A paixão só vê o que quer ver e o amor o que
precisa de ser melhorado, a primeira é uma êxtase que acontece de olhos
fechados e o segundo um trabalho continuado com eles bem abertos, para que a
paixão não se extinga e se mantenha sempre ao seu lado. Todos já vimos o fim
“imprevisto”de diversas paixões, gente de costas viradas, amor transformado em
ódio, gozo em aversão, interesse em indiferença e até beijos em estalos. Como a finidade
da paixão sempre dependerá da qualidade do amor, importa que ele a mantenha,
que seja consequente, que produza e seja activo, para que à fase dos encantos
não suceda a dos desencantos, epílogo bastante comum entre gente de ânimo leve.
Como a paixão desconsidera o erro e tem breve duração, só o amor poderá operar
a correcção e fazê-la perdurar, para não virmos a ser vítimas de nós próprios
ou dos excessos dos que amamos. Assim vivemos com quem nos quer bem, assim educamos
os filhos, assim deveremos educar os nossos cães também, regrando-os para que
sejam felizes e possam viver ao nosso lado, por longos anos e sem incomodar quem
nos rodeia, como resultado do amor que lhes temos.
Para que os cães não coloquem a sua vida em risco,
causem um sem número de acidentes e façam vítimas, importa adestrá-los e
educá-los convenientemente, dedicando-lhes a atenção e o cuidado necessários
para a alteração do seu comportamento, tarefas que exigirão tempo, constância e
paciência, predicados próprios do amor que a paixão tende a atabalhoar. Os
apaixonados por cães adoram dar-lhes beijinhos, fazer-lhes as vontades, delirar
com as suas travessuras e reconhecer-lhes um sem número de virtudes
subjectivas. Enquanto isso, os animais vão-se tornando irascíveis e de difícil
sociabilização, comportando-se como reizinhos entre lacaios, sobrepondo a sua
vontade ao controlo dos donos. Ainda que a paixão possa ser a responsável pela
aquisição de um cão, só o amor será capaz de promover a sua educação. Quem não
educa sempre andará com um “ai” no peito e quem educa atinge a cumplicidade,
descobre um companheiro, faz-se entender e melhor entende o que ele quer. Do
que vimos e experimentámos, disso damos notícia!
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