Tal qual o Tabuleiro de
Simulação, que prepara os condutores para a técnica de condução, os brinquedos
preparam os cães, para as futuras acções reais. Infelizmente, estes acessórios
de trabalho são vendidos a granel e sem qualquer tipo de explicação ou
recomendação, desacompanhados de literatura e isentos de fiscalização, o que
nos parece abusivo diante do bem-estar animal. O brinquedo é para o cão um
objecto de pertença, algo que considera seu e que fará parte integrante do seu
crescimento. Assim, havendo a certeza de sucesso no imprinting, o cachorro deve
fazer-se acompanhar para o novo lar de algum objecto que lhe é familiar, (um
pedaço de manta; um brinquedo; etc.), para que a sua adaptação não resulte
estranha e implique num corte com o passado, comportamento visível nos
cachorros que se comportam como bichos nos novos lares de adopção, como se
oriundos doutra galáxia.
Na instalação doméstica, os primeiros pertences do
cão devem ser aqueles objectos que teima em abocanhar e com os quais insiste em
identificar-se (sapatos; pantufas; pedaços de roupa, etc.), coisas incapazes de
lhe causar dano ou atentar contra a sua saúde. Sobre eles despertará o seu
sentimento territorial e evidenciará os seus impulsos à luta, à defesa e ao
poder. Chama-se a estes objectos de estímulo: “proto-cobaias”, porque antecedem
e preparam a futura captura das cobaias escolares (figurantes). É evidente que
a loja tem tudo, brinquedos bem bonitinhos e do agrado dos donos, fazendo-lhes
encher o olho, contudo, para que surtam efeito, carecem de aceitação e podem
ser ou não do agrado e interesse do cão. Como o cachorro não vai à loja, deve
ser ele a escolher os primeiros brinquedos, aqueles objectos pessoais e
domésticos, que são da sua predilecção, que facilitam a identificação dos donos
e que promovem o bem-estar social do animal.
À medida
que o tempo passa e a instalação “at home” acontece, novos brinquedos devem
ser-lhe apresentados, cada um com funções diferentes e de acordo com os
impulsos que se pretendem desenvolver, por serem deficitários ou necessitarem
de potenciação. Estamos agora na fase da “experiência directa”, aquele período
na vida do cão que antecede o treino propriamente dito e que importa ser
variado e rico, graças à variedade dos brinquedos pedagógicos que possibilitam
diferentes desafios. Só se alcança o propósito dos brinquedos mediante a
recompensa, que é o reconhecimento pelo trabalho efectuado pelo cão, que se
esforça para se para se sentir aprovado. Como a muda dos dentes acontece,
normalmente, entre os 4 e 5 meses, convém que nesse período, o cão roa os
brinquedos, cordas ou bonecos, mas é indesejável abaná-los na sua boca ou
suspendê-lo pelos objectos. E isto porquê? Para se evitarem prognatismos e
mordeduras anómalas, já que os seus maxilares se encontram em formação.
Antes dos seis meses de idade, nenhum brinquedo que
evolui em diferentes direcções deverá ser apresentado a um cachorro, para não
se atentar contra a formação dos seus ombros e incorrer na sua luxação. Nos
cães de raça grande e de crescimento prolongado, este período de segurança deverá
ser alargado até ao perfeito equilíbrio entre o comprimento e a altura do
cachorro. Por norma, só aconselhamos brinquedos desse tipo às fêmeas depois do
primeiro cio e aos machos quando já levantam a pata para urinar. As anomalias “dorso selado” e “divergência de mãos”, quando não são hereditárias, resultam inúmeras
vezes da escolha errónea de um brinquedo ou do seu abuso.
Com os brinquedos é possível ensinar todo o currículo
de obediência de modo descontraído e alegre, mercê do despertar da memória
afectiva canina, difícil é actuar sem eles e operar o cumprimento pronto e
imediato de uma ordem, o que a ninguém espanta, já é quase impossível ensinar,
seja o que for, sem qualquer tipo de supercompensação. Nisto deverá haver
equilíbrio e um norteamento prévio acerca das funções do cão (caça; companhia;
guarda, etc.). Assim, a distribuição e o convite para os brinquedos deverá depender
do trabalho a destinar-lhe, porque tanto pode subsidiar a sua sociabilização como
condenar a sua vigilância, quando usados como jogo e manobra de distracção. Também
aqui, “o segredo é a alma do negócio”, os brinquedos usados não devem ser do
conhecimento geral, porque eles reforçam a liderança e ela não deve rolar pelas
pedras da calçada. Quem os pode dividir com o cão? Somente o agregado familiar,
em prol da pedagogia e da salvaguarda do animal.
Como já foi dito no capítulo “ A IMPORTÂNCIA DE SER ELEMENTO NEUTRO”, os brinquedos podem ser
usados como auxiliares na convalescença e recuperação de um cão, mas sua função
terapêutica ainda abrange outros benefícios e opera satisfatoriamente noutras
áreas. Imagine-se um cão debaixo do “efeito campainha”, que evolui com a cabeça
nivelada pelo dorso, será que um brinquedo na mão do condutor não ajudará à sua
eliminação? Usando o mesmo método, não será possível eliminar ou atenuar o
“efeito vassoura”, quando os cães evoluem com a cabeça abaixo da linha do dorso?
É evidente que sim! Não somos contra o uso escolar dos brinquedos até ao seu 3º
ciclo (10 meses), usamo-los inclusive como medida de recurso junto dos
“binómios doentes”, como estímulo prós diferentes impulsos herdados caninos,
como introdutores à guarda de objectos, como indutores à pistagem e temo-los
presentes nos momentos de super compensação. Se não o fizéssemos seríamos
tontos e não alcançaríamos as vantagens que nos oferecem. Normalmente aconselhamos
o seu uso doméstico e evitamos, quando possível, o seu uso escolar, por causa
da distracção e confusão que operam, substituindo-os pelo cão que vai na frente
e pela simpatia existente entre cães e cachorros. Depois do 3º ciclo escolar,
altura em que os alvos requeridos são reais, apenas os usamos nos momentos de
supercompensação, como reconhecimento do trabalho prestado e como inibidores de
stress. O brinquedo sendo um meio, não pode e não deve ser um fim, a menos que
seja uma réplica fiel daquilo que o cão irá ter pela frente.
Todo e qualquer brinquedo tem de ter em conta o cão
a que se destina e estar de acordo com o seu estado etário, morfologia e grau
de desenvolvimento, substituindo e complementando o que anteriormente lhe houvera
sido distribuído. Também os brinquedos reclamam o uso progressivo, a passagem
do fácil para o difícil, do simples para o complexo. E brinquedos não são só
bolas; nós de corda; churros e toda a parafernália existente no mercado, são
também jogos associados à forma e ao lugar, aprendidos pelos sentidos maiores,
que se encontram presentes nos cães, (olfacto e ouvido). Os brinquedos
existentes no mercado resultam de protótipos usados por diferentes escolas ou
adestradores, sendo exemplares menos rudimentares e mais apresentáveis do que
os originais. Vendedores e clientes desconhecem a sua utilidade, os primeiros
mandam-nos vir porque se vendem e os últimos porque o cão do lado tem um igual!
No meio de tudo isto e borrifando-se para a saúde animal, há por aí gente com
responsabilidades pedagógicas que indevidamente engorda neste negócio. Para que
não continuem a aumentar os disparates causados pelos brinquedos da moda, no
intuito de cessar as lesões que podem causar e evitar o seu uso indevido,
qualquer brinquedo, por mais inofensivo que nos pareça, deve merecer a
aprovação do adestrador escolar. Convém lembrar que as diferentes disciplinas
cinotécnicas exigem diferentes brinquedos, ainda que os primeiros sejam comuns
a todas elas.
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