À procura dos benefícios do sol e observando tudo à sua volta, um casal de idosos bem disposto e melhor refastelado num banco de jardim, comentava alegremente os hábitos e costumes da gente que por ali passava. Ninguém entendia peva do que diziam e também não tinham ar de ser turistas. Vendo o trabalho dos cães da escola, o homem comentou: “ ls tios de lisboua ténem perros i nun se les bénem las canhonas!” Curioso pela novidade, um dos nossos alunos foi entabular conversa com eles, saber quem eram, donde vinham e que raio de língua falavam. Para espanto seu, o casal respondeu às questões em português sem mácula, porque eram transmontanos, do Distrito de Bragança, do Concelho de Miranda do Douro e originários duma aldeia chamada Malhadas. A língua que falavam entre si era o mirandês, já tinham sido emigrantes em França e estavam agora de visita a Lisboa. O comentário que o homem havia soltado ao ver tanto cão, seria mais ou menos este (numa tradução arriscada): “ os tios de Lisboa têm cães e não se lhes vê as ovelhas!” A exclamação compreende-se pelo seu passado rural e pelo recurso à pastorícia nos tempos da sua meninice, quando os cães guardavam os rebanhos e auxiliavam os pastores pelo planalto mirandês afora. Para eles, ter cães sem ovelhas continua a ser um desperdício, quer o digam em “pertués” ou em “”mirandés” (sendinés), neste País bilingue.
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