sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

CÃES PEQUENOS: SUBSTITUIR A IRRITAÇÃO PELA SEGURANÇA

Apesar de meio mundo jurar o contrário, os cães pequenos precisam de tanto ou mais ensino que os outros, apesar de raros nos centros de treino, porque se irritam com facilidade, provocam os cães maiores, atacam quando menos se espera, desconfiam dos veterinários e poderão carregar nas visitas de lá de casa, movidos pela insegurança ou coagidos pelo ciúme. Naturalmente cães de aviso, tratados na nossa latitude como “cães de vigia”, há muito que vêm sendo utilizados em matilhas com diferentes propósitos, mormente nas guardiãs e nas cinegéticas, onde se prestam como cães de aviso e sinal. A sua fragilidade leva-os à potenciação dos sentidos e bem depressa detectam qualquer intruso ou animal. Cães domiciliários por eleição, tendem ao reforço da territorialidade pela exiguidade dos espaços, assumem a exclusividade do grupo familiar e detestam intromissões, particularmente doutros cães. Defensivos em casa e ofensivos na rua, quiçá pela sua fragilidade e excesso de cuidados, tendem a considerar-se iguais aos humanos que os cercam e a resistir à sua liderança, especialmente quando contrariados ou confrontados com a novidade.
Maioritariamente mal sociabilizados, acostumados a ser reis e senhores, embirram com tudo e todos quando saem à rua, pela alteração do seu sentimento gregário e de acordo com a sua experiência de vida, ligada à sua instalação doméstica e direitos adquiridos no lar, geralmente alcançados por beneplácito e não pela observação das regras. Ladram normalmente para os cães grandes e rosnam-lhes à passagem, podendo atacá-los caso se acerquem dos seus donos, de modo imprevisto e dissimulado, e se por acaso saem ilesos da contenda, o mesmo nem sempre acontece aos seus donos, que pegando-os ao colo para os proteger, acabam por receber os golpes dos seus oponentes. A sucessiva política de castração das cadelas veio ainda agravar o problema, porque as castradas tendem a substituir o impulso à defesa pelo da luta, comportando-se como se fossem machos, dependendo isso da altura em que foram alvo da castração. Quando em liberdade, os cães pequenos constituem-se em presas dos grandes, porque correm à desfilada quer rosnando quer gemendo, o que os obriga à sociabilização pela sua segurança. Não obstante, é comum vê-los desatrelados e sem controlo, como se fossem invisíveis e não causassem problemas.
Para além dessa sociabilização entre iguais, porque raramente saem à rua e vêm pouca gente, os cães pequenos necessitam de se sociabilizar também com as pessoas (normalmente mal-entendidas por eles como concorrentes), para que não mordam nas crianças e nalguém que deles se aproxime, rendido à sua graciosidade, pequenez e ar desprotegido. Alcançada esta sociabilização, será mais fácil levá-los ao veterinário e isentar o clínico de qualquer risco. Parece mentira mas é verdade: os cães pequenos são os mais amordaçados nos consultórios veterinários, porque não consentem que outros lhe toquem, mesmo que vão a seu socorro. E ai do clínico que não se acautele, porque depois de ser mordido, vai ficar a saber que aquele cãozinho nunca tinha mordido a ninguém! Realmente há pessoas com muito azar! Só o adestramento poderá sociabilizar verdadeiramente os cães pequenos, devolver-lhes a segurança e inibir-lhes a irritação, para que possam, tal qual os outros, coabitar harmoniosamente com pessoas e animais, sem se constituírem em presas ou doentes de difícil tratamento. A derradeira palavra caberá aos donos!

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