O Master e o seu irmão Lobinho, ambos excelentes cães
de trabalho, nasceram dum beneficiamento há muito procurado que visava a
recuperação das qualidades laborais presentes nos CPA’S da primeira metade do
Sec. XX, o que felizmente neles veio a suceder. Infelizmente o Lobinho morreu precocemente.
Melhor sorte teve o Master que acabou pertença do Dr. José Gabriel, um advogado
cuja classe, elegância e espírito de sacrifício associadas ao cuidado, ao
empenho e à paixão, fizeram dele um cão estimado e um verdadeiro campeão. Ao
contrário do seu irmão, que sempre foi muito bonito e parecia um boneco de
peluche, o Master até aos 4 meses de idade parecia um “bicho-do-mato”, porque
era desconfiado e pouco agradável à vista, vindo posteriormente, quando atingiu
a maturidade sexual, a evidenciar rara beleza e uma parceria invejável. Se a beleza
lhe veio da ascendência, o carácter foi-lhe também moldado pela dona, uma
senhora que o adorava e que passava a maior parte do tempo com ele, alguém que
não esquecemos e de quem sentimos falta, uma amiga cuja morte nos empobreceu.
Até aos sete meses de idade, o Master era um atleta
desajeitado, “um quebra-paus”, dando a sensação de ter nascido avesso aos
obstáculos. No mesmo espaço de tempo “pendurava-se à esquerda” e rebocava o
dono, inviabilizando o “junto” e estoirando o seu condutor, homem há muito
arredado do exercício físico. Pouco a pouco e com uma pequena ajuda nossa, o
binómio começou a destacar-se e o Master passou de marreta a mestre, tanto na
ginástica quanto na obediência, atingindo performances físicas pouco vistas e
uma obediência inquestionável. Certa vez, lá para as bandas da Serra do Calvo
(Lourinhã), numa pista táctica mal elaborada, copiada pela nossa, sem contudo
obedecer às suas escalas, o que tornava aqueles obstáculos quase impossíveis de
transpor, o Master conseguiu vencê-los à primeira e sem qualquer dificuldade.
Para se ter uma ideia aproximada da capacidade de resolução deste excelente
pastor, convém ver com atenção a foto que se segue, um obstáculo composto pela
Ponte-Quebrada e pelo Tambor. A Ponte-Quebrada encontra-se aberta a 2m e o
tambor ao centro também elevado a 2m, assente sobre duas verticais, com um
comprimento de 80cm e uma abertura ogival de 60x45cm. Como se pode ver pela
posição da cauda, o Master foi surpreendido no 1º momento da transposição, dentro
do tambor e quando se preparava para alcançar o 2º bloco da Ponte Quebrada.
Dono de
uma elasticidade, força e precisão extraordinárias, sendo seguro, sereno e
valente, para além de generoso e bem sociabilizado, o Master veio a revelar-se
um exímio nadador, próprio para a tracção e um excelente cão de terapia, sendo inúmeras
vezes utilizado como embaixador da escola junto das crianças, que o adoravam e
acabavam por conduzi-lo. Apesar de guardar e guardar bem, o patinho feio que
virou cisne, serviu de mestre e incentivo para os cães mais jovens na prática
da endurance, disciplina que parecia ter sido feita para ele, já que nela
ultrapassou tudo o que havia para vencer, apesar de cão urbano e de companhia.
Testado em altitude e chamado a trabalhar nos mais
variados ecossistemas, hábil na transição dos simulacros para as situações
reais, evidenciando com isso a supremacia dos códigos absorvidos, que lhe
garantiam a adaptação fácil, o Master era capaz de se ginasticar sobre tudo que
aparecesse, para sua alegria, gáudio do dono e espanto de quem assistia.
O Master e o Lobinho foram, em termos de criação, a
resposta à alternativa norte-americana do Pastor de Shiloh, já que nasceram com
1/8 de branco na construção, contribuição visível no focinho de ambos, sem
máscara e com as faces brancas, apesar de ambos não ultrapassarem os 68cm de
altura e os 40kg de peso. Por causa dessa infusão, contrária ao estalão actual
da raça, que irradiou os exemplares brancos da sua selecção, nenhum deles teve
qualquer registo. O Master cresceu na Escola ao lado do PM, um gato siamês que
o acompanhou nas aulas e que o ajudou na sociabilização, um companheiro
diferente que via como igual.
Muito mais haveria para dizer acerca do Master, que
apesar de velhinho continua ao lado do dono, descansando agora das tarefas que
tão bem cumpriu, enquanto cão escolar, de companhia, trabalho e terapia. Virá a
desaparecer mais rápido do que a sua memória, porque foi único e excepcional,
um amigo disponível, franco e leal como poucos, o nosso “Turudinho”!
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