Apesar de meio mundo jurar o contrário, os cães
pequenos precisam de tanto ou mais ensino que os outros, apesar de raros nos
centros de treino, porque se irritam com facilidade, provocam os cães maiores,
atacam quando menos se espera, desconfiam dos veterinários e poderão carregar nas
visitas de lá de casa, movidos pela insegurança ou coagidos pelo ciúme.
Naturalmente cães de aviso, tratados na nossa latitude como “cães de vigia”, há
muito que vêm sendo utilizados em matilhas com diferentes propósitos, mormente
nas guardiãs e nas cinegéticas, onde se prestam como cães de aviso e sinal. A
sua fragilidade leva-os à potenciação dos sentidos e bem depressa detectam
qualquer intruso ou animal. Cães domiciliários por eleição, tendem ao reforço
da territorialidade pela exiguidade dos espaços, assumem a exclusividade do
grupo familiar e detestam intromissões, particularmente doutros cães.
Defensivos em casa e ofensivos na rua, quiçá pela sua fragilidade e excesso de
cuidados, tendem a considerar-se iguais aos humanos que os cercam e a resistir
à sua liderança, especialmente quando contrariados ou confrontados com a
novidade.
Maioritariamente mal sociabilizados, acostumados a
ser reis e senhores, embirram com tudo e todos quando saem à rua, pela
alteração do seu sentimento gregário e de acordo com a sua experiência de vida,
ligada à sua instalação doméstica e direitos adquiridos no lar, geralmente
alcançados por beneplácito e não pela observação das regras. Ladram normalmente
para os cães grandes e rosnam-lhes à passagem, podendo atacá-los caso se
acerquem dos seus donos, de modo imprevisto e dissimulado, e se por acaso saem
ilesos da contenda, o mesmo nem sempre acontece aos seus donos, que pegando-os
ao colo para os proteger, acabam por receber os golpes dos seus oponentes. A
sucessiva política de castração das cadelas veio ainda agravar o problema,
porque as castradas tendem a substituir o impulso à defesa pelo da luta, comportando-se
como se fossem machos, dependendo isso da altura em que foram alvo da
castração. Quando em liberdade, os cães pequenos constituem-se em presas dos
grandes, porque correm à desfilada quer rosnando quer gemendo, o que os obriga
à sociabilização pela sua segurança. Não obstante, é comum vê-los desatrelados
e sem controlo, como se fossem invisíveis e não causassem problemas.
Para além
dessa sociabilização entre iguais, porque raramente saem à rua e vêm pouca
gente, os cães pequenos necessitam de se sociabilizar também com as pessoas
(normalmente mal-entendidas por eles como concorrentes), para que não mordam
nas crianças e nalguém que deles se aproxime, rendido à sua graciosidade,
pequenez e ar desprotegido. Alcançada esta sociabilização, será mais fácil
levá-los ao veterinário e isentar o clínico de qualquer risco. Parece mentira
mas é verdade: os cães pequenos são os mais amordaçados nos consultórios veterinários,
porque não consentem que outros lhe toquem, mesmo que vão a seu socorro. E ai
do clínico que não se acautele, porque depois de ser mordido, vai ficar a saber
que aquele cãozinho nunca tinha mordido a ninguém! Realmente há pessoas com
muito azar! Só o adestramento poderá sociabilizar verdadeiramente os cães
pequenos, devolver-lhes a segurança e inibir-lhes a irritação, para que possam,
tal qual os outros, coabitar harmoniosamente com pessoas e animais, sem se
constituírem em presas ou doentes de difícil tratamento. A derradeira palavra
caberá aos donos!
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