Chamado a protagonizar uma série televisiva, onde
trabalhou para além de dois anos, o Jazz tornou-se vedeta e convenceu-se que
era inspector da Polícia Judiciária, tanto na ficção como depois dela, sendo
usado para a captura de eventuais criminosos, normalmente duplos fornecidos
pela Acendura, efectuando as suas acções ofensivas e outras de modo exemplar.
Ao todo, não sabemos quantos ataques realizou, mas foram alguns centos. Puxado
para a ribalta por necessidade, a sua adaptação à ficção não foi fácil, porque
inicialmente sentia-se desconfortável no “plateau” e não interagia com os actores,
porque havia sido treinado estritamente para guarda, para a protecção exclusiva
do agregado familiar que o adoptou. Não obstante, respondia afirmativamente a
35 comandos de obediência, executados ao gesto como convinha, porque em
Portugal ninguém paga a pré-produção. Estava sociabilizado com outros cães,
familiarizado com qualquer tipo de animal doméstico e acostumado aos tiros, que
funcionavam para ele como sinal de partida. Detestava as cenas domésticas e
abominava as partes lúdicas dos actores infantis, o que nos obrigou ao uso do
“Bibos”, que ao contrário dele, adorava sofás e prestava-se a todo o tipo de
diabruras. Filho dum negro e duma lobeira, Lobo e Nail, neto do Warrior e do
Brusco, veio a demonstrar o melhor das duas variedades cromáticas: a seriedade
dos negros e a subtileza dos cinzentos.
Como já atrás se disse, a entrada do Jazz ao mundo
das séries televisivas não se pode dizer que tenha sido fácil, porque bem cedo
aprendeu a resmungar com a Inês, a sua condutora, uma jovem na altura com 13
anos de idade que ele adorava. Acresce ainda o facto de ter nascido
muito-dominante, o que lhe conferia uma teimosia pouco vista frente à novidade
da liderança. Vezes sem conta, nos intervalos das cenas, quando ia descansar
para junto da carrinha que o transportava, aproveitava a ocasião para defender
a viatura e o seu motorista, por auto-recriação e contra quem o dirigia em
cena, o que lhe valeu alguns castigos que não surtiram efeito. Raros foram os
cães que nos obrigaram ao reforço da linguagem gestual à verbal e ele foi o
último deles, como se pode ver na foto abaixo, onde rosnando resiste a pôr-se
de pé. Com o decorrer do tempo, que exigiu tenacidade, mestria e paciência, o
Jazz transformou-se no astro da companhia, convencendo-se do seu papel e
executando-o irrepreensivelmente, valorizando o nosso esforço e contribuindo de
sobremaneira para o êxito da série.
No mundo
do vídeo fez de tudo um pouco, desde rebocar “bandidos” pelas pernas até
empurrar cadeiras de rodas. Saltou para o capot de vários carros, puxou
“criminosos” pelas janelas e ainda “voou” por cima de uma Renault Express para
apanhar um “delinquente”, à primeira e sem qualquer dificuldade, capacidade que
lhe adveio do treino nas pistas tácticas e do seu aproveitamento na endurance
(1.2m de salto vertical instantâneo, 3.75m de salto em extensão e muros até
2.5m). Hábil no contra-ataque, tornado incorruptível e treinado na
contra-ordem, o Jazz, apesar de ser um cão familiar, bem que poderia ter sido
cão policial ou de patrulha. Infelizmente os Pastores Alemães não são eternos e
vivem em média menos que outras raças, porque raramente descansam, mantendo-se
alerta e prontos para intervir. O Jazz morreu, mas continua vivo para quem o
conheceu e ainda aparece aos fins-de-semana na televisão, para alegria da
criançada.
Com a sua morte perdem-se momentos que jamais
viveremos, porque não há dois cães iguais e os anos não nos poupam. Obrigado
companheiro, foi bom ter-te ao lado, ainda sonho contigo acordado.
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