sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

GALOPAR NO TEMPO CERTO

Os percursos de galope devem acontecer nos cachorros por volta dos seis meses de idade, altura em que o seu crescimento horizontal desponta e o vertical vai diminuindo (isto nos cães rectangulares). A necessidade dos percursos prende-se com o equilíbrio locomotor dos cachorros, adaptando-os mais depressa à novidade morfológica, pelo desenvolvimento muscular que sustenta as alterações do esqueleto. Este é o seu objectivo. Qualquer escola canina digna desse nome, deve oferecer, quinzenalmente, uma aula para o efeito com uma duração máxima de 2 horas, com os tempos de super compensação incluídos e de igual duração aos de trabalho, sendo este o seu do Plano de Aula e cronograma. A sequência natural dos andamentos, deverá acontecer de acordo com o crescimento dos cachorros, porque primeiro deslocam-se a passo, depois transitam para a marcha, e finalmente evoluem para o galope, algo visível no 2º Ciclo Escolar (dos 6 aos 8 meses). Nas raças rectangulares, o galope desponta à medida que o seu comprimento aumenta, potenciando-se quando cessa o seu crescimento. Como o condicionamento e as suas respostas não são naturais, causando saturação e desinteresse, a melhor maneira de lá chegar, é sustentá-lo sobre o crescimento animal. Nisto reside a estratégica e o seu sucesso.
A cadência e profundidade do galope, assim como o seu alcance e posterior travamento, quando associados às inversões e às mudanças de direcção, são as metas a alcançar, porque sem elas o objectivo tardará: o arranque instantâneo. Este trabalho deverá respeitar os momentos de recuperação e o particular de cada cachorro, considerando os seus ritmos vitais, morfologia e estado de aprumos. Atendendo à política da integração das classes, onde os cães adultos se transformam em agentes de ensino, convém que alguns se façam presentes, induzindo os seus pupilos às tarefas a realizar. A escolha não deverá ser arbitrária, mas sim criteriosa, dispensando-se os cães mal sociabilizados ou por demais territoriais. Pretende-se com isto diminuir os riscos de ataque, porque a acontecerem, condenam a estratégia e atentam contra o ensino, podendo em simultâneo, causar traumas de difícil eliminação. Cada grupo de ensino deverá ser composto por 1 cão adulto e 3 cachorros. Os grupos deverão trabalhar em diferentes zonas, para impedir o cruzamento e a confusão. Nenhum grupo deverá ter mais do que 1 cão adulto, para que o interesse dos cachorros se mantenha e a competitividade se faça presente. O desempenho nos percursos de galope denunciará, dentro da mesma raça, quais os indivíduos precoces e serôdios, já que os primeiros evoluirão comodamente e os segundos transitarão invariavelmente para o andamento abaixo: a marcha.
Os galopadores menos apetrechados, apresentam naturais dificuldades no exercício da “ Ponte-Quebrada “, pelo que devem, previamente, ser convidados para os percursos de galope, para que o robustecimento aconteça e o obstáculo sirva os seus propósitos (os alongamentos). O trabalho a realizar consistirá na perseguição de um objecto, evoluindo-se do churro para a vara, dos lançamentos curtos para os mais distantes. O lançador será o condutor do cão adulto, a quem cabe a responsabilidade colectiva. Cada dono deverá incentivar o seu cachorro à perseguição e captura do objecto. Os cachorros desinteressados deverão sair dos grupos e trabalhar isolados com os seus condutores. A sua integração acontecerá depois da capacitação efectuada, de modo gradativo e entre cachorros menos ávidos e aguerridos. A dificuldade encontra-se ligada aos seguintes factores: incumprimento das tarefas domésticas, ausência de variação dos ecossistemas, excessiva submissão, demasiado apego ao dono e insuficiente sociabilização. Numa fase mais adiantada, porque o trabalho é do agrado dos cachorros, poderemos solicitar-lhes a guarda e a defesa dos objectos capturados. Aqui, conforme se depreende, o trabalho deverá ser individual e longe da presença dos demais. Há que evitar as escaramuças, pois importa que todos saiam robustecidos.
A procura e captura da vara lançada, é uma manobra de indução predatória que visa as futuras tarefas. Os cães adoram este trabalho e rapidamente se enfileiram. Apesar do nosso objectivo primordial ser o de muscular, acabamos por promover também o equilíbrio dos seus principais impulsos herdados. Convém lembrar que muito antes de ser guarda, já o cão era caçador. A vara substitui a ave a perseguir, a perna do herbívoro a segurar, o inimigo a capturar ou a abater. A manobra não é inócua, ao contrário do que pensam alguns patetas, porque a brincadeira induz ao trabalho e denuncia a pedagogia. Correr atrás de uma bola, apesar de parecer inofensivo, pode não o ser. A transição para acções mais sérias é automática e a regra é da nossa responsabilidade (o controlo deve ser nosso). Na escolha do local para o efeito, o piso deverá ser a primeira coisa a considerar, tendo em conta os diferentes grupos somáticos, tipos de pé e disposições de eixos. Assim seremos obrigados a procurar um neutro, um que coloque todos em igualdade de circunstâncias, (nem demasiado solto, nem excessivamente duro). Um relvado pode ser uma excelente opção. As calçadas, os pisos de areia solta e os planos inclinados, não são recomendáveis porque: cortam as almofadas e causam impactos desgastantes, travam as mãos e induzem a luxação do ombro, esforçam demasiado o esqueleto e obstam ao equilíbrio dos eixos.
Rotineiramente, a Acendura desenvolvia este trabalho na praia fluvial da Foz do Lisandro, onde a areia é mais compactada, menos revolta e sempre húmida. Ao contrário da sua congénere marítima, geralmente muito concorrida, a praia fluvial é pouco frequentada, o que permite uma área de trabalho maior e isenta de confrontações indesejáveis. Por outro lado, devido aos sedimentos transportados pelo rio, a areia da sua margem tem mais goma, graças aos terrenos ribeirinhos, ricos em greda, saibro e piçarro. O particular geográfico do local, lembra um fiorde norueguês, oferecendo condições excepcionais para a tarefa, porque se encontra virado para o poente e protegido dos flancos norte e sul, garantindo o trabalho no Inverno e no Verão sem violar o disposto no Quadro Geral de Temperatura e Humidade. Trabalhar num piso destes, favorece o fortalecimento indolor dos dedos caninos e ajuda na transição automática dos seus andamentos naturais, combatendo o pé chato e possibilitando a elegância aos diferentes andamentos naturais. Entre a tracção e os percursos de galope, tal qual os fazemos, escolhemos a segunda opção, porque primeiro importa recuperar os membros e só depois o dorso. Proceder ao contrário, é atentar contra o estado geral de aprumos e arruinar os eixos caninos.
Quem não deve ser convidado para este trabalho? As cadelas gestantes no segundo mês de gestação, os cachorros com idade inferior aos 6 meses, os cães com mais de 6 anos, os convalescentes, e todos os privados dos necessários vínculos afectivos. A proibição é também extensível aos cães portadores de displasia grave, aos bassetóides e aos acelerados de ritmos vitais. Os cães mais pesados, apesar de poderem participar, devem fazê-lo com moderação para evitar a estafa. Não raramente complementamos os percursos de galope com exercícios de obediência, no equilíbrio saudável entre travamento e aceleração. Também treinamos o “quieto” e o “aqui” (demorado e à distância), tirando partido da recompensa. A escolha da matéria complementar a instalar ou a recapitular, irá depender da classe em instrução, de acordo com os seus objectivos e grau de capacitação. Eis em síntese o que fazemos nos percursos de galope. Quando desenvolvemos uma disciplina capazmente, acabamos por abraçar outras de imediato. A divisão clássica das disciplinas cinotécnicas, cada vez mais subdividida em especialidades, procura aproveitar todo o potencial canino e nessa exploração nada do que é acessório pode ser esquecido, para que não falte e cause entrave. O desenvolvimento do galope não contribuirá para o aumento da força de impacto nos ataques lançados? Não tornará mais pronta a prestação de socorro? Há que “juntar as peças”!

Sem comentários:

Enviar um comentário