Pela manhã em Portugal há
três grupos de pessoas que não dispensam os noticiários: um primeiro grupo que
apenas quer saber a quantas anda; um segundo que se quer inteirar das
iniciativas do “estado providência” e um terceiro que procura ocasiões de
negócio. Obviamente que o primeiro grupo é o maior, porque nele podemos incluir
o grosso dos aposentados e os parcos em iniciativa. O segundo grupo mais
numeroso, ligado à população trabalhadora, grande parte dela suportada pelo
Estado, espera dele um milagre económico que possibilite o aumento dos salários.
O grupo mais pequeno, diga-se diminuto, é o que procura ocasiões de negócio (árdua
tarefa num mundo cada vez mais competitivo), que alberga os que por iniciativa
própria e sem salário garantido, ainda conseguem dar emprego a muitos, o que
não os isenta da histórica maledicência e da feroz inveja populares. Dava-nos
jeito ter mais e melhores empresários, pois ainda não nos livrámos do declínio
sofrido no Séc. XVII, talvez de meia-dúzia de judeus descendentes dos muitos
que o “Venturoso” (1) daqui expulsou e que
os políticos desta II República, em vão e descaradamente, tentam aliciar ao restituir-lhes
a nacionalidade, já que grande parte da prata da casa, enquanto manifesta o seu
pranto e espera milagres, rende-se às mais variadas paixões, destacando-se das
usuais o elevado consumo de ansiolíticos e antidepressivos, o que parece provar
que as paixões em matéria de felicidade são pouco fecundas.
Em simultâneo, noutro canto
do mundo, um jovem vindo do “quase nada” aproveita aquilo que o sistema tem
para dar-lhe e começa a construir um império. Os já instalados procuram acompanhar
as drásticas mudanças que acontecem no mundo a uma velocidade vertiginosa e espreitam
novas oportunidades de negócio, porque se não se adaptarem perdem o direito à existência.
Neste momento os cães e tudo o que lhes diz respeito são uma excelente oportunidade
de negócio no mundo do lado de cá, porque estão a tomar o lugar das crianças e nenhum
pode ser abatido. Atentas ao que se passa na sociedade, as grandes multinacionais
começam a desenvolver serviços e a vender produtos para os nossos amigos de
quatro patas, cada vez mais presentes nos nossos lares. Chegou a vez do
Starbucks, empresa multinacional norte-americana, com a maior cadeia de cafetarias
do mundo, agora com um inovador lanche para cães – o Puppuccino, que é gratuito,
invisível no menu, destinado somente a cães e que consiste num copo de papel do
tamanho de um café expresso cheio de chantilly. De acordo com o atendimento ao
cliente da Starbucks, o “Puppuccino” é composto de leite, Mono e Diglicéridos de
ácidos gordos (que funcionam como emulsionante) e Carragenina (polissacarídeo
linear sulfatado obtido a partir de extractos de algas marinhas vermelhas
conhecidas por algas carraginófitas) que segundo a mesma fonte garante que o
líquido permaneça misturado. O valor calórico do Puppuccino é de 50 a 110
calorias e o seu indíce de gordura vai de 5 a 11 gramas.
Apesar
da mistela ser do agrado dos cães, o que não me espanta, porque já vi alguns a
comer o cocó dos outros, resta saber se ela é ou não indicada para os cães, se
o seu consumo continuado irá causar-lhes ou agravar-lhes alguns problemas de
saúde. Quanto às intenções da Starbucks não restam dúvidas – ela quer ter na
sua carteira de clientes o avultado número de proprietários caninos. Estou
convencido que esta inovação irá ser replicada vezes sem conta e que muito em
breve terá séria concorrência. Os cães parecem ser um negócio com futuro e
estão já hoje a oferecer emprego a muita gente. Depois da Land Rover, da
General Motors e do Starbucks, qual será o freguês que se segue? Desde que vi
Franciscanos a abençoar cães não arrisco pronunciar-me!
(1)Cognome de D. Manuel I, Rei de Portugal de
1495 a 1521, que assinou a 5 de Dezembro de 1496 o decreto de expulsão dos judeus,
concedendo-lhes prazo até 31 de Outubro de 1497 para que deixassem o país.
Depois disso, ou a conversão à força ou o desterro.
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