Os percursos de galope devem acontecer nos
cachorros por volta dos seis meses de idade, altura em que o seu crescimento
horizontal desponta e o vertical vai diminuindo (isto nos cães rectangulares).
A necessidade dos percursos prende-se com o equilíbrio locomotor dos cachorros,
adaptando-os mais depressa à novidade morfológica, pelo desenvolvimento
muscular que sustenta as alterações do esqueleto. Este é o seu objectivo.
Qualquer escola canina digna desse nome, deve oferecer, quinzenalmente, uma
aula para o efeito com uma duração máxima de 2 horas, com os tempos de super compensação
incluídos e de igual duração aos de trabalho, sendo este o seu do Plano de Aula
e cronograma. A sequência natural dos andamentos, deverá acontecer de acordo
com o crescimento dos cachorros, porque primeiro deslocam-se a passo, depois
transitam para a marcha, e finalmente evoluem para o galope, algo visível no 2º
Ciclo Escolar (dos 6 aos 8 meses). Nas raças rectangulares, o galope desponta à
medida que o seu comprimento aumenta, potenciando-se quando cessa o seu
crescimento. Como o condicionamento e as suas respostas não são naturais,
causando saturação e desinteresse, a melhor maneira de lá chegar, é sustentá-lo
sobre o crescimento animal. Nisto reside a estratégica e o seu sucesso.
A cadência e profundidade do galope, assim como o
seu alcance e posterior travamento, quando associados às inversões e às
mudanças de direcção, são as metas a alcançar, porque sem elas o objectivo tardará:
o arranque instantâneo. Este trabalho deverá respeitar os momentos de
recuperação e o particular de cada cachorro, considerando os seus ritmos
vitais, morfologia e estado de aprumos. Atendendo à política da integração das
classes, onde os cães adultos se transformam em agentes de ensino, convém que
alguns se façam presentes, induzindo os seus pupilos às tarefas a realizar. A
escolha não deverá ser arbitrária, mas sim criteriosa, dispensando-se os cães
mal sociabilizados ou por demais territoriais. Pretende-se com isto diminuir os
riscos de ataque, porque a acontecerem, condenam a estratégia e atentam contra
o ensino, podendo em simultâneo, causar traumas de difícil eliminação. Cada
grupo de ensino deverá ser composto por 1 cão adulto e 3 cachorros. Os grupos
deverão trabalhar em diferentes zonas, para impedir o cruzamento e a confusão.
Nenhum grupo deverá ter mais do que 1 cão adulto, para que o interesse dos
cachorros se mantenha e a competitividade se faça presente. O desempenho nos
percursos de galope denunciará, dentro da mesma raça, quais os indivíduos
precoces e serôdios, já que os primeiros evoluirão comodamente e os segundos
transitarão invariavelmente para o andamento abaixo: a marcha.
Os galopadores menos apetrechados, apresentam
naturais dificuldades no exercício da “ Ponte-Quebrada “, pelo que devem,
previamente, ser convidados para os percursos de galope, para que o
robustecimento aconteça e o obstáculo sirva os seus propósitos (os
alongamentos). O trabalho a realizar consistirá na perseguição de um objecto,
evoluindo-se do churro para a vara, dos lançamentos curtos para os mais
distantes. O lançador será o condutor do cão adulto, a quem cabe a
responsabilidade colectiva. Cada dono deverá incentivar o seu cachorro à
perseguição e captura do objecto. Os cachorros desinteressados deverão sair dos
grupos e trabalhar isolados com os seus condutores. A sua integração acontecerá
depois da capacitação efectuada, de modo gradativo e entre cachorros menos
ávidos e aguerridos. A dificuldade encontra-se ligada aos seguintes factores:
incumprimento das tarefas domésticas, ausência de variação dos ecossistemas,
excessiva submissão, demasiado apego ao dono e insuficiente sociabilização. Numa
fase mais adiantada, porque o trabalho é do agrado dos cachorros, poderemos
solicitar-lhes a guarda e a defesa dos objectos capturados. Aqui, conforme se
depreende, o trabalho deverá ser individual e longe da presença dos demais. Há
que evitar as escaramuças, pois importa que todos saiam robustecidos.
A procura e captura da vara lançada, é uma manobra
de indução predatória que visa as futuras tarefas. Os cães adoram este trabalho
e rapidamente se enfileiram. Apesar do nosso objectivo primordial ser o de
muscular, acabamos por promover também o equilíbrio dos seus principais
impulsos herdados. Convém lembrar que muito antes de ser guarda, já o cão era
caçador. A vara substitui a ave a perseguir, a perna do herbívoro a segurar, o
inimigo a capturar ou a abater. A manobra não é inócua, ao contrário do que
pensam alguns patetas, porque a brincadeira induz ao trabalho e denuncia a
pedagogia. Correr atrás de uma bola, apesar de parecer inofensivo, pode não o
ser. A transição para acções mais sérias é automática e a regra é da nossa
responsabilidade (o controlo deve ser nosso). Na escolha do local para o efeito,
o piso deverá ser a primeira coisa a considerar, tendo em conta os diferentes
grupos somáticos, tipos de pé e disposições de eixos. Assim seremos obrigados a
procurar um neutro, um que coloque todos em igualdade de circunstâncias, (nem
demasiado solto, nem excessivamente duro). Um relvado pode ser uma excelente
opção. As calçadas, os pisos de areia solta e os planos inclinados, não são
recomendáveis porque: cortam as almofadas e causam impactos desgastantes,
travam as mãos e induzem a luxação do ombro, esforçam demasiado o esqueleto e
obstam ao equilíbrio dos eixos.
Rotineiramente, a Acendura desenvolvia este
trabalho na praia fluvial da Foz do Lisandro, onde a areia é mais compactada,
menos revolta e sempre húmida. Ao contrário da sua congénere marítima,
geralmente muito concorrida, a praia fluvial é pouco frequentada, o que permite
uma área de trabalho maior e isenta de confrontações indesejáveis. Por outro
lado, devido aos sedimentos transportados pelo rio, a areia da sua margem tem
mais goma, graças aos terrenos ribeirinhos, ricos em greda, saibro e piçarro. O
particular geográfico do local, lembra um fiorde norueguês, oferecendo
condições excepcionais para a tarefa, porque se encontra virado para o poente e
protegido dos flancos norte e sul, garantindo o trabalho no Inverno e no Verão sem
violar o disposto no Quadro Geral de
Temperatura e Humidade. Trabalhar num piso destes, favorece o
fortalecimento indolor dos dedos caninos e ajuda na transição automática dos
seus andamentos naturais, combatendo o pé chato e possibilitando a elegância
aos diferentes andamentos naturais. Entre a tracção e os percursos de galope,
tal qual os fazemos, escolhemos a segunda opção, porque primeiro importa
recuperar os membros e só depois o dorso. Proceder ao contrário, é atentar
contra o estado geral de aprumos e arruinar os eixos caninos.
Quem não
deve ser convidado para este trabalho? As cadelas gestantes no segundo mês de
gestação, os cachorros com idade inferior aos 6 meses, os cães com mais de 6
anos, os convalescentes, e todos os privados dos necessários vínculos
afectivos. A proibição é também extensível aos cães portadores de displasia
grave, aos bassetóides e aos acelerados de ritmos vitais. Os cães mais pesados,
apesar de poderem participar, devem fazê-lo com moderação para evitar a estafa.
Não raramente complementamos os percursos de galope com exercícios de
obediência, no equilíbrio saudável entre travamento e aceleração. Também
treinamos o “quieto” e o “aqui” (demorado e à distância), tirando partido da
recompensa. A escolha da matéria complementar a instalar ou a recapitular, irá
depender da classe em instrução, de acordo com os seus objectivos e grau de
capacitação. Eis em síntese o que fazemos nos percursos de galope. Quando
desenvolvemos uma disciplina capazmente, acabamos por abraçar outras de
imediato. A divisão clássica das disciplinas cinotécnicas, cada vez mais
subdividida em especialidades, procura aproveitar todo o potencial canino e
nessa exploração nada do que é acessório pode ser esquecido, para que não falte
e cause entrave. O desenvolvimento do galope não contribuirá para o aumento da
força de impacto nos ataques lançados? Não tornará mais pronta a prestação de
socorro? Há que “juntar as peças”!
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