Diante dos nossos olhos, nesta matéria, temos visto de tudo um pouco, cães a fingirem-se doentes, coxeando ou indiciando otites, a fazerem-se de desentendidos, surdos ou a dormitar, a responderem aos donos para não os ouvirem, acometidos de falsas necessidades fisiológicas para não trabalharem, a deitarem-se de barriga para o ar para não serem incomodados, a atacarem sem ordem e quando menos se espera e daí por aí adiante (o rosário é infindável!). Coube-nos um dos cães mais manhosos que conhecemos, um pastor alemão que tinha que ser enganado antes que nos enganasse, que por força das circunstâncias, se tornou herói da televisão, um camarada único que contrabalançou as alegrias que nos deu com os anos de vida que nos tirou, porque adivinhando o trabalho, jamais o faria, o que tornava impossível qualquer ensaio, muito embora acertasse à primeira e suplantasse a maioria dos pastores que já treinámos.
Bem estaríamos todos, se as manhas caninas se reduzissem à falta de empenho ou ao desprezo pelo trabalho, porque elas vão para além disso e nalguns casos podem até ser letais. E se a despesa sair só aos donos, já virá mal que chegue ao mundo. Na nossa passagem pela reeducação canina, trabalho gratificante que tantas lições nos deu e que por isso mesmo, deveria fazer parte do currículo de qualquer adestrador, encontrámos cães que tudo fizeram para nos eliminar, usando dos mais variados truques para o conseguir. Uns viravam-se para a parede quando os chamávamos e quando os tentávamos pegar caíam-nos em cima, outros pediam-nos festas e tentavam agredir-nos depois. E quem pensar que trabalhos destes são típicos de cães grandes, engana-se redondamente, porque o pior ferimento que sofremos foi obra de um velho Teckel de pêlo cerdoso. Fartámo-nos de encontrar cães que pareciam nem partir um prato mas que, de um momento para o outro, eram capazes de estoirar toda a cristaleira.
Como todos sabemos, a manha canina não tem uma origem genética, é produto ambiental e resultado duma convivência desregrada, que os cães aproveitam para poderem dominar. Existe uma correspondência entre donos inactivos e cães manhosos, entre donos demasiado tolerantes e cães irascíveis. O melhor combate para a manha e para destronar os fingidores é dar-lhes trabalho, recompensá-los quando procedem certo e repreendê-los quando desobedecem. A idade e a obesidade contribuem para o aumento e perpetuação das várias manhas caninas, assim como a ausência de uma liderança efectiva e inquestionável. Apesar de todos os cães poderem ser fingidores, porque o fenómeno não depende só deles, existem raças mais propensas para isso, aquelas cujos criadores alertam os futuros proprietários para a necessidade de experiência e disciplina. A mestiçagem entre lupinos e molossos, os chamados “molossos alupinados”, gera grande número de cães manhosos, notoriamente fingidores e de grande maldade, porque junta à força bruta dos primeiros a instabilidade dos segundos. Quem se encanta com a manha de um cão, depressa se desencantará, porque quando menos esperar, estará a falar para o boneco, o que levanta a seguinte questão: será o adestramento só para os cães? 

DIE HUNDE VON STASI: A IMPRESSÃO DIGITAL OLFACTIVA

Antes de mais, importa dizer o que foi a “Stasi” (forma abreviada de Ministerium für Staatssicherheit), nada mais nada menos que a principal organização da polícia secreta da ex-República Democrática Alemã (para nós RDA e para o resto do mundo DDR). Esta organização erigiu-se sobre os escombros da Gestapo, foi aprimorada pela KGB e criada no dia 8 de Fevereiro de 1950. Ficou tristemente célebre pela crueldade e brutalidade dos seus métodos e foi dissolvida em 1989 com a Queda do Muro de Berlim, contando nas suas fileiras com 90.000 funcionários e 175.000 informadores. O seu último Director foi Erick Mielke (na foto abaixo ao centro), ainda que momentos antes da extinção da RDA, a organização tenha adoptado outra designação e outro director, passando a chamar-se “Oficina para a Segurança Nacional”, sendo chefiada por Rudi Mittig. Com a reunificação da Alemanha foi rendida nas funções e no terreno pelo “Bundesnachrichtendienst” (Serviço Federal de Informações), também conhecido por BND.
Na edição anterior, na rubrica “O SEGREDO DE CAT ISLAND: VARRER O JAPÃO À DENTADA”, falámos do plano proposto pelo Sr. William Prestre às autoridades militares norte-americanas (1942), onde tivemos ocasião de dizer e concluir, que os cães conseguem diferenciar raças e indivíduos pelo odor, verdade comprovada cientificamente e que a princípio deu crédito ao plano bizarro daquele cidadão suíço, do qual, pensando bem, temos algumas dúvidas quanto ao seu verdadeiro nome, nacionalidade, currículo e aptidões específicas. Graças a essa capacidade canina, a de diferenciar os indivíduos pelo odor, muita gente tem sido capturada, resgatada e salva pelos cães. Mas a “Stasi” foi mais longe, preocupada com os fugitivos e dissidentes de então, arranjou dos que conhecia um registo do seu odor, a chamada “impressão digital odorífera”, por vezes tratada também como “impressão digital olfactiva”, considerando os agentes usados na sua detecção – os cães. Esse registo, com amostras de 120.000 indivíduos, foi guardado e conservado até aos dias de hoje, mediante flanelas com o odor dos visados, dentro de frascos de vidro hermeticamente fechados, no departamento forense daquela polícia política.
Já com a Alemanha unificada, tentou-se usar o mesmo método na identificação de manifestantes contra a globalização, por ocasião da reunião dos G8, que aconteceu na Alemanha em 2007 (Rostock), assunto que gerou acesa polémica na sociedade e órgãos de soberania alemães. O odor de cada um de nós tem cerca de 400 componentes e todos temos odores diferentes, tal como acontece com as impressões digitais. A melhor recolha de odores individuais acontece no depósito da transpiração em metais. A conservação dessas “impressões digitais olfactivas” obedece a cuidados especiais para se evitar a desintegração das fragrâncias e a sua oxidação. O acerto canino na diferenciação dos odores humanos ronda os 90% e os cães apresentam alguma dificuldade em diferenciar gémeos idênticos e indivíduos descritos geneticamente como “quimeras”. O uso da “impressão digital olfactiva” tanto poderá ser lícito como abusivo, prestar-se para diferentes fins, que vão deste o salvamento de indivíduos até ao seu aniquilamento. Contudo, ela poderá ser um importante subsídio para a investigação criminal, ao prestar-se à identificação de criminosos.
Todos somos cada vez mais identificáveis e observados, o que nos transporta para o caso duma idosa senhora, com quem travámos amizade ao longo de anos, que cada vez que se deslocava a um telefónico público, antes de pegar no auscultador, ou calçava luvas ou desinfectava-o primeiro com álcool (razão tinha ela!). Entre nós sempre usámos a frase: “marcado pelo diabo”, para designar um indivíduo fugitivo, cujo odor havia sido entregue ao cão que o perseguia ou que vestia a roupa de outrem já identificada pelo animal. O uso de certos desodorizantes e perfumes, tanto podem reforçar a “impressão digital olfactiva” como alterá-la, e por causa disso, nem todos os perfumes se prestam a todos os tipos de pele, facto conhecido de homens e cães, que leva ambos a confundirem o seu odor, os homens mediante fragrâncias e os cães pelo esfregar do seu corpo nas fezes do animal que perseguem, alcançando ambos o disfarce odorífero que procuram.
Como o seguro morreu de velho e o perigo vem donde menos se espera, nunca ceda roupa sua ou use a de outros sem primeiro a lavar. Deverá ter igual cuidado quando usar ferramentas e utensílios alheios, entregando-os só depois de os desimpregnar, para que o seu DNA não venha a aparecer onde não deve. No meio de gente pouco recomendável ou desconhecida, evite tocar em algo onde possa deixar o seu odor, para que não venha a ficar “marcado pelo diabo” e vir a ter um cão à perna!
A excelência laboral dos cães de Leste, que tantos benefícios trouxe para o avanço da cinotecnia em geral, mérito do esforço militar russo, que sempre considerou o trabalho como o primeiro pressuposto para a selecção canina, por vezes mal usado por organizações governamentais, em prol da repressão e para a eliminação de opositores ao regime, como foi o caso da “Stasi”, que não é caso único tanto a Leste como a Oeste, por força da excelência procurada e em virtude do isolamento estratégico, acabou por aumentar a consanguinidade nos cães ao seu dispor. O uso abusivo destes exemplares, à luz dos Direitos Humanos, uma vez considerado e convenientemente transformado, reverteu-se em mais-valias e subsídios para a melhor compreensão e uso dos cães. O que mais importa guardar deste tema, é que todos temos um odor único, que nos distingue dos demais, facilmente identificado pelos cães, o que poderá aumentar o nosso socorro, como tantas vezes temos visto nas diferentes operações de salvamento e resgate. 

QUAL SERÁ O MOTIVO (V)?

Um Pastor Alemão Lobeiro, alojado no canil da Escola onde recebe aulas há 2 anos e adora estar, porque a sua dona teve que se deslocar ao estrangeiro, incontido de saudades dela, espreita ocasião e põe-se em fuga. Depois de cinco dias a monte, retorna triste e abatido ao canil escolar. A sua dona chega nesse mesmo dia e leva-o para casa. Na manhã seguinte, a senhora fica alarmada ao ver as fezes do animal, estranhamente cheias de fibras de corda. Equivocada, telefona para o Director da Escola para obter explicações. O que terá acontecido? Hipótese A: Tomado de fome, viu-se obrigado a comer corda. Hipótese B: Foi preso a uma corda, cortou-a e acidentalmente ingeriu alguns pedaços. Hipótese C: Durante a fuga andou a brincar com um pedaço de corda e engoliu parte dela. Hipótese D: Sentindo-se indisposto, valeu-se de um pedaço de corda para se purgar. Hipótese E: Ao chegar a casa, sem que a dona tenha visto, roeu o cordão da roupa suspenso na parede exterior da varanda. Para a semana adiantaremos a resposta certa.

SOLUÇÃO DA SEMANA ANTERIOR

A resposta certa à rubrica “QUAL SERÁ O MOTIVO (IV)” da semana passada é a Hipótese C: Um intruso tinha invadido a casa. O Pastor Alemão, atendendo à sua idade e histórico, com rotinas já assimiladas, a menos que fosse acometido de alguma indisposição grave, jamais pediria naquele horário, para ir à rua satisfazer as suas necessidades. Além disso tinha o quintal à sua disposição. Por outro lado, segundo o que o texto faz saber, o cão encontrava-se sociabilizado, pelo que não seria fácil interessar-se por qualquer gato. Também dificilmente ladraria por alguma falta de água momentânea e muito menos incomodaria a sua dona, de forma tão veemente, para a convidar para a brincadeira, uma vez que nunca procedeu assim e era conhecedor dos hábitos e preferências daquela senhora.

RECORD DE VISITAS DE 2014

Na passada Quarta-Feira, dia 25 de Novembro, atingimos o número mais alto de leitores diários: 162 visitas. Temos em média 2.800 visitantes mensais. Os países que até hoje nos deram mais leitores foram: Portugal, Brasil, Estados Unidos, Alemanha, Rússia, França, Reino Unido, Angola, Espanha e China. Dos 1240 artigos publicados até à data, a preferência dos nossos leitores ficou assim distribuída (de 1 a 10): 1º O CANIL, 2º PASTOR ALEMÃO X MALINOIS: VANTAGENS E DESVANTAGENS, 3º EU QUERIA UM PASTOR ALEMÃO, DE PREFERÊNCIA TODO PRETO, 4º A CASOTA DO CÃO, 5º O CÃO LOBEIRO: UM SILVESTRE ENTRE NÓS, 6º O CÃO DIVINO, 7º OS CÃES DOS SALOIOS, 8º O QUE FALTA AOS CÃES NACIONAIS, 9º ALERTA VÍBORA: PROCEDIMENTOS e 10º O MELHOR E O PIOR DO PASTOR SUIÇO: ANÁLISE MORFOLÓGICA E FUNCIONAL. É quase certo que alguns dos textos mais recentes irão ultrapassar os que acabámos de manifestar. Queremos agradecer aos nossos leitores a sua preferência e esperamos continuar a cativar o seu interesse.

QUEM É VIVO SEMPRE APARECE!

Finalmente recebemos notícias da Sofia Leite (agora Vizor), também a viver em Inglaterra e ainda muito saudosa da “Bia”, uma pastora alemã da nossa criação, falecida há 1 ano, que viveu com ela treze anos e meio. Hoje a Sofia tem dois Jack Russell como companheiros e também eles acusaram a falta da lupina, conforme nos fez saber no seu email. Inevitavelmente, outra coisa não seria de esperar, enviou-nos também algumas fotografias daquela cadela que tanto amou e que considera insubstituível. Delas escolhemos a foto que introduz esta notícia. Breve teremos uma ninhada de pastores alemães de excelente qualidade. Caso a Sofia esteja interessada, sempre haverá cão para ela, porque garantidamente irá saber tratar dele como poucos. À parte disto, desejamos-lhe as maiores felicidades e que mantenha o contacto connosco sempre que lhe seja possível. Obrigado pelas notícias!

VEIO MESMO A PROPÓSITO

Recebemos um email de uma pessoa bastante conhecida entre nós, tão conhecida que não vamos dizer de quem se trata, que referindo-se ao texto “JARDINS PROIBIDOS”, publicado na edição anterior, disse: “Também aproveitei as suas dicas e tenho dado umas folhinhas de alface ao Radar quando lhe dou a ração. Desde que nos mudámos para cá, ele tem estado com imenso apetite. Come a ração toda assim que eu lhe dou (não era costume, antigamente ele ia comendo aos poucos durante a noite). Como consequência, penso eu, tem andado a escolher umas ervas no jardim. Não são umas quaisquer, são sempre as mesmas. Ele cheira, cheira e come. Geralmente quando chegava a casa ao fim do dia, antes de eu lhe dar a ração. Parece que vomitava propositadamente e depois vinha a correr para eu lhe dar de comer. Para não criar maus hábitos, e de acordo com o seu texto, comecei a dar-lhe as tais folhinhas de alface. E ele deixou de fazer isso. Veio mesmo a propósito o texto”. Ainda bem que assim foi, pois só queremos o bem dos cães e a felicidade dos donos. O Radar está a comer mais porque o clima em Inglaterra é mais desgastante do que o português e obriga ao consumo de maior energia. O mesmo tem acontecido com os nossos cães que foram para a França e para a Alemanha, chegando alguns deles a duplicar a intensidade do manto nos meses mais frios.

RANKING SEMANAL DOS TEXTOS MAIS LIDOS

O Ranking semanal dos textos mais lidos ficou assim classificado:
1º _ PASTOR ALEMÃO X MALINOIS: VANTAGENS E DESVANTAGENS, editado em 15/06/2011.
2º _ O ESTRANHO ANÚNCIO DOS PASTORES ALEMÃES CASTANHOS, editado em 26/04/2013.
3º _ PARTIR À AVENTURA, editado em 21/11/2014.
4º _ O MELHOR E O PIOR DO PASTOR SUIÇO: ANÁLISE MORFOLÓGICA E FUNCIONAL, editado em 21/06/2011.
5º _ EU QUERIA UM PASTOR ALEMÃO, DE PREFERÊNCIA TODO PRETO, editado em 05/06/2010. 

TOP 10 SEMANAL DE LEITORES POR PAÍS

O TOP 10 de leitores por país ficou assim ordenado:
1º Portugal, 2º Brasil, 3º Reino Unido, 4º Estados Unidos, 5º Alemanha, 6º Polónia, 7º Espanha, 8º China, 9º México e 10º Ucrânia

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

PARTIR À AVENTURA!

Se as crianças são o melhor do mundo, os cães serão os seus companheiros de eleição, porque depressa se fazem cúmplices das suas brincadeiras, partindo com elas à aventura, mantendo-as debaixo de protecção e denotando uma paciência infinita. Que bom é rumar ao mundo dos sonhos com um cão ao lado, partir acompanhado sem ter medo do desconhecido, ser cavaleiro andante e nunca ficar apeado. 

O SEGREDO DE CAT ISLAND: VARRER O JAPÃO À DENTADA!

O facto histórico que vamos aqui narrar, uma americanice condenada ao fiasco e até há bem pouco tempo guardada em segredo, aconteceu na “Cat Island”, uma ilha em forma de “T”, na foz do Mississípi e defronte para o Golfo do México, nas chamadas ilhas barreiras. A particularidade do seu clima tropical, extraordinariamente quente e húmido, presidiu à sua escolha, por ser semelhante ao encontrado nas ilhas do Pacífico, então ocupadas pelo Exército Imperial Japonês. Estamos em plena II Guerra Mundial e os Estados Unidos ponderam várias formas para invadir o Japão, de modo a evitar um banho de sangue, já que os soldados japoneses lutariam até ao último homem pela defesa do seu território. Como é sabido, a opção adoptada foi a do lançamento de duas bombas atómicas, uma sobre Hiroshima e outra sobre Nagasaki, ocorridos respectivamente a 6 e 9 de Agosto de 1945.
No meio disto tudo aparece um refugiado suíço, a viver nos Estados Unidos, de nome William A. Prestre, de quem pouco ou nada se sabe, com uma proposta tentadora, que foi considerada e levada a cabo na ilha que atrás mencionámos, um plano para invadir as ilhas japonesas com cães, certo que os animais seriam capazes de diferenciar os soldados japoneses pela aparência e pela diferença de odor, arrancando-os dos seus bunkers, casamatas, trincheiras e abrigos. O adestramento desses cães começou em Novembro de 1942 e terminou a 02 de Fevereiro de 1943, altura em que o plano foi abandonado, após o fracasso das duas demonstrações consentidas ao visionário suíço pelos responsáveis do Exército Norte-americano. Nunca mais se soube nada dele, partiu sem deixar rasto.
Para o efeito foram aproveitados cães oriundos da requisição civil e recrutados em segredo 25 soldados nipo-americanos. Como os cães ali chegados não obedeceram a nenhuma pré-selecção, acabaram por ser ali testados, seleccionados e treinados, sendo os excluídos aproveitados para outros serviços e especialidades. Sem saberem ao que iam, coube aos soldados nipo-americanos, vestidos com fardas japonesas, o papel de cobaias ou mais objectivamente de iscas humanas. Estes homens passavam metade dos dias a lutar e a ser mordidos, a esconder-se e a ser perseguidos pelos cães. Depois disso, abandonavam o local dos simulacros e iam para uma embarcação que se encontrava ao largo daquela ilha, curar as lesões e pescar. O que sabemos hoje acerca deste plano bizarro e adestramento sui generis, deve-se, em primeiro lugar, ao testemunho de um dos soldados nipo-americanos que nele participou: Ray Nosaka, na foto abaixo, debaixo dum nevão e instalado no Camp McCoy, antes de ser recrutado para a Cat Island.
Apesar do mal sucedido helvético ter dito que conseguiria treinar 30.000 cães para formar uma equipa de assalto às ilhas japonesas, apenas 400 manifestaram parcialmente alguma propensão para isso e a maioria deles viria a ser transformada em cães transportadores de pombos-correios, cães-pisteiros e de patrulha, havendo outros que acabaram especializados na detecção de minas e outros usados como cães-bomba. Porque falhou o Plano do Sr. William Prestre? Não conseguiriam os cães diferenciar os japoneses pelo odor? Na teoria, o plano tinha tudo para dar certo mas na prática seria impossível, porque debaixo das explosões, do ribombar das armas pesadas, do fogo da metralha, do odor a pólvora e da movimentação evasiva dos soldados de ambos os lados, tanto na frente como na retaguarda, seria muito difícil identificar as presas certas. Por outro lado, avançando-se a hipótese dos cães funcionarem como guarda avançada ou tropa de assalto, trabalhando isoladamente com os soldados nipónicos acoitados em “ninhos de atiradores” ou em bunkers, ainda que os detectassem, faltar-lhes-ia estímulo para os atacarem e facilmente acabariam eliminados, por ausência de provocação, interferência da matilha animal e omissão da liderança.
É evidente que qualquer cão pode ser utilizado para dar caça a uma raça humana em particular e que isso acontece maioritariamente pelo odor (o nariz dos cães funciona como um verdadeiro extractor de odores), tarefa facilitada se esses indivíduos tiverem um comportamento padrão diante de determinadas circunstâncias, do conhecimento prévio dos cães, entendido por eles como provocação e objecto de treino aturado, desde que as presas a capturar se diferenciem e se encontrem em minoria, constituídas em alvo perecível e perfeitamente identificável. E isso aconteceu em quase todas as guerras. Estamos em crer, inclusive, que a “erudição de Prestre” teve como fundamento os experimentos ocorridos na I Grande Guerra (1914-1918).
Hoje Cat Island é uma reserva natural de eleição e um destino turístico para os biólogos e amantes da natureza. Das estruturas que serviram de base ao “plano de invasão canino do Japão” pouco ou nada sobrou, especialmente depois da passagem de sucessivos tornados. Fica para a história o sonho de um suíço mais louco do que excêntrico, de um adestrador civil a quem, em má hora, os militares americanos deram ouvidos, quando lhes fez crer que sucessivas vagas isoladas de galgos, cães-lobos e dogs alemães, seriam capazes de levar de vencida a infantaria entrincheirada do Exército Imperial Japonês. Tudo isto parece tirado da ficção mas aconteceu numa ilha do Mississípi, quando importava poupar vidas humanas. Os verdadeiros heróis da história foram os soldados nipo-americanos, primeiro oriundos dos campos de internamento que, para provarem o seu patriotismo, se sujeitaram aos caprichos dos homens e aos mimos daqueles cães.

O QUE É BOM PARA MIM, É BOM PARA TI!

“De médico e de louco todos temos um pouco”, ou pelo menos julgamos ter, muito embora sempre tenhamos falta de médicos e de loucos nem por isso! O relacionamento entre homens e cães nunca foi tão íntimo como hoje em dia, o que por um lado é bom, porque espelha um maior cuidado com o bem-estar destes animais, mas que por outro é mau, porque a antropomorfismo surgiu como consequência. Longe vai o tempo em que os cães se chamavam Tejo, Douro, Piloto e Benfica, agora têm nomes próprios de pessoas e superabundam por aí Afonsos, Martim’s e Isabéis, o que em termos de tratamento não é mau de todo, se ficássemos por isso mesmo, apesar de abusivo e deselegante, quando um homónimo de duas pernas se cruza com algum deles. Já tem acontecido e voltará a acontecer, um dono chamar pelo seu cão na rua e responder-lhe um transeunte. Por vezes há quem se ofenda e daí resulte uma azeda troca de palavras, já que ninguém gosta de ser tratado abaixo de cão. Se por Lei, eu não posso pôr o nome que me der na gana a um filho, legalmente, continuo a poder registar cães com nomes de gente, tanto nas autarquias quanto no Kennel Club Português (CPC). Diante de tamanho disparate, só nos resta legislar o bom senso!
A recente promoção canina, que nalguns casos tem posto os cães à mesa e a irem às lojas da moda, quando exagerada, tem acarretado graves problemas de saúde para os cães, que apanhados de surpresa e biologicamente despreparados, se vêem confrontados com manjares ou alimentos para eles impróprios e lesivos, sobrando ainda alguns que lhes poderão ser fatais. A baixa taxa de natalidade e a substituição dos filhos pelos cães, os novos modelos familiares e a crise económica, somados a outros factores, têm contribuído de sobremaneira para a relação de paridade entre homens e cães, elevando os últimos à condição de humanos e ao estatuto de filhos. E como o que é bom para mim, é bom para ti, mercê da relação idílica que desconsidera os organismos duns e doutros e as suas diferenças de funcionamento, muitos cães acabam intoxicados e doentes, alguns internados e a soro, entre a vida e a morte. O leite, o queijo e o chocolate, assim como as uvas e o abacate, também o alho e a cebola, são alimentos altamente prejudiciais para os cães, os primeiros quando consumidos em excesso, porque causam gases, diarreia e vómitos (o chocolate mata), os segundos porque atacam vários órgãos (as uvas podem levar à falência renal e algumas variedades de abacate são tóxicas para os cães), e os terceiros porque afectam os eritrócitos (glóbulos vermelhos) e os animais poderão vir a necessitar de transfusões sanguíneas.
Geralmente, ao “o que é bom para mim, é bom para ti” segue-se “o que me faz bem a mim, faz-te bem a ti”, ou seja, sem qualquer prescrição médico-veterinária, os cães acabam por tomar medicamentos receitados aos donos ou oriundos da sua automedicação, como se os fármacos que nos são inofensivos, não pudessem ser altamente tóxicos para os cães, mesmo em pequenas quantidades, como se tem vindo a verificar. Segundo um Hospital Veterinário que contactámos, as intoxicações medicamentosas mais comuns nos cães reportam-se ao ácido acetilsalicílico, ao diclofenac, ao paracetamol e ao ibuprofeno, sendo os dois últimos mais usados, quando os donos sentem os seus animais mais abatidos e prostrados, para além de deitarem mão a antibióticos para sarar feridas e infecções não tratáveis por eles. Mucosas ictéricas ou anémicas, náuseas, vómitos, hipersalivação, aumento da frequência cardíaca e dificuldade respiratória, geralmente associados a edema (nas faces, nas extremidades ou generalizado), são os sinais clínicos mais comuns de intoxicação por medicamentos. Antes de fazer algum disparate de que se venha a arrepender, deixe-se de armar aos médicos e leve o seu cão ao veterinário, porque nem tudo o que é bom para si é bom para ele! E quem melhor que eu seu veterinário poderá indicar-lhe qual a dieta certa para o seu cão? Já que não é médico, não engrosse o número dos loucos!

JARDINS PROIBIDOS

Este artigo é um alerta para os pais, para os proprietários caninos, para os arquitectos paisagistas e para toda a população. Como o assunto é melindroso, seremos obrigados a omitir alguns pormenores, para não subsidiar criminosos, não dar ideias a algum “Black MacGyver”, não dar azo à eutanásia, não auxiliar suicidas e não sermos responsáveis pelo desaparecimento de alguém. Quanta gente já terá morrido por envenenamento sem ninguém dar por isso, uma vez considerada a sua idade e histórico clínico? Não é só a “legionella pneumophila” que mata, como recentemente tem ocorrido, algumas plantas também podem fazê-lo. Ninguém morre por causa da idade, mas sim pelo desgaste que ela provoca e pelas insuficiências que normalmente traz. De qualquer modo, os pobres morrerão primeiro, porque a sociedade, ao transformá-los em indigentes, tornou-os incapazes de se valerem a si mesmos, vindo alguns a ser aproveitados como cobaias pela indústria farmacêutica, miseráveis que continuam a trocar a totalidade dos seus dias por necessidades imediatas ou pelo bem-estar dos seus filhos. Como é bom nascer do lado certo do Mundo!
Hoje vamos falar sobre plantas capazes de matar homens e animais, ornamentos venenosos à nossa volta, que temos em casa, no jardim e nos parques públicos, plantas cuja beleza e singeleza escondem a sua toxicidade, umas de odor apelativo e outras não, que uma vez ingeridas, poderão ser fatais para os cães, como é o caso da “Cicuta”, retratada no final deste parágrafo (na variedade “conium maculatum”), cujo veneno, segundo reza a história, foi o responsável pela morte de Sócrates, ao beber dele uma tisana. Foi também muito utilizado na ponta das setas. Planta muito comum em Portugal, nativa da Bacia Mediterrânica, Europa e Médio Oriente, facilmente encontrada nas margens dos cursos de água e nos solos geralmente húmidos, onde floresce de Abril a Agosto. Entre nós é conhecida como “abioto”, “ansarina-malhada”, ansarinha-malhada”, “cegude”, “cicuta-de-atenas”, “cicuta terrestre” e “legude”. A procura de ervas e plantas é própria dos cães com alguma disfunção digestiva, sujeitos a dietas pobres, carenciados de suplementos minerais e também dos atribulados por distúrbios comportamentais resultantes de diferentes estados de ansiedade.
A “dieffenbachia seguine”, à imitação das outras variedades de “dieffenbachias”, também conhecida por “aningapara” ou por “comigo-ninguém-pode”, identificada na foto abaixo, tão comum no interior dos lares portugueses e usada como veneno pelos índios brasileiros na caça, pode matar um cão em 24 horas. Por prevenção, proíba o seu cão de comer ervas e em sua substituição misture-lhe na ração vegetais que lhe são benéficos (em pequena quantidade), todos podem ser cozidos e alguns podem ser distribuídos crus. São eles: a abóbora, a alface, a beterraba, os brócolos, a cenoura, a couve de repolho e a ervilha. Diante da ingestão de uma planta tóxica não provoque o vómito ao animal, lave-lhe abundantemente a boca e leve-o de imediato ao veterinário, indicando ao clínico o nome da planta ingerida, para que o cão seja conveniente tratado e sujeito a uma lavagem gástrica. Nestas circunstâncias, provocar o vómito a um cão com azeite, leite, ou sal, dependendo da planta ingerida, só irá agravar os sintomas. Devemos lavar a boca ao animal porque algumas plantas são irritantes e cáusticas, quando em contacto com a mucosa oral e com o esófago. A ingestão de uma planta tóxica tem como sintomas a hipersalivação, vómitos, náuseas, diarreia e inapetência alimentar e a sua suspeita é por norma confirmada pela presença de restos de plantas nos vómitos e nas fezes.
Antes de nos debruçarmos sobre as plantas de interior mais tóxicas e não conseguiremos enumerá-las todas aqui, capazes de causarem sérios danos a crianças e cães, que têm por hábito mastigá-las, geralmente em casa dos avós, que ignoram a sua toxidade, porque ninguém os informou, aliás nesta matéria a falta de informação brada aos céus, vamos falar-vos do oleandro (nerium oleander), por muitos considerada a planta mais venenosa do mundo, porque causa um efeito devastador no coração de quem a ingerir, para além das habituais dores abdominais, pulsação acelerada, diarreias, irritação da mucosa oral, náuseas e vómitos. Apesar de uma só folha deste arbusto poder matar uma pessoa ou um animal, os oleandros, outrora muito frequentes nas faixas separadoras das auto-estradas, superabundam agora nos nossos jardins públicos, como se deles não resultasse qualquer perigo para a saúde, o que não deixa de ser um problema de latitude. E dizemos isto, porque em Inglaterra, junto ao Castelo da Cidade de Alnwick, em Northumberland (ver foto introdutória deste artigo), existe um complexo de jardins que no seu todo formam o “The Poison Garden”, onde os seus visitantes são informados e alertados para os perigos das plantas mais tóxicas e venenosas do mundo, ideia inspirada no Jardim Botânico de Pádua de 1500, que teve como mecenas a Família Medici, construído para cultivar plantas medicinais e venenosas. Já alguém viu por aqui alguma placa a avisar da toxicidade do oleandro?
Para se ter uma ideia mais exacta da toxicidade do oleandro, basta dizer que, se comermos caracóis que o transformaram em dieta, acabaremos intoxicados. O mel produzido a partir das suas flores é igualmente tóxico (atenção Srs. Apicultores). Uma nossa aluna de tempos idos, desinformada, seguindo a tradição de levar para a escola uma árvore representativa do seu cão, sem o saber e pondo em causa a saúde dos cachorros que então treinávamos, acabou por nos levar um oleandro, porque o entendia resistente e isento de maiores cuidados. É evidente que a árvore não “resistiu”, porque aquele não era o melhor lugar para ela! Se a ingestão duma simples folha deste arbusto pode matar um adulto, pergunta-se: porque razão existem tantos oleandros nos jardins das creches e das escolas? Como as comuns listas de plantas recomendadas para o interior, mais consideram a sua beleza e sobrevivência dentro de casa do que perigo que possam causar a crianças e animais domésticos, aconselhamos os nossos leitores a informarem-se previamente do grau de toxicidade das plantas da sua eleição. Fazendo isso, libertam-nos de enumerarmos todas as que são altamente tóxicas, cujo número é bem maior que o esperado. Tomando como exemplo as mais comuns entre nós, para além das “dieffenbachias” que já manifestámos, queremos ainda chamar à atenção para as seguintes: Anthurium, Spathiphyllum (na foto abaixo), Sanseviera Trifasciata, Euphorbia Pulcherrina e Rhododrendo Spp.
Queremos aqui destacar a “Ricinus communis”, tratada em Portugal por “Rícino” ou “Figueira-do-Inferno” (na foto abaixo), uma planta da nossa flora que cresce espontaneamente nos campos, também muito comum em toda a Bacia do Mediterrâneo, na África e na Índia, já conhecida dos egípcios há mais de 4.000, que a empregavam como laxante e unguento para o cabelo. O seu óleo é hoje utilizado como matéria-prima para o biodiesel e maioritariamente destinado à indústria química para produtos de maior valor acrescentado. A sua semente é tóxica e quando purificada é mortal em pequenas doses. Segundo o “Guiness” (Livro de Recordes), esta é a planta mais assassina do nosso Planeta e segundo se consta, mata mais depressa homens do que cães. Diz-se que a antiga KGB usou o seu veneno para silenciar os opositores ao regime soviético. Muitas das plantas tóxicas são hoje utilizadas para a fabricação de medicamentos e produtos cosméticos, para além de empregues nos mais variados usos industriais.
O que importa guardar desta viagem relâmpago ao mundo das plantas tóxicas, é que o seu veneno pode matar homens e animais, que há que proteger as crianças e os cães em particular (os gatos também), não lhes deixando à mão ervas, flores, arbustos ou árvores que possam fazer perigar a sua saúde e até eliminá-los. Por outro lado, exortamos os nossos leitores a uma maior pesquisa, porque ainda há muito para ver, ler e saber. Adiantámos os procedimentos para valer aos cães no caso de ingestão de plantas tóxicas e esperamos que o nosso alerta surta efeito, para que as famílias continuem a crescer saudáveis na companhia dos cães. Apelamos aos arquitectos paisagistas para que trabalham em conjunto com os diversos botânicos, no intuito de melhor garantirem a saúde pública, parceria que teima e tarda em constituir-se, o que não deixa de ser um absurdo. O derradeiro apelo vai para a população em geral: antes de comprar uma planta, certifique-se do seu grau de toxicidade, mesmo que julgue conhecê-la e por mais inofensiva que ela lhe pareça, pois seis das plantas mais venenosas do mundo, encontram-se na nossa flora e nascem espontaneamente nos campos. Muitas das restantes já habitam, indevidamente, nas nossas casas e jardins, como se a estética fosse tudo e o perigo não espreitasse.

QUAL SERÁ O MOTIVO (IV)?

O “Quincy” é um pastor alemão com dois anos de idade, instalado em casa, bem sociabilizado, razoavelmente bem apetrechado na disciplina de guarda, cúmplice dos seus donos e protector do seu lar. Numa manhã igual a tantas outras, com o dono no trabalho e com a dona a jogar computador no 1º andar, como era seu hábito por horas infindas, o cão começou a ladrar incessantemente no piso de baixo, ao ponto de incomodar a concentração da jogadora. Apesar dos veementes reparos verbais da dona, que atribuía a causa daquele chinfrim a algum gato no quintal, o pastor alemão não se calava. Insatisfeito com a falta de comparência da dona, subiu as escadas e foi ter com ela, tudo fazendo para lhe captar a atenção. Porque reagiu assim? Hipótese A: Necessitava de ir à rua para fazer as suas necessidades. Hipótese B: Estava realmente um gato no quintal. Hipótese C: Um intruso tinha invadido a casa. Hipótese D: Estava com sede e não tinha água no bebedouro. Hipótese E: Queria que a dona fosse brincar com ele. Para a semana adiantaremos a resposta certa!

SOLUÇÃO DA SEMANA ANTERIOR

A resposta certa à rubrica “QUAL SERÁ O MOTIVO” da semana passada é a Hipótese D: Entendeu que a namorada tinha feito mal à dona e que ia escapar impune. O cão não poderia ter-se assustado porque estava a assistir a tudo, não poderia acordar sobressaltado porque estava acordado, dificilmente quereria ir para a cama porque estava acostumado a dormir à porta do quarto e caso tivesse ciúme da namorada, já o teria manifestado antes, impedindo-a de se aproximar da dona e de entrar naquele quarto. 

PEQUENITITES: UMA CADELA EXCEPCIONAL

Quando pensamos já ter visto e ouvido tudo acerca de cães, há sempre um que nos surpreende, indivíduos excepcionais que conhecemos ou cujas histórias nos são contadas. Este é o caso da “Pequenitites”, uma cadela sem pedigree, que foi propriedade de um homem simples, natural duma aldeola perto de Castro Marim e que conhecemos num hospital, onde por necessidade e contra vontade, aguardava por um doloroso tratamento, sem estar certo do seu êxito. O nome “ Pequenitites”, por vezes “pecanitites”, pode provocar alguma estranheza a quem nasceu num berço urbano e distante do linguajar do interior, onde a influência semita se faz sentir e que na intimidade se expressa em vogais mudas, adoçando palavras para reforçar sentimentos, carga emocional que cada um guarda para si, para não se expor ao ridículo, como se a inquisição ainda pairasse por cá. “Pequenitites” significa “pequenino” ou “o meu pequenino” e é um termo usado pelos pais e avós, quase um sussurro, quando tratam os seus filhos e netos. Como a relação dos homens com os cães é nalguns casos quase filial, compreende-se o porquê do nome da cadela e o amor que o seu dono lhe tinha.
Como a narrativa deste algarvio, agora desassombrado pelo infortúnio, foi expressa no seu típico linguajar, o que obrigaria a constantes explicações, vamos transmiti-la em português corrente, sempre que tal seja possível e sem fugir a autenticidade do seu relato. A “Pequenitites” era filha de cães-pastores, dum cão estarola, atrevido e muito meigo e duma cadela belicosa e arredia, selectiva nos manjares, pouco disponível e ciosa do seu espaço (filha dum “rebenta-albardas” e duma cadela “mete nojo”, conforme nos foi transmitido). Nasceu numa ninhada de oito cachorros e era a mais franzina, facto que presidiu à sua adopção. Maioritariamente branca e pintalgada de castanho por todo o lado, com um ladrar rouquenho, o que confundia as outras cadelas e espevitava os machos, tinha um focinho apelativo, que contrastava com a restante morfologia, porque era esgalgada, fraca de osso, mal aviada de peito, de anca estreita e com jarrete de vaca, menos valias que associadas à fraqueza e ao desaprumo dos seus membros, faziam dela uma “bicha mal-encavada” (malfeita). Com a idade e depois de capada, a coisa compôs-se, mercê do aumento de peso. Apesar de fisicamente ser um traste, o seu dono adorava-a, já que quem ama o feio, bonito lhe parece!
Se do ponto de vista físico era o que era, de carácter ainda era pior, por ser praticamente impossível contrariar as suas tendências, ainda que “à cachaporra” pudesse entrar nos eixos, opção que o dono nunca considerou, por gostar dela e ter medo de a aleijar, “mas lá que as merecia, merecia!”, segundo o que nos fez saber. Sendo uma amálgama dos pais, porque “atirava a um e saía a outro”, oscilava entre o bruto e o meigo, afastava-se dos outros cães e só se aproximava deles quando em vantagem, dificilmente se amatilhava mas adorava capitaneá-los, ferrar-lhes umas dentadas sempre que podia, particularmente às cadelas: “a bicha julgava-se superior”. Apesar de ser filha de cães-pastores, a “Pequenitites” tinha asco à aspereza do campo, que parecia incomodá-la, preferindo os jardins onde adorava deambular. Mas o pior que ela tinha, segundo o parecer do dono, era o facto de ser uma “oferecida”, de andar constantemente em cio e a virar o rabo para qualquer cão. E aí nem olhava para a paisagem, nem que fosse numa esterqueira, o que obrigava o homem “a mil olhos”! Nos primeiros tempos, parra se consolar, ele dizia para si mesmo: “o que é que se há-de fazer, é a natureza dela, também há pessoas assim!”. Felizmente nunca ficou prenhe, pois caso ficasse, seria o cabo dos trabalhos, poderia ficar “esticada” (morta) devido à sua anatomia, coisa que o homem nem queria imaginar.
Farto de “andar ao pai, ao pai” (a inquirir da cadela), para seu descanso e salvaguarda dela, depois de muito matutar, acabou por mandar castrá-la. O facto do veterinário lhe ter dito que até era bom para a saúde do animal, libertou-o de algum possível remorso, já que não desejava fazer-lhe qualquer mal. Esse problema ficou resolvido mas outro ficou sem solução. O raio da cadela era gulosa e impaciente, dada a petisquinhos e avessa à ração. Não tendo outro remédio, o homem viu-se obrigado a cozinhar para ela. Mas quando se atrasava no repasto, a “Pequenitites” não hesitava, saía porta fora e ia pedir comida aos vizinhos, como se estivesse esfomeada, o que embaraçava o dono e colocava-o em maus lençóis perante os outros, como se não quisesse saber dela e não lhe desse de comer. E como um mal nunca vem só, quando era repreendida, fazia-se de vítima e corria para os braços de qualquer um, aninhando-se neles, o que ainda era pior, como se a sorte não lhe sorrisse e estivesse entregue a um bruto, o que envergonhava de sobremaneira o seu proprietário. Com o tempo, a frequência das escapadelas aumentou e cada vez menos pernoitava em casa, só lá voltando à falta de melhor, como se nada se tivesse passado e ali chegasse para ser servida.
A doença do homem obrigou-o a ausentar-se ciclicamente de casa para receber tratamento, porque andar para baixo e para cima, do Algarve para Lisboa e vice-versa, estava para além das suas posses. Preocupado com a sua “Pequenitites”, deixava-lhe comida feita no congelador para sete dias, arroz com carne de vaca moída e cenoura, que a sua mulher aquecia, quando a cadela aparecia. De Lisboa sempre lhe levava um brinquedo novo e nunca saía sem lhe ajeitar a cama e compor-lhe a manta, uma polar que lhe comprou por ser friorenta. Com a frequência dos tratamentos, a cadela debandou, escolheu outro dono e por lá ficou, apesar de passar dez anos aos cuidados daquele enfermo que tanto a amou. “Sabe que mais, no estado em que estou, ainda sinto mais saudades daquela magana!” – disse-nos. Interpelando-o, uma mulher de meia-idade, de ar espevitado, gorda e de óculos graduados, que ali estava à espera de um familiar em tratamento, disse-lhe de rajada: “ Desculpe meter-me onde não sou chamada, mas se calhar, se fosse um filho seu, não estava nesse pranto. Deixe-se disso, cães são cães, há bons e maus, mas não passam disso! O que importa é que o Sr. fique curado!” – suspirando depois. O algarvio levantou os olhos e de modo contido respondeu-lhe: “ Você não sabe da missa a metade e cada um sabe de si!”. A conversa terminou ali e o relato também, porque o chamaram para a quimioterapia. Cada um que tire as suas elações, não há moral da história, somente relatámos um episódio da vida real, ainda que em parte por interposta pessoa. Queira Deus que o homem saia curado!

SETE ANOS? PARECE QUE FOI ONTÉM!

Quem a conheceu, sabe que era amiga, divertida e travessa, empreendedora e cheia de vida, pragmática e pouco dada a pieguices, temperada pelos contratempos e solidária como poucos. No próximo Domingo, dia 23 de Novembro, completam-se sete anos sobre a sua partida, o que causa alguma estranheza, porque ainda a sentimos por perto. A data não nos causa tristeza, nem nos faz soltar lágrimas, porque sempre que nos lembramos da Beatriz, sentimos uma alegria enorme e vemo-la a sorrir connosco nas muitas peripécias que passámos. Também já não temos o “WAR”, mas a sua descendência já vai na 6ª geração e muito do seu potencial continua a perpetuar-se por toda a parte, independentemente da variedade cromática dos seus descendentes. A cachorra que mais se parece com ele é a “Dharma”, propriedade do Sr. Luís Matos, uma pastora alemã vermelha, que ninguém diria ser filha de uma mãe negra e ter um tetravô também totalmente negro.
E porque acreditamos que a Beatriz foi para um lugar incomparavelmente melhor, onde esperamos reencontrá-la pela Fé em Cristo, não nos sentimos abatidos, porque a morte é somente uma passagem para a vida. Por tudo isto, relembrar o desaparecimento desta nossa amiga, é acima de tudo uma celebração feliz, pese embora, momentaneamente, a sua ausência e o aperto da separação. Voltaremos a estar juntos e melhor do que antes! Queremos daqui animar os seus filhos, para que sigam para diante, tomem a mãe como exemplo e preservem o seu bom-nome.