A maioria de nós já se
esqueceu Saddam Hussein Abd al-Majid al-Tikriti, o sunita que governou o Iraque
com mão pesada de 16 de Julho de 1979 a 09 de Abril de 2003 e que acabou
enforcado. Aquando da sua queda, segundo pudemos ver na televisão, multidões invadiram
os seus palácios e pilharam-nos como lhes deu na gana. De tudo o que me foi
dado a ver, o que mais me marcou foi o roubo das rodas dos seus luxuosos
carros, que acabaram inesperadamente como rodados para carroças, desperdício só
compreensível diante da miséria da maior parte dos iraquianos. Sem saber muito bem
porquê, sempre que vejo algo mal-empregado ou parcialmente desleixado lembro-me
deste episódio.
Nunca nos cansámos de
dizer e vamos continuar a dizê-lo: profunda asneira e grande desperdício é
entregar para alguém um cão de variedade recessiva a quem não teve experiência
prévia num de variedade dominante. E isto porquê? Porque a maior parte dos cães
recessivos têm particularidades ocultas nos dominantes, diferenças que exigem
conhecimento e outros cuidados, tanto na selecção como na criação e no treino, que
podem inclusive manifestar uma curva de crescimento ligeiramente diferente à
adiantada pelo Estalão da sua raça. Não é incomum que diferentes variedades
cromáticas, dentro da mesma raça, apresentem diferentes aptidões e até
comportamentos, o que torna as recessivas próprias para especialistas e não
para adeptos do “Tutti Frutti”.
As diferenças que aqui
adiantámos estão directamente ligadas a maiores ou menores curvas de
crescimento, que por sua vez se encontram sujeitas ao alcance das diferentes
maturidades, condições que normalmente trazem implicações físicas, cognitivas e
sociais, quando os cães recessivos não são entendidos tal qual são. Para se criar
um cachorro destes importa reconhecer o seu particular, acompanhar os seus
ciclos infantis irrepreensivelmente e tirar partido das suas mais-valias, para
que o desenvolvimento físico acompanhe o cognitivo e o animal cresça
harmoniosamente. Quando a um cachorro de variedade precoce é sonegada a
interacção que exige, é mais do que natural que deixe de comer. Por outro lado,
os cachorros precoces quando empurrados para o convívio com cães adultos,
submetem-se aos outros e tendem a ter um comportamento esquivo, particularmente
as fêmeas, porque de pronto aceitam o peso da hierarquia.
Os
cachorros de variedade recessiva precoce não podem ser tratados como os
dominantes da mesma idade, o que a acontecer travará o seu progresso cognitivo,
torná-los-á mais instintivos e menos interessados, vindo a enveredar fácil e
naturalmente pelos caminhos da manha, cuja origem é ambiental e não genética
(os cães manhosos são maioritariamente recrutados entre os mais espertos
não-identificados). Sim, os cães negros não são para todos e nunca o foram!
Aqui há uns anos atrás, um treinador da Cidade do Porto a quem foi confiado um
cachorro CPA negro para ensinar, não sabendo nada sobre esta variedade
recessiva, teve uma atitude que me deixou boquiaberto: telefonou-me, confessou
a sua ignorância neste particular e pediu-me subsídios. Como seria de esperar,
acabou por receber a ajuda que precisava pelo interesse manifesto. Se tem um
cachorro de variedade recessiva precoce e precisa de ajuda, não hesite e
contacte-nos quanto antes, porque amanhã poderá ser tarde demais.
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