sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

A TRACÇÃO NÃO É PARA TODOS E PODE AGRAVAR A SAÚDE DE ALGUNS

O uso dos cães na tracção é milenar, aconteceu um pouco por toda a parte, das regiões mais setentrionais até às do novo mundo. Os cães transportaram tudo por toda a parte, subsidiando o homem nas suas tarefas e contribuindo para o seu progresso. As actuais modalidades desportivas de tiro canino são decorrentes desse uso e evidenciam A mais-valia do nosso fiel amigo. De acordo com os diferentes ecossistemas, foram desenvolvidas raças próprias para este trabalho, cite-se o exemplo dos Huskies e Malamutes. Mas para além da utilidade e do desporto, a tracção tem feito parte da musculação canina e usada, muitas vezes arbitrariamente. Se respeitarmos o objectivo central do adestramento, a sobrevivência animal, somos obrigados a regrar esta variante laboral, para que subsista o bem-estar canino e a divisão de tarefas não o ponha em riso. A tracção canina não se destina a todos os cães e nem tão pouco à totalidade dos indivíduos de uma raça, mesmo que ela tenha sido escolhida para o efeito. Tracção e musculação andam de mãos dadas, mas a segunda tem outros meios para substituir a primeira, sem pôr em risco a integridade física dos seus praticantes. Mushing e tracção servem diferentes propósitos ainda que o fim útil seja o mesmo, porque uns procuram a prática desportiva e outros a musculação dos seus cães.
Os cães demasiadamente compridos, os extraordinariamente selados, os de mãos divergentes e os com abatimento de metacarpos, não devem ser convidados para este exercício. O mesmo se aplica aos que se deslocam em passo de andadura e aos de infundada robustez articular. Depreende-se disto, que a modalidade não está isenta de riscos, que pode perigar a saúde canina, agravar ou provocar lesões e incapacidades. Tal não deve ser o nosso propósito. Segundo o registo histórico, a tracção tem sido desenvolvida entre 3 grupos somáticos: Os lupinos, os vulpinos e os molossos. A escolha da morfologia canina para o efeito tem considerado o particular do trabalho, a resolução animal e a sua continuidade na tarefa. O seu modus operandi, exactamente igual ao das outras disciplinas cinotécnicas, deve ser progressivo, equilibrado por metas e objectivos aquém do estoiro animal, considerando O CAP e os ritmos vitais dos indivíduos convidados para a tracção. Também a idade deve ser considerada, mormente a curva de crescimento de cada indivíduo convidado. Temos por norma só aceitar cães a partir da maturidade sexual, e quando os aceitamos antes, somente os atrelamos à arreata (atrelados lateralmente aos cães que puxam, mas libertos da tracção).
Tanto se pode atrelar um cão como vários, o que dependerá da natureza do trajecto, da carga a transportar e da celeridade requerida. Ao contrário dos esquimós, que tiram partido da dominância do macho alfa, somos obrigados ao exercício prévio da sociabilização inter pares, para que o robustecimento individual aconteça e a matilha animal sucumba. Só consideramos para a tracção os cães com um CAP entre 1.6 e 2 (coeficiente de envergadura em que se divide a altura do cão pelo seu peso), justificando o seu peso atlético pelo particular do exercício. Os cães de focinho encurtado, por dificuldades no arrefecimento, assim como os abaixo dos 40% de focinho em relação ao crânio, não devem ser convidados para este trabalho, porque cedo entram em colapso. Do mesmo modo, são dispensados os animais com um ritmo cardíaco superior às 85 pulsações em descanso. Nunca se deve colocar a tracção na base do exercício físico, mas sim no seu cumular, porque o bom desempenho sucede à preparação. Na tracção usufrui-se dos benefícios da instalação dos comandos direccionais, nela se descobre mais uma das suas utilidades, porque o seu concurso viabiliza a perfeita condução. Há que experimentar para ver!
Considerando a relação óptima, a tara nunca deve exceder ¼ do peso da carga total, e esta nunca deverá ser superior ao peso do cão, especialmente em trajectos acidentados e irregulares. Os carros devem ter dois pares de rodas da mesma altura, para que o peso se distribua equitativamente. A sua largura não deve exceder o dobro da envergadura do cão. A altura dos eixos deve ser inferior à altura dos jarretes, para que o equilíbrio aconteça e a força actue. O arreio do cão (colete; arnês ou peitoral), deve ter no mínimo dois pontos de ligação por lado e garantir a ligação peito/pescoço/garrote. Especialmente entre os cães meridionais e nados na baixa altitude, o Quadro Geral de Temperatura e Humidade deve ser respeitado. A tracção sempre deve contribuir para o aumento do perímetro torácico, para a melhoria dos ritmos vitais, para o robustecimento das articulações e para o equilíbrio físico e psicológico, porque ela faz parte do fim económico do treino: a divisão de tarefas. Sem “ junto” a tracção não subsiste, a menos que a coerção usurpe o lugar da cumplicidade e façamos dos cães gado muar.

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