O medo aos estrondos tanto pode ser genético como ambiental, acontecer por trauma ou sair reforçado pela junção entre a hereditariedade e a experiência directa de alguns cães. Independentemente da sua origem, podemos sossegar, porque o problema é solúvel e está ao alcance de qualquer proprietário canino. Ao contrário do que se pensa, é mais fácil levar de vencida o medo genético do que o provocado por um trauma, porque o pânico tende a accionar os mecanismos inerentes ao instinto de sobrevivência. O medo de origem genética pode ser colmatado pela habituação e pelo reforço positivo, acontecendo a tolerância pela familiarização. Qualquer cachorro medroso pode não manifestar medo à trovoada, aos foguetes e aos tiros, quando acostumado desde tenra idade a esses estrondos de igual categoria, o que não fará dele um valente, mas que o acostumará à sua presença e apresentação. O medo de origem traumática, quando instalado e desprezado, irá obrigar a manobras mais ou menos demoradas até à habituação desejável e é disso que falaremos a seguir. Cão que teme a trovoada virá também a temer os foguetes e os disparos das armas de fogo, o que é de todo indesejável para qualquer cão e impróprio para os que se destinam ao ofício guardião ou à actividade cinegética. Para levar de vencida o medo da trovoada num cão adulto é necessário acompanhá-lo durante a ocorrência do fenómeno, transmitir-lhe confiança e permanecer a seu lado, como se nada se passasse, convidando-o para as rotinas do seu conhecimento, que tanto poderão ser lúdicas quanto laborais. Como as trovoadas são imprevistas e podem tardar em acontecer, podemos valer-nos de uma chapa de zinco que produza o mesmo som e induza ao mesmo efeito. Os procedimentos do dono serão exactamente os mesmos que descrevemos no primeiro caso. A supressão do medo pela trovoada levará a uma melhor aceitação dos foguetes e aumentará a tolerância aos disparos. Este é um importante trabalho doméstico, uma meta a alcançar dentro do aconchego do lar.
Quando se intenta aceitar um cão para guarda ou para caça, uma pergunta urge fazer: “como se comporta o cão diante da trovoada?”, porque isso nos indicará o modo de realizar a sua capacitação. Se o cão a temer (antigamente não eram aceites cães com estas características), os estímulos, as manobras de indução e todo o crescendo operativo deverão inicialmente dispensar o concurso das armas de fogo. Caso se verifique o contrário, seguir-se-á a aplicação dos conteúdos de ensino sem restrições, ainda que respeitando o princípio pedagógico da actividade apreensível, nomeadamente na transição das tarefas mais simples para as complexas.
Como é a habituação aos tiros que está em causa, importa que eles sejam dados a uma distância razoável do cão medroso, diminuindo assim a surpresa e a intensidade da detonação, harmonizando o som dos disparos com os decibéis dos restantes barulhos presentes no ecossistema. O atirador deverá estar escondido ou camuflado, a arma não deverá ser vista e as rajadas deverão ser evitadas. Pouco a pouco, de acordo com a resposta positiva do animal, o atirador apresentar-se-á, a arma será visível e convidaremos o cão para o desarme. Podemos valer-nos da arma de fogo nas induções típicas de defesa e ataque, desde que a usemos a uma distância considerável e o seu barulho não abafe o incentivo do dono ou proprietário do cão. De início, nos ataques lançados, a distância do atirador deverá ser dez vezes superior à área a percorrer até à captura do figurante. A certeza da vitória levará o cão a substituir o medo pela aversão, o que facilitará o desarme e melhor capacitará o cão para as acções policiais. Um cão pode nascer com medo da trovoada ou ser traumatizado por ela, mas só morrerá nesse temor se o dono nada fizer. Quase tudo nos cães resulta da investidura e será o acerto dos donos quem produzirá melhores cães.
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