No tempo em que se ia à mercearia comprar uma
quarta de café e outro tanto de açúcar, quando quem trabalhava não tinha
direito à baixa, à reforma e a outras regalias sociais, Eusébio era o tónico
que mais valia à gente simples deste País, uma lufada de ânimo para enfrentar o
dia-a-dia, que alimentava a esperança de quem mais sofria, pacificando a Nação
com o regime pela exaltação internacional deste moçambicano, a quem o Benfica muito
deve, nem sempre valeu e o País pouco se importou. Convém não esquecer, que
nessa época, na década de 60 do século passado, a escolaridade mínima
obrigatória se remetia à 4ª classe, que o analfabetismo era maior na Metrópole
do que na Colónia/Província de Cabo Verde, que o ideal era arranjar um emprego
no Estado e que o campeonato de futebol era o acontecimento domingueiro mais
marcante, o que tornava a ida aos estádios num desejado evento social. E neste
sentido, morreu o ídolo dos pobres, a quem alguns intelectuais, para além da
humildade do homem e abusando dela também, sempre consideraram inculto, bronco
e marionete do regime deposto pela actual democracia, a despeito do Povo que o
considerava seu, sendo também ele explorado até à exaustão, até não poder mais!
Para o futebol nacional, para além de referência,
Eusébio da Silva Ferreira é e será sempre um ícone. Para o internacional não o
deixará de ser e para aqueles que o conheceram muito menos. Marcou muitos e
grandes golos, carregou a Selecção Nacional às costas, engrandeceu o Benfica e
nunca reclamou méritos para si mesmo. Quando entrevistado, era fraterno e parco
de palavras, o que lhe granjeou a fama de inculto, própria de um nativo
assimilado. Estranhamente, volvidos todos estes anos, o discurso dos
futebolistas não sofreu qualquer alteração, mesmo dos considerados vedetas,
porque ouvimos continuamente frases como: “futebol é isto mesmo” e “agora há
que levantar a cabeça e pensar no próximo jogo!” Não é possível estabelecer um
paralelo entre Eusébio e Cristiano Ronaldo, porque ao primeiro tudo foi exigido
e ao segundo tudo lhe foi dado, muito embora não o tenha desbaratado, um
pertenceu ao “futebol força” e o outro acrescentou-lhe um fino recorte. Acresce
ainda a diferença entre a humildade do moçambicano e a vaidade do madeirense.
Mas para além disto tudo, o “Pantera Negra” será sempre um símbolo de África e
um ídolo para os africanos, porque no tempo do “futebol europeu dos brancos”,
enquanto negro, estabeleceu a diferença pela qualidade. Adoptado por Portugal e
equipado pelo Benfica, parte agora quem cumpriu! Obrigado Eusébio pelas
alegrias que nos deste, descansa agora em paz de tanta pancada que apanhaste!
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