Quando
montámos a nossa primeira pista táctica na Avessada em 1992, foram muitos os
curiosos que nos visitaram, intrigados com a disposição do percurso e com a
natureza dos obstáculos, algo que lhes parecia surrealista, de difícil execução
e pouco préstimo. Um dos obstáculos que mais os intrigou foi o “Pórtico Latino”,
uma janela de pedra encimada por um vértice, assim baptizada pelo seu desenho
neo-clássico, a lembrar as casas latinas de duas águas no telhado, o nosso 11º
primeiro obstáculo do perímetro exterior que se presta ao aquecimento e
manutenção dos atletas caninos, porque todas as transposições rasam o salto
natural e cada um dos obstáculos é de índole diferente. Da Avessada até aos
dias de hoje, só no território nacional, montámos mais 4 pistas tácticas e o “Pórtico
Latino” fez-se presente em todas elas.
O “Pórtico Latino” é uma janela que serve a
invasão, a ocultação e a evasão dos cães, uma herança das pistas militares e
policiais que se expandiu por todos os continentes, alcançando nomes diversos
nas diferentes latitudes, mas servindo os mesmos propósitos, ainda que a
configuração comum se remeta exclusivamente ao quadrado de transposição,
normalmente com 60cm de lado e elevado do solo à mesma altura. Quando a altura
da janela ultrapassa o valor a atrás indicado, estamos na presença de treino
específico que visa a preparação dos cães para as situações reais, circunscrito
à altura média das janelas de determinado lugar. Quando ela é inferior aos 60cm
ou o quadrado é maior, o obstáculo tem um duplo propósito: a iniciação aos
obstáculos tipo alvo e a indução aos que lhe dão continuidade, segundo a sua
sequência natural e grau de dificuldade (pneu, bóia, tambor, arco e arco do
fogo).
A distância horizontal do quadrado de transposição
em relação à extremidade do corpo do aparelho indicar-nos-á o seu uso mais
frequente e método utilizado para a sua transposição: se exceder os 40cm de
cada lado, destina-se a cães conduzidos em liberdade ou aos iniciados pelo
adiantamento do seu condutor em relação ao obstáculo, que estabelecendo um
segmento de recta entre a sua posição e a do cão garante a transposição segura;
se tiver até 40cm, vislumbra-se o ensino à trela ou a celeridade na sequência
natural. Do mesmo modo, a espessura do obstáculo também nos indicará qual a
mais-valia procurada e os cães a que se destina: quando é inferior a 15cm,
procura-se a transposição rápida e a condução em liberdade; quando tem 15cm ou
mais, pretende-se aumentar a extensão do salto, recorrer à trela ou dar apoio
aos cães para facilitar a sua transposição. Por norma, porque o consideramos um
obstáculo de manutenção e indutor, guardamos 40cm para cada lateral do quadrado
de transposição e damos-lhe 15cm de espessura. Os materiais que usamos para a
sua elaboração ou obedecem à arquitectura do local ou ao fim procurado, podendo
ser de alvenaria, réplicas de muros de pedra ou até de madeira (neste caso
convém que tenham um caixilho metálico).
De técnica rudimentar para os condutores, o
“Pórtico Latino” é um dos obstáculos ideais para iniciar as crianças no mundo
dos percursos tácticos, desenvolvendo nelas o desejo de ir adiante, facto
difícil de acontecer se as convidássemos para obstáculos mais técnicos,
compostos ou complicados, que exigiriam da liderança um mimetismo próprio,
outro saber, experiência e maior estímulo. Ao longo da nossa história assim
procedemos, convidando todos os infantes recém-chegados para a sua prática.
O
“Pórtico Latino” ou janela de invasão sempre fez parte do treino canino das
polícias metropolitanas, como subsídio para as manobras de cerco e de surpresa,
responsáveis pela captura de marginais, armados ou não, considerando a
salvaguarda dos animais, fazendo-se também presente nas pistas militares como
preparação contra a guerrilha urbana e como parte integrante de forças de
assalto. Quando ao “Pórtico Latino” suceder o concurso aos muros (paliçadas),
os cães estarão melhor apetrechados para o combate casa a casa. O salto da
janela é também importante para os cães de busca, salvamento e resgate,
particularmente diante de terramotos ou de outros cataclismos, quando importa
detectar sobreviventes e prestar-lhes socorro, sendo por isso mesmo incorporado
nos percursos de pistagem. Por outro lado, verificando-se essas circunstâncias,
o salto da janela possibilita ainda a evasão do cão quando roubado, em risco ou
em aflição.
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