segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

A NOVA CORRIDA AO ÓPIO

Um novo estudo realizado por investigadores da Universidade da Pensilvânia (Penn Vet), EUA, primeiro publicado na revista JAMA Open Network e liderado por DANA CLARKE, professora assistente desta mesma universidade, indicia que os norte-americanos poderão estar a consumir cada vez mais analgésicos opióides que são prescritos para os seus cães, já que o aumento da prescrição canina destes medicamentos tem acompanhado a sua actual epidemia em terras americanas. Em simultâneo, a mesma equipa constatou que alguns opióides destinados aos animais de estimação estão a ser consumidos pelos seus donos.
Apostada na compreensão e dimensão deste problema, a equipa de investigadores analisou todas as pílulas e adesivos opióides prescritos e distribuídos para animais de estimação, incluindo cães (73%), gatos (23%) e outros pequenos animais (cobras, coelhos e pássaros), focando-se sobre quatro opióides durante o período do estudo: tramadol, hidrocodona, tabletes de codeína e adesivos de fentanil. O estudo ocorreu entre Janeiro de 2017 e Dezembro de 2017 e os resultados revelaram que o número de visitas ao veterinário aumentou 13% ao ano, mas o aumento nas receitas de opióides aumentou 41% ao ano?!
A pesquisadora sénior Jeanmarie Perrone (na foto abaixo), professora de medicina de emergência e directora de toxicologia médica da Penn Medicine, disse num comunicado: “Como estamos vendo, a epidemia de opiáceos continua a aumentar e estamos a identificar outras fontes do possível consumo humano e uso indevido. Mesmo quando o aumento de opióides veterinários prescritos é bem-intencionado pelos clínicos, isso pode significar uma chance maior para que as sobras dos comprimidos venham mais tarde a ser mal utilizadas pelos membros da família, vendidos ou desviados, colocando também em risco as crianças mais pequenas por exposição não intencional”. De acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), os Estados Unidos estão actualmente debaixo de uma epidemia consumista de opiáceos. Entre 1997 e 2017 houve ali mais de 400.000 mortes devido a doses de medicamentos e as mortes por overdose de opiáceos sextuplicaram no mesmo período.
A Dr.ª Perrone disse ainda que apesar de até ao momento não se conhecer o número exacto de pessoas que incorrem no uso indevido destas drogas, há razão suficiente para preocupação, alvitrando a hipótese de haver uso não intencional ou indevido entre adolescentes e crianças em casa, através das pílulas que sobram, podendo ser estas uma das razões por detrás da actual crise de opióides que tomou conta dos Estados Unidos. Para travar esta dependência, a mesma Dr.ª Perrone defende cortes nas prescrições de opióides e a sua substituição por anestésicos locais, assim como evitar o uso prolongado destes fármacos alcalóides, nomeadamente a hidrocodona que é usada no tratamento da tosse crónica. Entende também esta professora que devem ser fornecidas informações ao público sobre o armazenamento, as drogas alternativas aos opióides e o descarte seguro das pílulas que sobrarem.
Em Agosto, Scott Gottlieb (na foto seguinte), Comissário da Administração de Alimentos e Medicamentos dos Estados Unidos, disse através de um comunicado que os opióides prescritos pelos veterinários tinham potencial para levar ao vício, abuso e overdose dos humanos que os desviem para seu o próprio uso, que importa ser criterioso na prescrição de opiáceos, encontrar-lhes alternativa e instruir os proprietários sobre o seu armazenamento e descarte após o uso, recomendando ainda que os prescritores aderissem aos regulamentos de prescrição locais, federais e aos padrões da American Veterinary Medical Association.
Nesta matéria, o que é valido para os americanos é também válido para nós, muito embora tenhamos menor predisposição para incorrer no grau e número dos seus disparates, o que não significa que não tenhamos por cá gente igual e que o seu número não venha a aumentar. A propósito, mantenha todo e qualquer medicamento longe das crianças e dos cães, em locais longe da sua vista e onde não possam chegar-lhes. Todo o cuidado é pouco, pois já vi um cão a comer 50 comprimidos de VMP de uma assentada.
Para cúmulo, na última Sexta-feira e durante a minha ausência, o meu cachorro CPA negro abriu a porta da cozinha e entrou-me pela casa dentro, o camarada parece ter qualquer parentesco com o Houdini, empoleirou-se na mesa da sala e zarpou para o quintal com a minha bolsa de medicamentos, que apesar de ter um fecho éclair, ele conseguiu abrir, vindo depois a trincar todos os comprimidos que encontrou. Como a sorte parece proteger os audazes e este é perito em golpes de mão, da façanha resultou apenas uma diarreia monstra que felizmente já foi ultrapassada. Podia ter sido bem pior!

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