sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

JAZZ DIE MORGENGLANTZ: O ASTRO DA COMPANHIA

Chamado a protagonizar uma série televisiva, onde trabalhou para além de dois anos, o Jazz tornou-se vedeta e convenceu-se que era inspector da Polícia Judiciária, tanto na ficção como depois dela, sendo usado para a captura de eventuais criminosos, normalmente duplos fornecidos pela Acendura, efectuando as suas acções ofensivas e outras de modo exemplar. Ao todo, não sabemos quantos ataques realizou, mas foram alguns centos. Puxado para a ribalta por necessidade, a sua adaptação à ficção não foi fácil, porque inicialmente sentia-se desconfortável no “plateau” e não interagia com os actores, porque havia sido treinado estritamente para guarda, para a protecção exclusiva do agregado familiar que o adoptou. Não obstante, respondia afirmativamente a 35 comandos de obediência, executados ao gesto como convinha, porque em Portugal ninguém paga a pré-produção. Estava sociabilizado com outros cães, familiarizado com qualquer tipo de animal doméstico e acostumado aos tiros, que funcionavam para ele como sinal de partida. Detestava as cenas domésticas e abominava as partes lúdicas dos actores infantis, o que nos obrigou ao uso do “Bibos”, que ao contrário dele, adorava sofás e prestava-se a todo o tipo de diabruras. Filho dum negro e duma lobeira, Lobo e Nail, neto do Warrior e do Brusco, veio a demonstrar o melhor das duas variedades cromáticas: a seriedade dos negros e a subtileza dos cinzentos.
Como já atrás se disse, a entrada do Jazz ao mundo das séries televisivas não se pode dizer que tenha sido fácil, porque bem cedo aprendeu a resmungar com a Inês, a sua condutora, uma jovem na altura com 13 anos de idade que ele adorava. Acresce ainda o facto de ter nascido muito-dominante, o que lhe conferia uma teimosia pouco vista frente à novidade da liderança. Vezes sem conta, nos intervalos das cenas, quando ia descansar para junto da carrinha que o transportava, aproveitava a ocasião para defender a viatura e o seu motorista, por auto-recriação e contra quem o dirigia em cena, o que lhe valeu alguns castigos que não surtiram efeito. Raros foram os cães que nos obrigaram ao reforço da linguagem gestual à verbal e ele foi o último deles, como se pode ver na foto abaixo, onde rosnando resiste a pôr-se de pé. Com o decorrer do tempo, que exigiu tenacidade, mestria e paciência, o Jazz transformou-se no astro da companhia, convencendo-se do seu papel e executando-o irrepreensivelmente, valorizando o nosso esforço e contribuindo de sobremaneira para o êxito da série.
No mundo do vídeo fez de tudo um pouco, desde rebocar “bandidos” pelas pernas até empurrar cadeiras de rodas. Saltou para o capot de vários carros, puxou “criminosos” pelas janelas e ainda “voou” por cima de uma Renault Express para apanhar um “delinquente”, à primeira e sem qualquer dificuldade, capacidade que lhe adveio do treino nas pistas tácticas e do seu aproveitamento na endurance (1.2m de salto vertical instantâneo, 3.75m de salto em extensão e muros até 2.5m). Hábil no contra-ataque, tornado incorruptível e treinado na contra-ordem, o Jazz, apesar de ser um cão familiar, bem que poderia ter sido cão policial ou de patrulha. Infelizmente os Pastores Alemães não são eternos e vivem em média menos que outras raças, porque raramente descansam, mantendo-se alerta e prontos para intervir. O Jazz morreu, mas continua vivo para quem o conheceu e ainda aparece aos fins-de-semana na televisão, para alegria da criançada.
Com a sua morte perdem-se momentos que jamais viveremos, porque não há dois cães iguais e os anos não nos poupam. Obrigado companheiro, foi bom ter-te ao lado, ainda sonho contigo acordado.

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