O tempo em que os homens dividiam o seu quotidiano com os animais já lá vai, as actividades humanas sofreram alteração e os animais viram reduzida a sua participação, pela novidade dos meios para a obtenção da riqueza. Não obstante, os animais domésticos continuam entre nós, ainda que também sujeitos às alterações do nosso dia-a-dia, permanecendo isolados por mais tempo e arredados da nossa companhia, condições que têm vindo a afectar o seu viver social e por inerência as suas prestações. Se o processo de domesticação aconteceu pela supressão da liberdade e culminou com a liberdade condicionada, estratégia sem dúvida violenta, os excessivos enclausuramento e isolamento actuais, têm-se revelado ainda mais arbitrários e agressivos, considerando a dependência do cão relativa ao grupo. A alteração forçada do viver social canino, imposta pelos vários condicionalismos dos seus proprietários, tem vindo a contribuir para o aumento da sua agressividade, para o aparecimento de diferentes estádios letárgicos e para o surgimento de taras de diferente índole – o cão passa cada vez mais tempo sozinho!
Quando se fala em bem-estar animal, devem também ser salvaguardados os aspectos sociais próprios de cada espécie, porque cada uma delas vive e come para sobreviver, usando a energia assimilada para o desempenho que lhe é natural, segundo as suas características, de acordo com os seus interesses e dentro do habitat que lhe peculiar. Quando se trata de cães, não podemos entender esse bem-estar debaixo de uma política exclusiva de “gordos e reluzentes”, porque eles têm outras necessidades imprescindíveis, que sendo-lhe vetadas, contribuirão para uma menor qualidade de vida, obstarão ao seu aprendizado e votá-los-ão ao subaproveitamento. O particular social do cão não pode ser ignorado e o seu sentimento gregário ignorado, porque ele nasceu para o trabalho de equipa e espera dos donos aquilo que o matilha lhe daria. A maior ou menor capacidade de um cão, que é também adquirida, será sempre advinda da qualidade dos seus mestres, porque ele procura aprender e busca o seu lugar dentro do escalonamento social, um lugar que lhe permita sentir-se bem consigo próprio.
Se a proliferação de líderes pode relegar o cão para a base da pirâmide social e condená-lo ao lugar destinado aos mais fracos, submissos e inibidos, o isolamento desconcerta-o e entrega-o aos seus fantasmas, porque o ostracismo forçado, uma vez instituído e aceite, causa-lhe a maior das confusões e entrega-o aos poucos instintos inatos, tornando-o desconfiado, de menor préstimo e resistente ao futuro trabalho de equipa. Assiste-se à troca de alvos nos cães que sempre viveram amatilhados e que nunca usufruiriam do redireccionamento humano, guerreando entre si e desprezando a defesa do território. Nesta situação, apesar da conversão dos dominantes ser mais fácil, mas não isenta de riscos, a recuperação dos submissos revelar-se-á um duro desafio. O cão urbano, aquele que sobrevive diariamente a 10 ou mais horas de isolamento, que sai esporadicamente à rua em curtos intervalos de tempo, ao ser privado da excursão e do ensino por ela facultado, engorda, mostra menor disponibilidade, resiste à liderança e sente-se mais seguro dentro de casa, o que é compreensível. A situação de muitos é ainda agravada por ocasião das férias familiares, já que irão ser desalojados do seu território e arrancados do seu grupo, desterrados para um hotel dito “convidativo” e por certo conveniente.
Se é a componente social canina que possibilita a utilização dos cães, verdade insofismável e por todos reconhecida, a inutilidade dos cães resultará, maioritariamente, do seu desprezo ou desaproveitamento. O isolamento imposto aos cães é um parceiro de cãs nas escolas caninas, porque a ausência da sociabilização que obriga à obediência é um desacato típico da falta de preparo dos donos e do isolamento dos cães. Também não constitui qualquer novidade, que a maioria dos problemas apresentados ao adestramento resulta de questões relativas ao viver social dos cães, causadas pela irresponsabilidade humana, quer por ignorância, desrespeito, intenção ou abuso. Na actualidade não há falta de informação, o que está em défice é a procura de esclarecimento. A lei relativa aos cães perigosos disso dá mostras e sanciona assim o despreparo da liberdade individual de alguns, mais apostados na predação do que na fraternidade universal. E porque a questão é antropológica e o assunto remete-nos para os cães, importa dizer que o sucesso do adestramento assenta sobre o aproveitamento e compreensão do particular social canino, conhecimento prévio que possibilitará o uso da regra sem atropelos e que evitará os transtornos advindos da coerção.
O homem actual precisa de reaprender o convívio com os cães, dar seguimento ao trabalho das muitas gerações passadas, emprestando a esse relacionamento uma permuta mais equitativa e menos lesiva para os animais. Para que isso aconteça é necessário evitar o isolamento canino, atingir a coabitação e proceder à capacitação dos cães. Não basta ter como os sustentar, eles exigem tempo, reclamam pela nossa presença e obrigam a algumas alterações, factores a considerar diante do seu bem-estar social. Antes de adquirir um cão, verifique se tem disponibilidade para isso e se os seus também a têm, porque a infelicidade de uns não traz à felicidade aos outros e o cão é um projecto colectivo e familiar. Não basta gostar, há que honrar! Convém saber com o que contar.
Quando se fala em bem-estar animal, devem também ser salvaguardados os aspectos sociais próprios de cada espécie, porque cada uma delas vive e come para sobreviver, usando a energia assimilada para o desempenho que lhe é natural, segundo as suas características, de acordo com os seus interesses e dentro do habitat que lhe peculiar. Quando se trata de cães, não podemos entender esse bem-estar debaixo de uma política exclusiva de “gordos e reluzentes”, porque eles têm outras necessidades imprescindíveis, que sendo-lhe vetadas, contribuirão para uma menor qualidade de vida, obstarão ao seu aprendizado e votá-los-ão ao subaproveitamento. O particular social do cão não pode ser ignorado e o seu sentimento gregário ignorado, porque ele nasceu para o trabalho de equipa e espera dos donos aquilo que o matilha lhe daria. A maior ou menor capacidade de um cão, que é também adquirida, será sempre advinda da qualidade dos seus mestres, porque ele procura aprender e busca o seu lugar dentro do escalonamento social, um lugar que lhe permita sentir-se bem consigo próprio.
Se a proliferação de líderes pode relegar o cão para a base da pirâmide social e condená-lo ao lugar destinado aos mais fracos, submissos e inibidos, o isolamento desconcerta-o e entrega-o aos seus fantasmas, porque o ostracismo forçado, uma vez instituído e aceite, causa-lhe a maior das confusões e entrega-o aos poucos instintos inatos, tornando-o desconfiado, de menor préstimo e resistente ao futuro trabalho de equipa. Assiste-se à troca de alvos nos cães que sempre viveram amatilhados e que nunca usufruiriam do redireccionamento humano, guerreando entre si e desprezando a defesa do território. Nesta situação, apesar da conversão dos dominantes ser mais fácil, mas não isenta de riscos, a recuperação dos submissos revelar-se-á um duro desafio. O cão urbano, aquele que sobrevive diariamente a 10 ou mais horas de isolamento, que sai esporadicamente à rua em curtos intervalos de tempo, ao ser privado da excursão e do ensino por ela facultado, engorda, mostra menor disponibilidade, resiste à liderança e sente-se mais seguro dentro de casa, o que é compreensível. A situação de muitos é ainda agravada por ocasião das férias familiares, já que irão ser desalojados do seu território e arrancados do seu grupo, desterrados para um hotel dito “convidativo” e por certo conveniente.
Se é a componente social canina que possibilita a utilização dos cães, verdade insofismável e por todos reconhecida, a inutilidade dos cães resultará, maioritariamente, do seu desprezo ou desaproveitamento. O isolamento imposto aos cães é um parceiro de cãs nas escolas caninas, porque a ausência da sociabilização que obriga à obediência é um desacato típico da falta de preparo dos donos e do isolamento dos cães. Também não constitui qualquer novidade, que a maioria dos problemas apresentados ao adestramento resulta de questões relativas ao viver social dos cães, causadas pela irresponsabilidade humana, quer por ignorância, desrespeito, intenção ou abuso. Na actualidade não há falta de informação, o que está em défice é a procura de esclarecimento. A lei relativa aos cães perigosos disso dá mostras e sanciona assim o despreparo da liberdade individual de alguns, mais apostados na predação do que na fraternidade universal. E porque a questão é antropológica e o assunto remete-nos para os cães, importa dizer que o sucesso do adestramento assenta sobre o aproveitamento e compreensão do particular social canino, conhecimento prévio que possibilitará o uso da regra sem atropelos e que evitará os transtornos advindos da coerção.
O homem actual precisa de reaprender o convívio com os cães, dar seguimento ao trabalho das muitas gerações passadas, emprestando a esse relacionamento uma permuta mais equitativa e menos lesiva para os animais. Para que isso aconteça é necessário evitar o isolamento canino, atingir a coabitação e proceder à capacitação dos cães. Não basta ter como os sustentar, eles exigem tempo, reclamam pela nossa presença e obrigam a algumas alterações, factores a considerar diante do seu bem-estar social. Antes de adquirir um cão, verifique se tem disponibilidade para isso e se os seus também a têm, porque a infelicidade de uns não traz à felicidade aos outros e o cão é um projecto colectivo e familiar. Não basta gostar, há que honrar! Convém saber com o que contar.
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