terça-feira, 22 de janeiro de 2019

OS CARROS DO SADDAM E OS CÃES AO DEUS DARÁ

A maioria de nós já se esqueceu Saddam Hussein Abd al-Majid al-Tikriti, o sunita que governou o Iraque com mão pesada de 16 de Julho de 1979 a 09 de Abril de 2003 e que acabou enforcado. Aquando da sua queda, segundo pudemos ver na televisão, multidões invadiram os seus palácios e pilharam-nos como lhes deu na gana. De tudo o que me foi dado a ver, o que mais me marcou foi o roubo das rodas dos seus luxuosos carros, que acabaram inesperadamente como rodados para carroças, desperdício só compreensível diante da miséria da maior parte dos iraquianos. Sem saber muito bem porquê, sempre que vejo algo mal-empregado ou parcialmente desleixado lembro-me deste episódio.
Nunca nos cansámos de dizer e vamos continuar a dizê-lo: profunda asneira e grande desperdício é entregar para alguém um cão de variedade recessiva a quem não teve experiência prévia num de variedade dominante. E isto porquê? Porque a maior parte dos cães recessivos têm particularidades ocultas nos dominantes, diferenças que exigem conhecimento e outros cuidados, tanto na selecção como na criação e no treino, que podem inclusive manifestar uma curva de crescimento ligeiramente diferente à adiantada pelo Estalão da sua raça. Não é incomum que diferentes variedades cromáticas, dentro da mesma raça, apresentem diferentes aptidões e até comportamentos, o que torna as recessivas próprias para especialistas e não para adeptos do “Tutti Frutti”.
As diferenças que aqui adiantámos estão directamente ligadas a maiores ou menores curvas de crescimento, que por sua vez se encontram sujeitas ao alcance das diferentes maturidades, condições que normalmente trazem implicações físicas, cognitivas e sociais, quando os cães recessivos não são entendidos tal qual são. Para se criar um cachorro destes importa reconhecer o seu particular, acompanhar os seus ciclos infantis irrepreensivelmente e tirar partido das suas mais-valias, para que o desenvolvimento físico acompanhe o cognitivo e o animal cresça harmoniosamente. Quando a um cachorro de variedade precoce é sonegada a interacção que exige, é mais do que natural que deixe de comer. Por outro lado, os cachorros precoces quando empurrados para o convívio com cães adultos, submetem-se aos outros e tendem a ter um comportamento esquivo, particularmente as fêmeas, porque de pronto aceitam o peso da hierarquia.
Os cachorros de variedade recessiva precoce não podem ser tratados como os dominantes da mesma idade, o que a acontecer travará o seu progresso cognitivo, torná-los-á mais instintivos e menos interessados, vindo a enveredar fácil e naturalmente pelos caminhos da manha, cuja origem é ambiental e não genética (os cães manhosos são maioritariamente recrutados entre os mais espertos não-identificados). Sim, os cães negros não são para todos e nunca o foram! Aqui há uns anos atrás, um treinador da Cidade do Porto a quem foi confiado um cachorro CPA negro para ensinar, não sabendo nada sobre esta variedade recessiva, teve uma atitude que me deixou boquiaberto: telefonou-me, confessou a sua ignorância neste particular e pediu-me subsídios. Como seria de esperar, acabou por receber a ajuda que precisava pelo interesse manifesto. Se tem um cachorro de variedade recessiva precoce e precisa de ajuda, não hesite e contacte-nos quanto antes, porque amanhã poderá ser tarde demais.

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